XXVIII

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Quando ultrapassei o pórtico de entrada da cidade já senti aquele clima gostoso, friozinho, como se estivesse em outro país. A arquitetura de lá é toda baseada em construções europeias e não é a toa que muita gente fala de lá como a "Suíça brasileira".

No caminho eu havia dado uma olhada na internet e haviam muitas opções de estadia já que estávamos no meio da semana e agosto era um mês de baixa visitação. Escolhi uma aleatoriamente e coloquei o endereço no GPS.

Fiquei maravilhada assim que cheguei ao meu destino final. Estava cheio de flores enroscadas pelas cercas de madeira que adornavam a recepção da pousada e assim que estacionei o meu carro e abri a porta, um gato pulou no meu colo. Eu sempre quis ter um gato, mas achei que seria egoísmo da minha parte passar o dia trabalhando e deixar o bichinho sozinho, mesmo com o mundo inteiro me dizendo que gatos não ligam para essa coisa de atenção e companhia.

Ele era branco como a neve e gordo como o Garfield. Seus imensos olhos azuis me fitavam e eu me senti em casa como se aquele fosse um sinal enviado por Deus para dizer que eu estava no lugar certo.

- Larga a moça, seu gato safado! – Uma senhorinha gritou encostada na mureta da varanda.

- Não tem problema, senhora. Eu sou louca por gatos e estou muito feliz por ter sido tão bem recebida. Ele é da senhora?

- É da pousada. Chegou, foi ficando e ninguém o enxotou. Agora ele vive invadindo os chalés e pedindo comida aos hóspedes.

- E qual é o nome dessa gracinha?

- Tofu.

- Tofu? Mas Tofu é tão light e ele é tão corpulento...

- Gordo, você quer dizer. Não precisa ser simpática. Quando ele chegou aqui não passava de um filhote franzino. Achávamos que ele não sobreviveria ao frio e olha ele aí... guloso e folgado.

Eu acariciava atrás das suas orelhas e ele ronronava esticando-se. Passou as unhas pelo meu casaco e espreguiçou-se.

- A senhora pode deixar que por uns dias, pelo menos, ele não vai incomodar mais ninguém. Duvido que alguém seja capaz de se sentir enfadado com um bichinho carinhoso desse.

- Ele é arredio, minha filha, e interesseiro. Depois que consegue o que quer ele despreza todo mundo e fica só saracoteando aqui pelo lado de fora.

Sorri e deixei que ela me ajudasse a levar minha mala para dentro, mesmo eu repetindo que não gostaria que ela se incomodasse em pegar aquele peso. Preenchi a ficha de hóspede e paguei o valor referente a hospedagem até a segunda-feira. Tofu me acompanhou por todo o caminho e já no chalé, que mais parecia uma casinha de bonecas, de madeira escura e chaminé, ele me acompanhou pelos cômodos como se estivesse apresentando-os para mim. Uma sala com lareira, cortinas, carpete e sofás brancos. Uma pequena cozinha. Quarto com uma imensa cama king size e edredons acolchoados dobrados aos seus pés. Um banheiro imenso com um ofurô escondidinho logo ao lado do imenso chuveiro que comportava tranquilamente até duas pessoas. Com todo aquele frio, usar o ofurô só se em nenhum momento fosse desligado o aquecedor. Estava fazendo 10ºc e a tendência era que começasse a cair no final da tarde e chegássemos até os 0ºc na madrugada.

Desfiz as malas e aconcheguei-me na espaçosa cama. Retirei da bolsa a trilogia que levara para distrair as ideias durante os dias que pretendia passar sem grandes arroubos, mas pelo título, "Entre quatro paredes", já podia esperar os acessos de calor que minha imaginação sugeria que teria, propício para a promessa de baixas temperaturas na serra da Mantiqueira. Estava sendo muito bem comentada na internet e eu estava louca para mergulhar nas aventuras apimentadas dos personagens tão bem descritos pela autora, baiana como eu.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora