Untitled part

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                            Melinda

Eu senti como se estivesse em um pesadelo. Ver minha mãe praticamente morta nos braços de Daniel foi desesperador. Agora entendo como eles se sentiram ao receber a notícia do meu acidente. No dia do acidente meus pais não estavam na festa. Eu dei uma desculpa e disse que seriam só jovens e eles se sentiriam desconfortáveis. No começo minha mãe não aceitou muito bem, pois sempre se sentiu bem entre pessoas mais jovens. Já meu pai aceitou desde o começo, festas nunca agradaram muito ele. Eu convidei Igor mais por obrigação, minha mãe disse que pelo menos ele teria de ser convidado. Mas no final ele disse que não iria de jeito nenhum a uma festa em que só teriam pessoas iguais a mim. Eu lembro-me de ter ficado aliviada. Mas hoje vejo o quanto estava errada. Quantas pessoas naquele salão realmente gostavam de mim? Ou estavam felizes realmente por mim? Nenhuma com certeza, nem mesmo o Daniel. Naquele dia ele ainda me odiava. E eu não tiro a razão dele. Agora neste momento estou vendo uma das coisas mais improváveis, um momento que se quer imaginei que poderia algum dia ver. Meu irmão se deita na cama do hospital, na mesma cama em que está meu corpo. Ele se deita com cuidado e puxa meu braço por cima do seu. Ele segura minha mão e deita sua cabeça no meu ombro. E é neste momento que a ficha cai. Meu irmão me ama sim. Acho que fui eu que não o amei e nem dei oportunidades para ele se aproximar de mim. Me sinto tão envergonhada. Eu não sou uma boa pessoa. Será que um dia conseguirei ser? Daniel acredita que sim. E eu prefiro acreditar nele.

-Oi.

Igor pula nervoso. Meu pai acabou de entrar no quarto. Ele esteve visitando mamãe.

-Oi filho!

Meu pai da um sorriso para meu irmão.

-Eu só estava vendo se estava confortável pra ela!

Igor fala sem jeito apontando para meu corpo.

- Você não precisa se explicar, Igor.

Igor olha para seus pés.

-Mel ficaria feliz de saber que você está aqui!

Papai sorri para ele.

-Ficaria? Não tenho tanta certeza!

Igor fala nitidamente ressentido. Ele se senta no sofá e papai se senta ao seu lado.

-Sabe Igor, quando você era só um bebê eu passei por um momento muito difícil com sua mãe... Ela teve um quadro de depressão pós-parto e isso aconteceu quando você já tinha alguns meses, uns quatro se não me engano. É, isso pode acontecer mesmo já tendo passado algum tempo do parto. Ficou muito difícil lidar com ela. Eu ficava estressado pela pressão do trabalho e as responsabilidades em casa. Mama me ajudou muito nessa época. Mas sabe o que mais me marcou nesses tempos.

Igor balança a cabeça em sinal negativo, mas papai não fez uma pergunta, ele fez uma afirmativa.

-O amor de Mel por você!

Meu irmão junta suas sobrancelhas e olha interrogativamente para papai.

-Eu lembro-me de chegar em casa do trabalho e encontrar Mel te olhando no berço. Ela fazia sinal para que eu não fizesse barulho e continuava cantarolando uma canção de ninar. E era assim, todo dia eu a encontrava cuidando de você. Eu lembro inclusive que ela e Laura tinham acabado de se conhecer, e Laura te chamava de pentelho, então Mel começou a te chamar de "meu pequeno pentelho".

Eu dou risada e quando olho para os dois estão rindo também.

-Então se tem uma coisa que eu tenho certeza é que sua irmã te ama. Ela pode não demonstrar, mas ela ama.

Igor da um pequeno sorriso para papai em forma de agradecimento e papai aperta seu joelho reconfortando-o.

Meus olhos estão marejados.

Eu precisava disso tanto quanto Igor. Ouvir do meu pai isso me faz acreditar que eu mereço sim mais uma chance. Logo em seguida a porta do quarto se abre e Laura entra:

-Oi, senhor Barcellos. Eu vim ver minha amiga!

Ela olha triste para meu corpo e eu a olho com raiva, pois sei bem o que se esconde por trás desse cinismo.

-Oi, Laura. É isso é bom, Mel vai precisar de todo apoio depois que sair desta situação.

-Com certeza, coitadinha.

Ela diz com a voz afetada que conheço bem.

-Eu vou aproveitar que você está aqui e vou dar uma olhada na minha esposa.

-Na sua esposa?! Como assim?!

Pronto bem o que a fofoqueira queria. Uma chance de desmoralizar minha família.

-Minha esposa e eu não temos passado por momentos fáceis... E ela tomou muitos remédios e precisou passar por uma lavagem estomacal.

Meu pai diz triste.

-Meu Deus! Eu sinto muito que estejam passando por isso, vocês são praticamente uma família para mim.

Laura diz fingindo-se de chocada. Eu sei bem o veneno que escorre dela.

-Obrigada, Laura! Mel sempre gostou muito de você.

Ela da o sorriso mais falso que já vi.

-Certo, então irei visitar minha mulher! Igor você vem comigo?

Igor se encaminha para a saída junto com papai.

-O quê? Como assim? Vocês não podem me deixar sozinha com essa cobra!

Falo desesperada.

Mas eles não podem me ouvir.

Eu observo Laura chegar perto de mim.

-Ora, minha querida amiga! É tão triste te ver assim.

Ela finge tristeza, mas logo sorri. Ela aperta meu braço forte. Acho eu que para ter certeza que não estou fingindo. Então ela afasta meus cabelos e se abaixa para ficar na altura da minha orelha.

-Sabe você não precisa ter pressa em acordar. Estou cuidando muito bem de tudo, inclusive do André.

Ela da uma risadinha histérica e se afasta.

-Sua vaca! Maldita cobra!

Grito com raiva.

Ela pega um travesseiro em cima do sofá e se aproxima da minha cama. Eu fico desesperada. Ela vai me matar. Não tenho nem tempo de avisar o Daniel. Essa maldita vai me matar. Eu pulo em cima dela e aperto suas mãos com toda força.

-Aii! Nossa!

Largo ela e olho para minhas mãos. Eu consegui sentir ela. Então ela também me sentiu. Laura está com olhos arregalados olhando para suas mãos.

-O que foi isso!?

Diz para si mesma.

Volta a pegar o travesseiro que largou no chão. Ela olha para meu rosto e eu penso agora ela me mata. Porém para minha surpresa ela levanta minha cabeça e ajeita o travesseiro embaixo.

-Tenha bons sonhos e vê se faz algo direito e não acorde tão cedo! Preciso de tempo para conseguir o que me pertence.

Ela fala em voz baixa e se dirige para a porta.

-Tchau, vadia!

Ela diz me mandando um beijinho antes de sair do quarto.

O que aconteceu aqui? Alguém me explica?

Estou chocada com sua atitude. Mas talvez ela não tenha me matado porque não teria um bom álibi, meu pai a viu aqui. Esse hospital é um dos melhores do país. Um dos mais caros. Ele tem câmeras e seguranças por todo lado. Eu não vou descartar seu nome assim tão fácil, vadia.

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora