Capítulo sem título 9

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                               Melinda

Daniel acaba de sair correndo e estou morrendo de rir dele. Mas uma coisa ainda me intriga, por que ele é o único que me enxerga? Será que ele é uma daquelas pessoas que enxergam espíritos? Mas se ele enxergasse outros ele não teria tanto medo como demonstrou. Ele ainda é um suspeito, mas talvez eu precise da ajuda dele para descobrir o verdadeiro culpado. Estando perto dele eu posso descobrir se foi ele mesmo ou outra pessoa, além de que estou me sentindo muito sozinha. Mesmo ele sendo um chato, é alguém com quem posso conversar. Dou algumas voltas pelo colégio me divertindo ouvindo historias dos outros, descobrindo umas fofocas quentes. Quando passo perto de um grupo de meninas ouço meu nome. São quatro garotas que se não me engano estudam no primeiro ano. A mais alta do grupo fala:

-Com a Laura no comando do colégio... Eu até estou sentindo falta da Mel.

As outras meninas parecem incomodadas e se olham. Outra garota de cabelo vermelho vivo diz:

-Pois eu não estou sentindo falta nenhuma da Mel! Ela e a Laura são as duas a mesma merda!

Elas riem e as outras concordam. A mais baixa fala:

-É verdade! A Mel só ganhou de retorno todo o mau que fez aos outros. Ninguém nesse colégio gostava dela, a não ser seu squad e o André.

Me sinto mal ouvindo isso, eu não deveria me importar. Mas saber que todo mundo te odeia, ao invés de te admirar que é o que eu pensava que acontecia, não é fácil. Eu sempre achei que tinha a vida perfeita, mas estou achando que ela não era tão perfeita quanto eu imaginava. Continuo minha caminhada pelo colégio e vou até as arquibancadas, tem treino hoje do time de futebol. André está lá, lindo, e eu fico olhando ele jogar. Pensando por que ele fez isso comigo, como ele pode ser tão cruel. Aquelas garotas tinham razão, tudo que eu fiz de ruim está se voltando contra mim. Eu acabo me lembrando de uma cigana, que estava em um parque que fomos uma vez. Eu e meu squad passeávamos e nos divertíamos nos brinquedos quando essa mulher esbarrou em mim, ela me olhou de uma maneira super profunda e eu até fiquei com medo, mas não demonstrei. Ela segurou meu braço e disse que queria ler minha sorte e eu disse que não, que estávamos com pressa. Ela disse que faria de graça e as meninas achando graça me convenceram a aceitar. Ela ficou um tempo olhando minha mão e então disse: -Eu vejo que você vai passar por grandes provações na sua vida, que você terá grandes decepções. Mas você também pode reverter tudo a seu favor, vai depender de como você vai lidar com tudo neste processo.

-Uuuu!

Laura brinca e todas riem e sorrio nervosa. Então a cigana agarra minha mão com mais força e olha bem em meus olhos e séria diz:

-Eu vejo que você será tocada pela morte!

Eu arranco minha mão da dela, estou nervosa.

-Baboseira! Quem controla meu destino sou eu.

Fala rindo para que as meninas não percebam meu nervosismo. Elas riem e continuamos caminhando. No meio do caminho paro e olho para trás e a cigana continua a olhar para mim séria.

Essa lembrança me faz pensar que aquela cigana sabia o que aconteceria comigo. Se eu soubesse como encontrá-la. Mas também do que adiantaria se ela não conseguir me ver.

Vejo meu irmão caminhando perto das arquibancadas, ele está sozinho e esta com fones de ouvido. Ele estuda na sexta série. O colégio Monte Carlo é grande, uma parte dele é destinado ao ensino fundamental e outra é ao ensino médio. Fico olhando para ele e percebo dois garotos caminhando rápidos na sua direção. Os dois são bem maiores que ele. Um deles o empurra e ele tropeça e cai de joelhos. Eu corro para perto deles e estou desesperada, pois não posso fazer nada. Eu até tento, mas não adianta. Igor se levanta e olha para os garotos. Um deles pergunta ironicamente:

-Cadê aquela gostosa da sua irmã? Ahh... É verdade ela está morrendo no hospital. Aquela vadia não pode te defender.

Igor olha para eles com raiva e grita:

-Cala boca! Minha irmã não é vadia.

Os dois garotos se olham e riem, e então um deles da um soco no estômago do Igor. Eu estou chorando, não sei como posso ajudá-lo. Eles continuam a bater nele. Vejo sangue na sua camisa. Vejo alguns jogadores vindo e André está com eles. Graças a Deus. Ele pode ajudar o Igor. O amigo do André mostra pra ele os garotos batendo no Igor e ele diz:

-Deixa que os garotos se entendam! Vai ser bom pra ele aprender se defender sozinho.

E então passa reto e não faz nada. Estou fervendo de raiva.

-Seu cretino! Idiota!

Grito mas ele não pode me escutar. Vejo meu irmão apanhando e me sinto impotente. Outros jogadores passam por eles e esses ajudam Igor. Eles ameaçam os dois garotos que correm. Covardes. Os jogadores ajudam meu irmão se levantar e se vão. Igor senta na arquibancada, ele está com o nariz sangrando e parece com bastante dor nas costelas. Ele abaixa a cabeça e eu fico ao seu lado. Noto que ele está chorando. E eu choro com ele. Será que isso acontece com freqüência? Como eu nunca notei? Igor tem razão em me odiar, eu sou uma péssima irmã.


Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora