Untitled Part 15

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Melinda

Peço a ajuda de Daniel para ir até a casa da Beatriz.

-Eu achei que você só pudesse ir a lugares que já esteve antes. Como você quer ir até a casa da Beatriz? Ou você já esteve lá também?

Ele me pergunta.

-Eu não te contei? Eu posso ir caminhando também, só que dá muito mais trabalho.

Digo dando de ombros.

-Ah!

Ele diz franzindo as sobrancelhas.

-Quer dizer que mesmo que você não conhecesse minha casa ainda conseguiria me perseguir e encher meu saco?

Dá para ser mais idiota? Reviro os olhos e não o respondo.

-Você conseguiu ou não o endereço dela?

Pergunto impaciente.

-Consegui! E para sua sorte ela mora bem próxima ao colégio Monte Carlo.

-Que bom! Então enquanto eu vou até a casa dela você já sabe o que deve fazer. Né?

Daniel revira os olhos e diz:

-Sim Melinda! Eu sei!

Dou um sorrisinho irônico para ele e saio. Caminho até a casa da Beatriz que realmente fica a poucos quarteirões do colégio. A casa dela é bem impressionante e tem muros enormes, mas eu sou um fantasma então pra mim isso não é um problema. Entro na casa dela e fico mais impressionada ainda, a casa é muito bem decorada e super chique. Lembro que quando Beatriz chegou ao colégio Monte Carlo ela tentou se enturmar comigo e Laura. Ela até parecia legal, mas Laura descobriu que a família dela só era rica por que o pai era um mafioso e que ele foi morto por um comparsa do crime. Laura também contou que a mãe era uma ex- prostituta que casou com o mafioso e passou a viver ás custas dele. Assim eu e Laura decidimos que não seria bom para nossa reputação andar com alguém como ela. Por isso fiquei surpresa com a elegância da casa, pensei que seria um estilo mais brega. Subo as escadas e chego em um corredor comprido que tem varias portas. Passando pelo corredor vejo vários quadros em preto e branco, um casal com sua filha. São os pais de Beatriz e ela. Eles parecem muito felizes. Beatriz deveria ter a idade de quando nos conhecemos uns oito anos e seus pais aparentam uns trinta e pouco. Continuo pelo corredor olhando os quadros felizes de Beatriz e seus pais e então no último quadro eles estão de pé e sua mãe está grávida, o pai beija feliz a barriga de sua mulher e Beatriz abre um grande sorriso sem um dente. Fico tão perdida na felicidade que exala dessa foto que nem percebo alguém vindo no corredor. Só quando alguém passa por mim e abre a última porta do corredor é que percebo. Entro lá também e percebo que estou no quarto de Beatriz. Ela tem uma cama grande de dossel no meio do quarto, uma prateleira cheia de livros em um canto. Vejo também em uma das paredes um quadro no mesmo estilo daqueles do corredor com Beatriz e o pai dela sorrindo um para o outro. As paredes do seu quarto são lilás. Beatriz está deitada na cama e está toda desgrenhada com um pijama de manga longa rosa. Será que ela está doente.

-Por favor, querida! Como alguma coisa.

Olho para a mulher e percebo que é a mãe de Beatriz. Ela não mudou muito fisicamente desde a época daquelas fotos, mas olhando para seu rosto dá para perceber que aquele brilho no olhar e aquela felicidade já não a acompanham há muito tempo.

-Eu não quero mãe! Me deixa... Por favor.

Beatriz a diz parecendo angustiada e sua mãe com o rosto triste levanta-se, lhe dá um beijo na testa e sai. Beatriz então tira algo debaixo do travesseiro, chego mais perto e vejo o livro destruído que ganhou do seu pai. Ela abraça-se a ele e chora baixinho. Eu estou me sentindo muito mal. Preciso sair. Resolvo ir até a mãe dela, ouço sua voz no corredor vindo de uma das salas e vou até lá.

-Eu não sei mais o que fazer Helena! Ela não quer comer, não quer sair do quarto.

-Eu sei irmã! Dê um tempo para ela.

A mulher tão parecida, mas aparentando ser uns anos mais jovem se aproxima e abraça a outra.

- A minha filha perdeu a alegria de viver. Maldita sejam as garotas daquele colégio!

Eu levanto as sobrancelhas. Isso é sério? Agora a culpa é minha?

Helena se afasta da irmã, a segura pelos braços e diz:

-Você não é esse tipo de pessoa! Você não é o tipo que deseja o mau aos outros!

Ela se afasta de Helena e senta em um sofá no meio da sala.

-Você espera que eu aceite o que elas fizeram a minha filha!?

A mãe de Beatriz fala exasperada.

-Não Isabel! Eu espero que você deixe a vida cobrar delas. Ou você acha que pessoas assim são felizes? Elas podem passar uma falsa idéia de serem felizes, mas não. Elas não são.

Helena segura a mão de Isabel e continua falando:

- Você e suas filhas precisam superar o luto! Já faz muito tempo e eu sei que o Otavio não gostaria de vê-las assim. Perder alguém para uma doença tão horrível quanto o câncer não é fácil, mas uma hora vocês precisam seguir em frente.

Câncer? Espera ele não era um mafioso? Câncer...Meu Deus o que eu fiz!?

Sinto meu peito apertado. Preciso de um tempo. Passo para a próxima sala e vou parar em um escritório. Em vários quadros de vidro nas paredes o pai de Beatriz aparece abraçado a outras pessoas. Vários prêmios e condolências ao grande Cientista Otavio Parker. Na escrivaninha um jornal antigo com a foto do enterro do senhor Parker. Beatriz está abraçada a perna de sua mãe que carrega um bebê nos braços, todos estão vestidos de preto e seus rostos muito tristes. No título diz: "Um grande cientista vencido pela doença".

Eu não posso mais. Preciso sair daqui. Preciso pensar.

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora