XVII

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Durante os três meses que separaram a minha primeira ida para São Paulo da minha definitiva ida para São Paulo, poucas coisas aconteceram.

Terminei o ano letivo, fui para o baile de formatura de conclusão do 2º grau sem acompanhante, vale a ressalva de que foi por opção minha e que, mesmo assim, dancei a noite inteirinha. Nunca quis ser popular, mas pelos acontecimentos que antecederam a festa, pude perceber que as pessoas realmente dão muito valor para o que sai na mídia. Uma pena...

Logo no início das férias e já com praticamente tudo arrumado para a minha partida, fui forçada a passar um fim de semana na fazenda da família do Juarez, o "noivo" da Sabrina. Pois é... Lembram que eu falei que ela ia dar o golpe no moço? Sabrina ficou grávida e as famílias acharam melhor acertar os preparativos para o casório dos dois.

Na vida real, eu adoraria ficar uns dias sozinha em casa, mas ultimamente está rolando uma onda de assaltos na vizinhança e meus pais me forçaram a ir com eles. Ok... Não seria um sacrifício enorme, já que eu adoro animais e soube que eles têm cavalos incríveis, mas brindar pela Sabrina? Sou uma moça de bom coração, mas em se tratando da minha irmã, fica difícil comemorar algo por ela. Fechei os olhos, carreguei um monte de livros e fui...

Assim que chegamos fomos encaminhados para os nossos quartos e apesar da situação da "pobre mocinha", meu pai não deixou que ela dormisse com o noivo. Só depois que estivessem devidamente casados é que eles poderiam dormir juntos. Será que alguém poderia lembra-lo de que o fato já aconteceu e que ele será vovô? Deus me perdoe, mas eu nem duvidava que esse filho fosse de outro... Do jeito que a Sabrina ciscou nos últimos anos, não seria nenhuma surpresa se essa criança fosse filha do vizinho. Ah! Que é casado e que ela realmente manteve um caso.

O resultado do veto foi que mais uma vez eu tive que dividir o quarto com ela. Nem assim eu me via livre daquela cobra. A grande diferença é que, sei lá se foram os hormônios ou se ser mãe mexeu com ela, mas ela estava uma seda. Enjoava o tempo inteiro e falava comigo como se fosse uma amiga muito próxima. Me pedia favores educadamente e me alertava sobre a importância de usar preservativos quando eu arranjasse um namoradinho. Olhem só o veneno sendo destilado! O que ela não sabe é que sou muito mais esperta do que ela e que em primeiro lugar venho eu. Sou a única responsável pelas minhas escolhas, prezo pela minha saúde e não estou nem um pouco a fim de ser mãe no auge da minha carreira. Quer dizer, da promessa de que o auge estava próximo.

As famílias se reuniram para discutir sobre os preparativos e o Juarez estava com a cara do boi que foi amarrado e que estava sendo preparado para o abate. Já com a faca no pescoço ele perguntou se alguma opinião dele valeria e todos os quatro responsáveis responderam em uníssono que NÃO. Prontamente ele falou que ia cavalgar e eu perguntei se poderia ir junto. Me mandei deixando que os interessados no assunto ficassem à vontade enquanto eu ia matar a minha vontade de voar pelos vastos pastos verdejantes da propriedade.

Eu juro que jamais bolei essa vingança.

Aconteceu.

Muito provavelmente vocês não acreditarão em mim, mas como eu mesma já disse... não acredito em acasos. A minha vontade era de andar de cavalo, mas calhou que o Juarez estava precisando não só da sela, mas também de colo.

A égua que ele escolheu para mim se chamava Sereia. Era enorme, castanha e tinha um monte de trancinhas ao longo da crina longa e sedosa. A gente se entendeu logo de cara e após montá-la, percebi que o fim de semana poderia ser mais agradável do que havia previsto.

Corremos pelos pastos e lá pelas tantas, já com os quartos doloridos, fiz uma manobra esquisita que me levou ao chão. Sereia não se assustou e nem correu. Até acho que se ela tivesse como, teria me ajudado a levantar. Cheirou a minha perna e me empurrou com o focinho macio. Eu ri e a abracei. O Juarez logo se aproximou amarrando-a num tronco junto com o seu alazão.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora