Capítulo sem título 26

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                            Daniel

-Que bom poder te tocar, Melinda!

Beijo sua mão e a abraço. Ela sorri pra mim, mas não diz nada.

-Você não tem noção do quanto esperei por isso!

Ela continua sorrindo pra mim sem falar nada.

-Ei, acorda!

-Vamos cara, acorda! Estamos chegando!

Abro os olhos devagar e percebo que estou no ônibus da excursão do colégio. DJ está no assento ao meu lado. Ele está me olhando e rindo. Então percebo que eu estava babando. Limpo na barra da camiseta. E depois dou um tapa na nuca dele, para que pare de rir. Mas ele continua me olhando e rindo.

-Então Daniel tem sonhos eróticos com Melinda?!

Ele diz em tom de deboche.

-O quê?! Como assim?!

Como ele sabe que eu estava sonhando com ela?

-Cara, você chamou claramente duas vezes o nome da Melinda! Sem contar esses chemidinhos que dava de vez em quando. Qual é? Eu tenho uma reputação!

Olho confuso para DJ.

-Não quero ninguém pensando que eu estava batendo uma para você!

Ele diz baixinho fazendo um gesto obsceno e depois cai na risada.

-Cala boca, DJ!

Falo irritado e lhe dou outro tapa.

-Calma aí, é brincadeira!

Ele diz ainda rindo.

-Como assim eu falei o nome da Melinda?!

Pergunto nervoso, afinal ninguém sabe da nossa aproximação.

-Não precisa ficar envergonhado, cara! Eu também sonho com umas gostosas do colégio de vez em quando.

Reviro os olhos.

-Eu só não pensei que você sonhasse com a Melinda. Ela é gostosa pra caralho! Mas eu pensei que você a odiasse.

-Eu nunca disse que a odiava! Disse?

DJ balança a cabeça afirmando. As últimas pessoas já estão descendo do ônibus e nos levantamos para descer também.

-Bom, na verdade eu não a odeio! Eu acho que ela pode ser uma pessoa melhor... Um dia.

DJ me olha, junta as sobrancelhas e ironiza:

-Sério?! Legal, e você descobriu isso enquanto beijava os peitos dela nos seus sonhos?!

Ele segura dois peitos imaginários e finge beijá-los. Em seguida me olha e nós dois rimos.

Estamos em um museu de artes modernas. Só a galera do último ano foi trazida. Eu só vim porque a professora fará um trabalho sobre esse passeio valendo nota. Já se passaram alguns dias desde que salvei a mãe de Melinda. Ela tem me visitado com freqüência. E disse que a mãe está bem melhor e que já está em casa. Disse-me também que os pais tiveram uma conversa séria e depois de muita discussão resolveram voltar, mas o pai dela impôs que sua mãe fizesse um tratamento psicológico e ela concordou desde que eles também participassem de uma terapia de casal. Melinda parece ter ficado feliz que eles voltaram, e se ela está feliz eu fico feliz também. Melinda quer que eu me aproxime de Beatriz e de Laura. Beatriz voltou para o colégio nesta semana, depois que os professores convenceram sua mãe que não seria uma boa idéia trocá-la de colégio faltando tão pouco tempo para acabar o ano. Mas me parece uma missão fracassada. Como vou me aproximar tanto de uma como de outra?

Paro quando vejo uma pessoa passar apressada por mim. Alguém com uma capa preta com uma listra vermelha na barra. Sigo-a, mas ela parece estar com pressa. Será que é a pessoa que provocou o acidente. Mas andando com a capa assim? Sabendo que pode ser pega pela polícia. A pessoa caminha apressada por vários corredores do museu, até chegar a uma porta grande com vários desenhos entalhados na madeira. Ela entra. Eu vou até a porta e seguro a maçaneta. Dou um longo suspiro. E quando começo girar a maçaneta alguém interrompe.

- Você vai entrar ou vai ficar parado aí?!

Uma garota está parada atrás de mim com uma cara nada amigável. Ela veste uma capa igual da pessoa que acabou de entrar. A pessoa a quem eu estava perseguindo.

-Ah, me desculpe!

Digo envergonhado, porém permaneço onde estou.

-Eu acho que errei de porta! O que está acontecendo aqui dentro?

Pergunto ansioso. Eu fico esperando sua resposta, mas ela não vem. A garota revira os olhos e então me empurra para o lado e abre a porta.

-Não tenho tempo para bisbilhoteiros! Estou atrasada!

Me diz antes de fechar a porta na minha cara.

Volto para o grupo de alunos e observando nossa guia penso que ela pode me ser muito útil. Resolvo pergunta-lhe sobre as garotas das capas. Ela me diz que é um grupo particular do museu, e que todo membro tem uma capa destas. Me diz também que eles são muito seletivos e normalmente a pessoa para entrar no grupo tem que passar por uma seleção rigorosa e mostrar ter o dom para artes. Fico pensativo o restante do passeio. Quer dizer então que quem tentou matar Melinda participa de um grupo de artes. Mas como vou descobrir quem participa do grupo? Se eles são tão seletivos e eu não tenho vocação para isso. Uma idéia passa por minha cabeça, mas não sei se Melinda aceitaria. Tenho que conversar logo com ela. Estamos cada vez mais perto de descobrirmos a culpada. Isso me deixa animado. Talvez desvendar este mistério ajude Melinda a voltar ao seu corpo. Talvez descobrir se Beatriz ou Laura faz parte do grupo fosse mais fácil se elas tivessem vindo ao passeio, porém nenhuma das duas apareceu. Mas se for pensar eu acho que artes tem muito mais haver com Beatriz do que com Laura.

No colégio tudo está um caos; uma bagunça total, cheio de panfletos, banners e cartazes espalhados por toda parte. Está se aproximando o fim do ano letivo e no dia da formatura dos últimos anos sempre é feita uma festa para os estudantes. Mas este ano teremos uma pequena mudança na festa. Laura conseguiu persuadir a todos para que fosse escolhidos o rei e a rainha da festa. Uma coisa que eu acho extremamente sem noção. Eu acho que ela pensa estar em um daqueles filmes adolescentes em que ela é a protagonista. Um tanto, narcisista, em minha opinião. Então logo após ser aprovada pela direção do colégio, ela já começou uma campanha enorme para vencer.

De noite Melinda aparece no meu quarto e eu conto para ela sobre minha descoberta no museu. Ela está animada em saber que estamos evoluindo nas investigações. Eu resolvo contar a ela minha idéia.

-Eu acho que Igor pode conseguir entrar, ele desenha muito bem para sua idade. E ele não precisa saber de nada. Eu vou fazer algumas perguntas depois, como se eu estivesse curioso e então ele vai me contar se tinha algum conhecido no grupo.

Melinda me olha apreensiva e diz:

-Eu não sei... Não me parece uma boa idéia envolver Igor nisso.

-Nós não vamos envolvê-lo em nada! Ele vai apenas entrar em um grupo, que pode ajudá-lo a aperfeiçoar o que ele gosta de fazer, que é desenhar.

Melinda parece estar em um conflito interno. E eu espero até que ela tome a decisão. Essa decisão é dela, não minha. Depois de algum tempo ela suspira e então diz:

-Tudo bem. Talvez isso seja bom para o Igor também. Ele tem talento!

Sorrio para ela e ela parece mais tranqüila.

-Eu vou conversar com ele e logo vamos pôr nosso plano em ação!

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora