XXXII

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Acordei com o Tofu emaranhado nos meus cabelos. Onde será que ele passou a noite? Me mexi e ele me encarou como se perguntasse quem era aquele ser deitado ao meu lado. Sorri fazendo cócegas na sua barriga e ele se espreguiçou esticando as patas. O Caleb estava quieto, até então, mas foi só me ver acariciando o bichano que se pronunciou.

- Acho um desaforo esse bicho ganhar carinhos antes de mim. Tenho prioridades nessa zorra dessa cama!

- Já te falei que ele chegou primeiro. – Retruquei sorrindo.

- E eu já disse que discordo. Vou colocar o pires de iogurte para ver se ele sai correndo daqui e nos dá espaço para um beijo de bom dia do jeito que eu acho que mereço.

Ele levantou, nu, não exatamente como veio ao mundo, afinal de contas, toda aquela estatura precisou de muitos anos para se formar, e abriu o frigobar pegando a primeira parte do café da manhã do Tofu. Serviu e levou até o quarto para atraí-lo para fora, tática que não surtiu o resultado esperado.

- Venha, gatinho gordo. Olha que delícia... era o só o que me faltava começar a conversar com um gato.

O bichano se arrepiava inteiro, notoriamente estressado.

- Você tem que convencê-lo, Caleb. Nunca teve animais de estimação?

- Meus pais não me deixavam nem sonhar com essa possibilidade e depois de adulto nunca pensei sobre isso. Ainda mais sendo gato que é um bicho super esquisito. Olha como ele é antissocial! Estou aqui tentando fazer amizade e ele simplesmente me ignora.

- Você está querendo enrolá-lo e ele já percebeu isso.

- Só queria saber por onde foi que ele entrou aqui.

- Vamos lá, Tofu. Deixa eu te levar para comer antes que esse mau humor se instale entre nós sem remediações.

Ele cravou as unhas na cama e deu um certo trabalho driblar a sua agilidade, mas consegui. Havia me enrolado no lençol e quando retornei trancando a porta e deixando-o na sala, me deparei com um homem deitado, braços esticados relaxadamente sobre as cabeças e uma imensa e convidativa ereção.

O que eu queria fazer? De verdade? Passar a língua por toda a extensão e assistir ele se contorcendo, sendo dominado por mim.
O que eu fiz? Passei direto para o banheiro, escovei os dentes e lavei o rosto tentando ganhar um pouco mais de tempo.

- Brisa, algum problema?

- Não. Estou só fazendo um negócio aqui.

- Posso fazer esse negócio com você?

- Claro que não! E onde é que fica a minha privacidade?

Ele abriu a porta sem ser convidado e eu estava sentada sobre a privada fechada.

- Meditação matinal?

- Eu... só preciso de um tempo.

- Para quê exatamente?

- Para voltar lá e conversar com você.

Ele saiu e ouvi quando abriu a mala. Corri em sua direção e ele estava começando a se vestir. Achei aquela postura imediatista um tanto quanto infantil, mas considerei racionalmente que as pessoas reagem de forma diferente diante de cada situação.

- Você vai embora?

- O que você acha? Falei que não queria precipitar as coisas, que sabia que não seria fácil para você e, pelo que pude perceber, você se arrependeu. Não quero atrapalhar a sua viagem... melhor eu ir embora.

- Você está entendendo tudo errado!

- Então me explique, porra! Seja clara e não me deixe sem saber o que está rolando. Você é cheia de mistério e eu não quero encher seu saco e te pressionar, mas porra, dorme comigo depois de fazermos amor e acorda fugindo de mim? O que você quer que eu pense?

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora