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Chegamos na pousada e comuniquei para a dona Gilda que entraria mais uma pessoa no meu quarto e que no check out acertaria a diferença do valor. Muito provavelmente notando a minha apreensão, ela disse que fossemos aproveitar o dia, mas que, antes disso, teríamos apenas que preencher a ficha de hóspede, já que era uma norma da casa e que garantia a segurança de todos. O Alvarez, quer dizer, o Caleb, concordou com ela, que já ganhou a sua simpatia por estar fazendo o que é certo mesmo diante de um casal enamorado, e isso sem contar que ele é um delegado e jamais se negaria a cumprir as regras do estabelecimento. Quando deixávamos a recepção ela gritou que eu teria que expulsar o outro hóspede que havia se enfiado no meu chalé, caso eu quisesse ter um pouco de privacidade. Sorri lembrando de quem se tratava e o Caleb não entendeu a brincadeira.

- Do que ela está falando, Brisa? Não gosto de surpresas. Se eu tivesse cogitado a possibilidade de qualquer outra pessoa, com certeza não teria me despencado até aqui atrás de você. Ou é o John que está aqui? Sério que é isso?

Sorri pedindo que ele me acompanhasse. Ele não entendeu nada e continuou resmungando até que abri a porta e fui atingida por uma bola de pelos alvos.

- Tofu!!

Ele ronronou passando a cabeça pelo meu pescoço e perscrutou o Caleb, desconfiado.

- Eu não sabia que você tinha um gato.

- Eu não tenho. Ele é da pousada, mas não consegue sair de perto de mim.

- O que será que você tem que deixa todo mundo enfeitiçado por você?

Aquela frase não havia soado romântica como acredito que fosse a intenção, mas tentei atropelar o dissabor.

- Ele é carente e eu sou louca por gatos. Acho que eles sentem a energia das pessoas e assim ficam mais à vontade com uns, enquanto repelem outros.

- Acho que nós vamos ter que bater um par ou ímpar, bichano.

Todos os pelos do Tofu se eriçaram e ele chiou irritadiço.

- Acho que ele não gostou muito de você.

- Sinto que vou ganhar um inimigo, mas nesse momento, estou em desvantagem. Ele passou a noite passada com você e eu tenho direito a pelo menos um empate.

Sorri deixando-o no chão. O visitante recém-chegado entrou observando o aconchegante ambiente e deixou uma pequena mala sobre o sofá. Apanhou-me pela cintura e suspendeu-me pressionando o meu corpo contra a parede em um beijo arrebatador. Começou a arrancar as peças de roupa que me protegiam do frio sem deixar que os meus pés tocassem o chão.

- A porta... feche a porta.

- Se eu fechar a porta esse bicho não vai sair daqui.

- Não vou expulsá-lo daqui, Caleb. Essa é a casa dele. Vamos para o quarto e fechamos a porta até que ele se acostume com a sua presença.

Como se tivesse entendido a nossa conversa, o Tofu começou a deferir unhadas pelas calças do Caleb e eu o carreguei explicando que ele ficaria um tempinho sozinho, mas que logo eu estaria de volta. Peguei o restante dos biscoitos de polvilho que haviam sobrado da noite anterior e dei para que ele se distraísse. Quando entramos no quarto e fui fechar a porta. O Caleb, cheio de gaiatice, colocou a cabeça para fora e disse:

- Ela te enganou, gorducho. Não vou deixa-la sair desse quarto e não existe nenhuma chance de dividir o nosso tempo com você...

- Caleb Alvarez!! Deixe o Tofu em paz e trate de tirar a minha roupa agora!

E ele obedeceu.

Eu havia abusado de toda a minha ousadia para pedir aquilo, mas, lá no fundinho, escondido em um lugar que eu nunca tive o interesse de fuçar, pulsava um sentimento esquisito de que talvez não estivesse preparada para um passo tão rápido. Tentei abstrair a sensação e ocupar-me do homem que me envolvia com um desembaraçado ar de sedução.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora