XV

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Acordamos com uma troca de carinhos que me fez desejar, mais uma vez, permanecer na cama, mas ele cortou o clima lembrando que tínhamos três dias intensos pela frente. Me lembrou que teríamos que manter as aparências diante das pessoas e que, sendo assim, olhares insinuantes e contatos físicos de qualquer tipo, estavam expressamente proibidos. Não gostava daquela parte, mas sei que era importante para ele.

Tomamos café rapidamente e fomos para o estúdio a pé já que ele ficava na esquina, bem próximo ao nosso hotel. Todo aquele monte de gente andando de um lado para o outro. Maquiadores, cabeleireiros, fotógrafos, gente da agência, da empresa contratante, mais sete modelos, homens e mulheres... O vuco-vuco ocupava mais tempo do que o trabalho em si.

Lembrei da menina tímida e introspectiva que eu era até poucos meses atrás e me orgulhei por chegar aonde eu estava. Havia dado cada passo, confiante, e jamais, me permiti fracassar ou desistir. Não posso dizer que para isso tive o apoio dos meus pais, porque na realidade, eles não eram tão presentes e incentivadores, mas tive a diretora Ana no meio do caminho e, ela sim, havia me despertado para reconhecer o meu valor diante do espelho e diante da vida. Meus estudos eram uma prioridade, mas viver aquele momento ao lado do Giorgio também foi muito importante para mim.

Os três dias se passaram entre a correria do dia, barzinho com a turma da campanha no fim da tarde e noites regadas a muito sexo. O Giorgio não me deixou beber durante nossas saídas alegando que algum malicioso ia se tocar que até uns dias antes eu dizia que era de menor e que nunca havia consumido bebidas alcoólicas, mas me prometeu que na nossa noite de despedida eu poderia escolher o cardápio para cama, mesa e banho.

A última etapa foi finalizada às 16h e ele pediu que eu o esperasse no hotel, pois teria algumas coisas para resolver no finzinho da tarde. Aquele pedido me aborreceu porque o nosso voo era no dia seguinte às 13h e teríamos poucas horas para aproveitar juntos os últimos momentos de intimidade, já que em casa eu não teria como inventar trabalhos que me permitissem faltar aulas ou me ausentar por horas seguidas sem ter que dar satisfações detalhadas sobre o meu sumiço. Sem falar que ele tinha alguém e nós havíamos acordado que viveríamos aquele momento sem pensar no que viria depois.

No hotel aproveitei para tomar um banho demorado e me perfumar com o cheiro dele. Deitei nua, com a luz acesa e havia pensado em pedirmos algo no quarto para que eu pudesse desfrutar do seu corpo até o último minuto, mas como havíamos vivido momentos incríveis juntos, decidi pedir que ele me surpreendesse se fosse capaz.

Peguei no sono e mergulhei em sonhos profundos. Não estava acostumada com aquela maratona de compromissos e noites acordada. Minha rotina era pacata como a de uma menina estudiosa do último ano do ensino médio e a minha única preocupação, até então, era apenas cumprir o calendário letivo, já que já estava passada de ano. Essa foi uma das razões de minha mãe não poder me impedir de faltar alguns dias de aula.

Acordei com um arrepio já que "alguém" tocava o bico dos meus seios.

- Fiquei em dúvida de onde tocar, mas eles estavam pedindo por isso...

- Isso porque você não viu como eu estou "lá embaixo"...

Ele fechou os olhos e suas covinhas se acentuaram nas bochechas.

- Não temos tempo para isso agora, Tempestade tarada. Sei que havia dito que poderia planejar a nossa noite de hoje, mas já que gosta de ser surpreendida, mudei de planos e você precisa se vestir correndo. Temos exatamente 1 hora para chegarmos ao Theatro Municipal de São Paulo. O espetáculo não esperará por nós...

- Você ficou louco? Como é que vou me vestir para ir a um lugar como esse?

- Antes que você brigue comigo, quero que entre no banheiro e me diga se acertei no modelo.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora