Passei a semana inteirinha doente. Tive febre alta, perda de apetite e se já estava magra antes, ao final dessa ressaca emocional que abalou o meu físico eu é que parecia uma defunta. Mais osso do que pele, olheiras profundas, rouca e sem energia nem para tomar banho sozinha. A Lisa estava tão preocupada que me levou na emergência na tarde da quinta-feira e terminei passando horas com uma agulha enfiada no meu braço. Claro que o médico insinuou que eu devia ter pego uma virose, mas eu sabia que o meu problema era outro.
Ele não me procurou.
Quer dizer, não no mesmo dia. Na madrugada da sexta-feira, noite que antecedia o seu grande dia, bêbado como um gambá, ele resolveu dar sinal de vida. Chorou ao telefone e implorou que eu fosse até ele.
Ponto 1: Quem foi que inventou essa expressão, minha gente? Desde quando gambá bebe? O cara faz uma cagada e o bichinho leva a fama. Vamos tratar de mudar esse ditado popular...
Ponto 2: Acho que no auge da sua embriaguez ele deve ter esquecido que estávamos separados por 1.966 km, uma aliança e uma barriga.
Ponto 3 e não menos importante: Chorar não remenda pedaços e só fez alimentar a minha raiva pela fraqueza dele. Tudo bem que existia uma criança no meio de toda a situação, mas ela não foi parar dentro da barriga da moça por obra do Divino Espírito Santo.
Ele tentou me explicar que foi vítima de um golpe, mas eu até que entendo a situação da mulher que estava sendo enrolada por sete anos. Ela deve ter imaginado que era a sua única saída, isso considerando que ele esteja falando a verdade quanto a surpresa em saber que seria pai. Sim, porque depois de tantas pequenas omissões, é inevitável colocar em xeque todas as outras situações contadas.
Fiz tanta piada por minha irmã ter amarrado o Juarez e o Giorgio, tão maduro e tão safo, isso para não dizer safado, parecia ter caído na mesma armadilha.
Não havia perguntado se já sabia se era menino ou menina, se ao menos ele estava feliz pela chegada da criança. Não havia cogitado a possibilidade de isso vir a acontecer comigo e depois dessas duas histórias paralelas na minha vida, decidi que "ser mãe" era um plano que se chegasse, seria numa circunstância bem diferente da deles.
Não sou uma criatura que defende o amor acima da razão. Se for para ser feliz amando, ótimo. Se for para ser infeliz por amar, passar bem. Existe uma dezena de formas, ou mais, de me sentir realizada e em nenhuma delas configuro necessária a presença da figura masculina na minha vida. Nem mesmo para o sexo. Aliás, o sexo ficou bem resolvido somente com ele e isso é uma grande merda. Conheci alguns rapazes na minha estada em São Paulo e com nenhum deles o lance desenrolava como com o Giorgio. Geralmente nem chegava a rolar. No primeiro beijo eu já assinava a sentença do moço e optava por permanecer com minhas lembranças, ao invés de dar a oportunidade de uma relação estável, saudável e carregada de novas promessas.
Por anos fui uma especialista em primeiros encontros, mas vamos começar do começo.Assim que completei 18 anos, fiz questão de voltar para casa para ter uma conversa séria com meus pais. O que eu ganhava era suficiente para me bancar e ter uma vida relativamente confortável. De início eu arrumei um flat de 42m² e acreditem que ele cabia perfeitamente na vida que eu gostava de levar. Almofadas espalhadas no chão da sala, pilhas de livros, quadros coloridos e o único ambiente que tinha um móvel de verdade era o quarto. Minha cama era grande e vivia cheia de travesseiros já que não tinha onde guarda-los, pois até o meu armário era improvisado com ararás de expositores daqueles que a gente encontra em lojas de departamento. Essa informalidade dava ao meu cantinho uma identidade tão minha, tão pessoal, que eu fazia questão de dizer que não curtia receber as pessoas em casa, simplesmente porque aquele era o meu templo, o meu lugar no mundo. Não queria ninguém perguntando porque eu não comprava um sofá ou como alguém conseguia sobreviver sem um fogão de verdade, já que eu tinha um pequenininho daqueles de duas bocas. Ah! Eu tinha uma geladeira também e isso porque eu poderia viver sem comida, mas jamais sobreviveria sem sorvete. Sério mesmo... na minha dispensa podia até ter um ou dois pacotes de biscoito integral e macarrão instantâneo, às vezes tinha maçã, kiwi e tangerina, mas sorvete... isso tinha sempre.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Adeus, tempestade
RomansaEsse livro será retirado no dia 1º de março de 2022 e ficará disponível apenas os primeiros capítulos para degustação!! Vou dando notícias sobre lançamento e vendas pelas minhas redes sociais. Adicionem o renatadia_autora no instagram para mais info...