Untitled Part 28

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Daniel

Melinda tem me seguido durante as aulas e a presença dela é reconfortante. Não sei ainda como vou lidar com sua ausência quando ela não for mais somente um espírito. Com certeza vou sentir falta de sua presença constante no meu dia a dia. Eu nunca estive em um relacionamento realmente sério, mas agora consigo entender a necessidade de alguns casais em estarem sempre juntos. Algum tempo atrás eu diria que essa necessidade era uma idiotice.

Hoje durante a aula uma forte tempestade se formou no céu de nossa cidade. Os ventos causaram enormes estragos e a chuva inundou um dos prédios do colégio. Os alunos foram liberados, mas a direção pediu a ajuda de voluntários para controlar a inundação. Poucos se dispuseram em ajudar. Beatriz foi uma que se voluntariou, e então para seguir nosso plano, eu também me voluntariei. E aqui estou eu agora. Com galochas, com água tampando os tornozelos e com um monte de baldes e rodos por todo lado. Todos os professores e mais uns 20 e pouco alunos tentam retirar a água do prédio. Eu empurro a água com força repetidas vezes, porém nunca parece baixar. Meus braços doem, estou suando e realmente estou quase desistindo quando Beatriz para ao meu lado e diz:

-Você está fazendo tudo errado.

Olho para ela e reviro os olhos, em seguida digo sarcástico:

-Sério?! É porque pensei que os rodos serviam pra isso!

Beatriz me da uma olhada de canto de olho, provavelmente avaliando minha reação.

-É os rodos servem para isso! Mas não vão adiantar se você continuar atirando a água contra uma porta de soleira alta.

Ela diz apontando para a porta e dando um sorrisinho.

-Faz sentido!

Digo retribuindo o sorriso.

-Mas aonde jogo essa água toda?!

Digo frustrado.

-Por aqui.

Beatriz faz sinal para que eu a siga. Entramos em uma salinha que parece ser do pessoal da limpeza. Ela aponta para ralos embaixo de estantes de aço.

-Bem melhor.

Falo envergonhado e ela ri.

Começamos a trabalhar juntos jogando a água para os ralos. Batemos um papo animado sobre certas peculiaridades de alguns professores e quando vejo já estou entrando no assunto: Melinda.

Percebo que Beatriz fica um pouco incomodada, mas ela não deixa de me responder. Melinda que esteve esse tempo todo rindo da minha tentativa em ajudar o colégio chega mais perto para ouvir a conversa.

-Quando eu conheci a Mel ela era uma menina bem diferente. E eu não sei por que simpatizei com ela logo de cara. E realmente cheguei a imaginar que podíamos ser grandes amigas.

Ela suspira ao falar isso e continua:

-Ao contrário da Laura, em quem eu sempre senti a maldade.

Melinda não tira os olhos de Beatriz enquanto ela fala. E suponho que saber o que Beatriz pensa sobre ela seja importante nesta nova fase da sua vida.

-A Mel na verdade foi sempre influenciada pela Laura... Ela tinha poder sobre ela. Conseguiu nos afastar e ainda por cima fazer com que ela não gostasse de mim. Quando crescemos ela já nem se lembrava que já tínhamos sido amigas.

Concordo, mas não falo nada. Sinto que Beatriz está se esforçando para compartilhar comigo e que isso é doloroso para ela.

-Eu sentia o ciúmes que Laura tinha da nossa relação, e ela não se contentou enquanto não nos afastou. Eu não sei se você ouviu falar no episodio do banheiro?!

Ela me pergunta e espera minha resposta. E eu me recordo. O colégio inteiro ficou sabendo.

-É eu ouvi a respeito! Mais sabe como é! Eles aumentam muito os acontecimentos no colégio.

Digo dando de ombros. Ela da um sorriso nostálgico e diz:

-Sei sim! Se tem alguém que sabe, sou eu.

Eu olho para Melinda neste momento e seus olhos continuam focados em Beatriz. As revelações de Beatriz estão dando muito o quê pensar a ela.

-Então naquele dia eu encontrei a Laura e o André se beijando em uma sala do colégio. Quando me viram a reação deles foi bem distinta. Enquanto o André parecia apavorado por ser descoberto, Laura parecia tranqüila e indiferente. Ela gargalhava e ele me implorava que não contasse nada para a Mel.

Olho novamente para Melinda e ela está com uma aparência abatida e continua vidrada em Beatriz.

-Eu pedi desculpas e sai apressada da sala. Eu estava em dúvida se contava ou não para a Mel. Eu pensava "Será que ela vai acreditar em mim?". Laura já a tinha enganado tantas vezes. Mas eu não tive muito tempo para pensar, Laura foi mais rápida e mais esperta do que eu. Ela deu novamente um jeito de colocar Mel contra mim e qualquer coisa que eu dissesse soaria falso para ela.

-Filha da p...!

Beatriz me olha de olhos arregalados.

-Desculpa Beatriz! Eu só pensei alto.

Damos risada e percebo que Melinda não ri. Ela continua séria.

-Mas o que mais me doeu foi que Mel poderia fazer qualquer coisa contra mim, eu não me importava, já estava acostumada. Porém elas retiraram de mim algo que jamais conseguirei de volta... Uma lembrança do meu pai. E isso eu não sei se poderei perdoar algum dia.

Uma lágrima escorre pelo rosto de Beatriz e eu passo meu braço em volta de seu ombro para consolá-la. Melinda desaparece, não sei para onde ela foi. Eu imagino que deve ter sido muito difícil para ela ter ouvido tudo, e que precise de um tempo. Eu me preocupo com ela, mesmo sabendo que a maior vítima disso tudo é Beatriz. Ela enxergou em Melinda um dia uma parte que estou conhecendo agora. Uma parte boa dela. A parte pela qual estou me apaixonando.

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora