XXXVII

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Não faço ideia de quanto tempo se passou, mas a minha boca estava seca como se eu estivesse perdida no deserto há dias. Abri os olhos tentando acomodar-me à claridade da luz branca que brilhava diante do meu rosto. Tentei me mexer, mas uma mão me conteve pedindo que eu ficasse calma.

- John...

Eu já havia voltado a chorar. Ele me fez beber água em pequenos goles, deitou-se empurrando meu corpo para o lado e fez carinho nos meus cabelos.

- Haja maquiagem para cobrir o estrago que você provocou. Estava com a cabeça aonde?

- Tenho tantas coisas para te falar, John. Estou tão envergonhada. Você vai me odiar por tudo o que tenho para te dizer, mas não posso e nem quero deixar para depois.

- Você jura que alguma coisa é mais importante para mim do que a sua recuperação, Brisa?

- Você não vai entender, eu sei.

- Você está me fazendo parecer um daqueles homens ressentidos. Tente se acalmar porque eu quero ir embora desse lugar hoje... 48h seguidas dentro de um hospital já bateu a minha cota de cheiro de éter.

- Eu só preciso falar...

- Seja o que for, pode esperar.

- Eu estou aqui há quantos dias?

- Deu entrada ontem e os médicos preferiram que você repousasse sob observação pelo tempo que fosse necessário, mas estive no hospital ante-ontem também... Vou chamar aquele príncipe de jaleco branco para te dar alta e então vamos para casa. Acho que eu conheço ele de algum lugar e vou descobrir de onde é.

Fiz de conta que não havia assimilado o comentário de que ele estava paquerando o doutor, mas uma coisa eu sei... em dez anos, ele nunca havia falado abertamente sobre o interesse dele por homens.

- Me tire desse lugar, por favor. Tenho péssimas recordações da última vez que fui obrigada a vestir uma bata como essa...

Ele apertou um botão e em um minuto a enfermeira veio até mim tirando o acesso que dava caminho a minha veia do braço, apontando onde estavam as minhas roupas, perguntando se estava me sentindo bem para levantar. Sentei-me ambientando a todas as dores que sentia e o vento tocou as minhas costas, lembrando-me que eu estava nua por debaixo daquele traje hospitalar nem um pouco sexy, porém, totalmente vulnerável. O John virou de costas enquanto eu vestia a roupa íntima e depois ajudou a passar a camisa pela minha cabeça, evitando que tocasse em qualquer parte do meu rosto.

Reuniu todos os meus pertences, assinou toda a papelada como se fosse meu responsável e pegou uma cadeira de rodas para me levar até o carro dele. Permaneci muda por todo o caminho e ele respeitou o silêncio.

Quando chegamos no apartamento ele me deitou na cama e trocou minha roupa ensanguentada por uma camisola de algodão com botões na frente. Cobriu o meu corpo, ligou o ar condicionado e perguntou se eu queria comer alguma coisa. Eu estava com um imenso vazio no estômago, mas existia algo de mais urgente para fazer antes de tentar comer.

- John... eu preciso te contar uma coisa e preciso que você me perdoe por isso. Eu juro que não sabia de nada e...

- Você precisa que eu perdoe por você não gostar de mim e gostar do meu amigo, por ter escondido de mim o envolvimento de vocês ou por ele ter estado com você enquanto minha irmã perdia o bebê deles?

Todas as alternativas acima e nem preciso conferir o gabarito..

Recostei-me nos travesseiros deixando o corpo ereto. Lágrimas inundavam a espuma do colar cervical que fui obrigada a usar e eu não tinha vontade alguma de impedi-las de correr.

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⏰ Última atualização: Dec 06, 2017 ⏰

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Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora