XXI

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Passei a receber flores em casa e aquela situação me tirava do sério. Por mais que eu considerasse impossível que alguém do meu trabalho soubesse o meu endereço, passei a supervisionar de perto o setor de RH, enfatizando o sigilo das informações pessoais de cada empregado e isso incluía a mim.

Por um momento imaginei que os fantasmas do passado estavam voltando para me assombrar, afinal de contas, o Oswaldo, o professor de educação física, já havia conseguido sua liberdade e poderia querer se vingar de mim mais uma vez.

Após algumas semanas, decidi contratar um detetive particular e descobri que o tal estagiário estava fazendo campana na porta do meu prédio e que sabia praticamente todos os meus passos. Ele me observava na academia, no restaurante que eu almoçava diariamente e até passou a frequentar a minha massagista. Fui informada de que deveria tomar cuidado e o meu sensor de alerta se acendeu.

Achei adequado não ficar sozinha e fiquei grata quando o John se ofereceu para passar um tempo comigo, o que fez com que a Joyce se afastasse definitivamente de mim, sentindo-se traída e enganada. Nunca entendi as mulheres que vivem suas vidas construindo castelos com os príncipes dos outros e quando digo isso nem é falando por mim. Ele não queria nada com ela e sempre fez questão de deixar claro que o que rolava entre eles era totalmente casual.

Nós, eu e o John, nunca tivemos um caso ou algo parecido e, apesar de eu notar que ele tinha uma certa tendência a me proteger, apenas nos fazíamos companhia e ele realmente andava preocupado comigo. Foi uma das pessoas mais importantes que já cruzaram o meu caminho. Gratuitamente ele cuidava de mim e me fazia sentir amparada sem pedir nada em troca.

Me dei duas semanas de férias após a descoberta de que o ex-estagiário estava me perseguindo, mas, ao invés de sair de São Paulo e buscar refúgio em algum lugar seguro, decidi me trancar em casa, o que só piorou as minhas paranoias em relação ao sexo masculino.

E paranoias é o caramba. Dizem que o mesmo raio não cai duas vezes no mesmo lugar e eu, pela 2ª vez estava vivendo o terror de ser assediada, quase abusada sexualmente. O que será que eu estava fazendo de errado para merecer isso? Será que havia algo nas minhas roupas? Na minha postura? Será que de alguma forma eu incitava essa ação nos homens? Minha cabeça estava a ponto de explodir e foi nesse momento de fragilidade que precisei dividir minhas experiências com o John.

Ele estava sempre presente e mal nos tocávamos. Não queria que ele se sentisse rejeitado, mas era exatamente o que estava acontecendo, já que as minhas negativas eram constantes até mesmo quando ele se oferecia somente para ver um filme abraçado comigo. Não estava sendo receptiva nem aos carinhos mais corriqueiros.

- É claro que eu não quero que você vá embora, John! Juro que não é nada com você. Pelo amor de Deus, não piore as coisas para mim.

- E o que é que está acontecendo, Brisa? Sempre fomos amigos, não fomos? Confie em mim. Sei que tem alguma merda das grandes rolando na sua vida e você não divide isso com ninguém. Até quando vai aguentar segurar essa porra toda sozinha?

- Eu só não quero que você ache que não é importante para mim. Nesse momento da minha vida eu só tenho você e odiaria te ver ir embora.

- Pois tenha certeza que se você não falar agora, saio por aquela porta e não volto nunca mais.

A tempestade havia voltado para a minha vida, enfurecida, desesperada, e pela 2ª vez na vida me vi obrigada a falar. Não conseguia disfarçar. Ele notava que eu enrijecia cada vez que ele se aproximava de mim e eu precisei desabafar tudo o que estava acontecendo para que ele não forçasse a barra em um lampejo de fraqueza... para que não insistisse nas carícias fora de hora e, principalmente, para entender que ele não teria de mim mais do que uma amizade sincera.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora