XVI

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Após o primeiro brinde onde ele ressaltou o desejo de me ver feliz e realizada, parou agachado à minha frente suspendendo o meu vestido e fazendo com que a minha boceta ficasse exposta. Ele me beijou reforçando o significado de "inesquecível" do meu vocabulário, talvez sem imaginar que cada minuto passado ao seu lado havia sido único. Quando estava prestes a gozar, uma voz invadiu o espaço anunciando que havíamos chegado ao nosso destino. Fiquei ensandecida e o Giorgio riu dizendo que terminaria mais tarde o que havia apenas começado.

- Manda ele dar mais uma volta!

- Não é um restaurante qualquer e a reserva tem hora marcada, Brisa. Abaixa esse fogo que mais tarde vou lhe dar exatamente o que sei que você quer, mas, mais uma vez, você vai ter que me pedir, dessa vez, de joelhos.

Inacreditavelmente, estava adorando ficar de joelhos diante dele e senti a saliva dominar o interior da minha boca só em imaginar os momentos que teríamos após o jantar.

O restaurante era francês, chique e chato. Combinava com tudo o que ele havia planejado tão detalhadamente, mas eu preferia poder ficar à vontade com ele a ficar sentada empertigada falando baixo e fazendo ares de moça fina.

- A gente pode ir embora?

- Você não gostou daqui?

- Vi passando uns pratos e acho que teria que comer uns cinco para matar a minha fome.

- Ainda bem que essa viagem termina amanhã. Meu saldo bancário está gritando por socorro nesses últimos dias.

Entristeci sem pronunciar nenhuma palavra.

-Brisa, ei! Estou brincando com você. Faria tudo de novo, dez vezes, e amo essa sua espontaneidade. Você quer mesmo ir embora?

- Amanhã? Não.

- Agora... daqui.

- Desculpa, mas... quero sim.

- Vamos somente terminar nossa bebida e vamos nessa. Já estava ficando entediado com essa porra de música francesa que me lembra os jantares formais da minha mãe.

Ele já havia me contado, em uma noite dessas, que era de família rica e tradicional e que seus pais odiavam a carreira que ele havia escolhido, sugerindo que era só uma forma de ele se manter próximo dos rabos de saia torrando a fortuna da família. Seu pai queria que ele cuidasse das suas empresas e casasse com a filha do seu sócio, mas ele saiu de casa e se aventurou em descobrir beldades para estampar capas de revistas. Ele não tinha horários e nem regras, apenas vivia um dia de cada vez. Nunca havia se envolvido com uma modelo "sua" até que eu apareci na sua vida. Preferi acreditar já que ele não teria razões para omitir.

- Pois bem, madame Tempestade... agora que você conseguiu jogar água no nosso jantar, onde sugere que possamos matar a fome?

Fui até a janelinha que nos separava do motorista e pedi que ele nos levasse direto para o hotel. Chegando lá, fomos ao restaurante que já estava fechado por ser quase madrugada de um domingo. Ninguém nos viu entrar e invadi a cozinha futucando ingredientes para inventar algo rápido e gostoso somente para segurar nossa fome até o café da manhã.

Fiz omeletes com queijo, peito de peru e tomates enquanto ele beijava as minhas costas e acariciava o meu corpo com mãos sedentas. Comemos rapidamente e até ensaiamos iniciar a nossa sessão noturna de gemidos quando um rapaz entrou no recinto e nos flagrou em situação bastante constrangedora. Eu estava com o vestido suspenso até os quadris sentada sobre o colo do Giorgio e a sua calça já estava molhada de tanto que me esfreguei. Levantamos num pulo e corremos direto para a área dos elevadores.

Ele me beijou recostando-me na parede enquanto esperávamos. Um casal um pouco mais velho, que também aguardava, estava notoriamente incomodado e optou em se retirar deixando-nos a sós. Sempre achei feio esse povo desagradável que se pega na frente da plateia, mas quando a intérprete fui eu, preferi consumir o ditado de "os incomodados que se mudem".

Entramos no quarto arrancando as roupas e tive que dosar sua fúria lembrando que o meu vestido era alugado.

Transamos e fizemos amor.
Ele me saboreou e me comeu.
Eu o degustei e devorei.
Salivamos e suamos.
Gememos e gozamos.

Deliciosamente.
Doses de desejo e saudade... doidas e doídas, porém, calculadas.
Tínhamos oscilações da ternura à volúpia. Não nos saciávamos. Nossos corpos estavam exaustos, mas nossas mentes não desligavam da realidade de que o fim estava próximo. Não podia me iludir. Não cairia em mais uma armadilha e ele também não brincou com a possibilidade de ficarmos juntos. Se tudo desse certo, em menos de três meses eu estaria morando em São Paulo e na minha vida não existia nenhuma chance, nem na mais remota das fantasias, de mantermos qualquer ligação a distância. Gato escaldado tem medo de qualquer temperatura de água...

O fim estava próximo e era assim que tinha que ser. Bom enquanto durou e, se algum dia, em qualquer tempo, tivermos que estar juntos mais uma vez, acontecerá como agora. Sem planos, promessas, cobranças ou mágoas.

A segunda-feira foi melancólica e repleta de beijos profundos. A sensação que eu tive é que ele estava sofrendo mais do que eu.

Já no avião estávamos separados já que não conseguimos que trocassem os nossos assentos. Quando chegamos em Salvador meus pais me esperavam no desembarque e não tivemos a chance de nos despedir da forma como eu gostaria.

Queria muito aquele último beijo que não aconteceu e assim, sem um fim, seguimos adiante as nossas vidas...

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Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora