XXIV

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Já era noite quando o John chegou. Eu estava deitava no tapete da sala e ele tirou os sapatos jogando-se ao meu lado.

- Te liguei para saber como tinha sido na delegacia. Não imaginava te encontrar com uma carinha tão boa...

- Não vi a chamada, desculpe. E realmente me sinto bem melhor hoje!

- Vou tomar uma chuveirada e podemos pedir uma pizza. O que você acha?

- Só se for de calabresa com muita cebola.

- Você sabe que eu odeio cebola.

- E você sabe que eu não como pizza no meio da semana.

- Mas você está no meio de uma espécie de férias e isso conta como fim de semana.

- Ok, você venceu. Pega lá o endereço do site na porta da geladeira, faz o pedido e depois você toma o seu banho. Vai ser o tempo certinho de você terminar e pegar lá embaixo quando o entregador chegar.

- Feito! Mas você é folgada, heim?

Sei que ele brincou pela forma que determinei tudo, mas a verdade é que eu não estava disposta a botar a cara na rua e se fosse de qualquer outro jeito, certamente me contentaria com uma xícara de chá e cama para matar a fome.

Ele fez tudo conforme acertamos e quando terminou o banho, apareceu cheiroso e somente de bermuda.

- Trate de vestir uma camisa. Daqui a pouco a pizza chega e eu não vou querer esperar para comê-la fria.

- Quero só dois minutinhos de massagem. A cadeira que colocaram para eu trabalhar hoje estava muito baixa e minha coluna está me matando.

Ele se estirou no chão e eu já ia montar nas suas costas, como de costume e sem maldade, para aplicar a pressão certa nos músculos doloridos. Parei no meio do caminho ajoelhando-me ao seu lado e comecei desajeitada. Ele olhou por sobre o ombro, muito provavelmente estranhando a novidade, mas não me fez perguntas. Não foram poucas as vezes que vi que ele ficava excitado enquanto eu o tocava e diante do desabafo da noite anterior, me forcei a manter uma distância segura evitando desconfortos na nossa relação de amizade. O interfone tocou e ele levantou vestindo-se às pressas. Escancarou a porta e gritou para que eu não esquecesse de colocar os pratos na mesa.

Cerca de três minutos depois ele estava retornando e o aroma da pizza preencheu o ambiente. Ele foi pegar os talheres resmungando que era um absurdo eu comer lambuzando os dedos e, quando retornou, eu estava paralisada com a tampa da caixa aberta.

Havia um papel grudado e eu deduzi que fosse a nota fiscal. Quando abri me deparei com um bilhete com letras recortadas de revistas gravado apenas: VADIA, EU VOU TE PEGAR.

Ele tomou da minha mão segurando-o pela pontinha e foi até o celular. Fotografou e mandou via whats app para alguém. Em um segundo ele recebia a ligação e atendeu-a no viva-voz.

- Que porra é essa, John?

- Nós pedimos uma pizza e veio de brinde.

- Não mexam em nada até eu chegar aí.

Em quinze minutos o delegado estava invadindo o meu apartamento sem ser anunciado. Foi direto até mim, que estava sentada no canto do sofá abraçada aos joelhos, e acariciou o meu rosto deixando de lado toda a marra técnica da profissão que exercia.

- Já desloquei dois homens para fazerem campana na porta do seu prédio essa noite. Preciso que o RH da sua empresa disponibilize para mim todas as informações do Júlio o mais cedo possível. Amanhã tomarei providências.

Adeus, tempestadeOnde histórias criam vida. Descubra agora