Uma Patricinha em minha vida

Capítulo sem título 36

                                       Daniel

Viro-me de um lado para outro na cama, mas o sono não vem. Estou angustiado pensando por que Melinda não apareceu. Logo depois que recebi o telefonema de DJ fiquei a esperando ansioso, para comemorarmos seu êxito, só que ela não apareceu. E isso me deixou preocupado. Espero que ela esteja bem. Tenho que reconhecer que ela consegue mesmo o que quer, e isso me assusta, já que ela pode acordar e querer algo totalmente diferente. Pode ser que ela nem mesmo lembre de nós. E esses momentos foram tão importantes pra gente, afinal, foi o que nos aproximou. Nunca passou pela minha cabeça namorar alguém como Melinda, mas ela tem se mostrado tão diferente.

Acordo com meu braço formigando, depois de muito rolar na cama, quando o dia estava quase amanhecendo consegui dormir. Deve ser tarde, já que o sol está alto e bate na minha cara. Hoje não fui ao colégio e por isso mando uma mensagem para o DJ. Precisamos seguir logo com o plano. Eu não consigo nem imaginar algo de ruim acontecendo a Melinda. Tomo um banho rápido. Logo vou sair para o trabalho. Recebo uma mensagem no celular. É o Igor. Quer saber por que não fui à aula, e também diz querer falar comigo sobre o grupo. Combino de passar em sua casa mais tarde.

No trabalho não consigo me concentrar. Acabo marcando alguns clientes no mesmo horário. Mike nota e indaga:

-E aí cara, tudo beleza?!

-Tudo sim, Mike! Desculpa aí, pelos erros!

Digo desanimado.

-Noite difícil?!

Pergunta ele.

-É... Alguns problemas pessoais! Mas não se preocupa, vou melhorar.

-Alguma garota?

Ele parece curioso.

Passo a mão pelo cabelo e suspiro alto.

-Sim, é uma garota bem difícil!

Mike ri.

-Garotas difíceis são as melhores!

Diz ainda rindo e dando uma piscada para mim. E depois volta ao trabalho.

Eu sorrio. E penso que difícil é pouco para definir Melinda.

Depois do trabalho passo na casa de Melinda. Só que não a vejo. A senhora a quem chamam de Mama me recebe muito bem novamente.

-Você gostaria de um pedaço de bolo cenoura com calda de chocolate?

Oferece-me sorridente.

-Eu adoraria Mama! É um dos meus preferidos!

Ela sorri para mim e caminhamos até a cozinha onde ela me serve uma fatia generosa do bolo. Que, aliás, está uma delícia. O bolo é macio e a calda de chocolate é maravilhosa.

-Que delícia, Mama! Eu poderia comer o bolo inteiro!

Mama sorri agradecida.

-Pois, pode comer! Aqui a maioria segue dieta, o único que ainda aproveita meus bolos é o Igor, e de vez em quando o Sr. Pedro.

Como o bolo todo e ainda lambo o prato. Olho para Mama achando que ela pode não gostar. Mas ela ri, satisfeita com minha aprovação.

-Você trabalha aqui há muitos anos Mama?!

Fico curioso para saber mais sobre ela.

-ah, sim! Vi Melinda e Igor crescerem. Você tinha que ver o carinho de um com outro quando eram pequenos. Mas depois de grandes eles só brigavam.

-E você tem filhos?

-Não, mas eu criei a Melinda e o Igor como se fossem meus! E me dói ver ela nesta situação.

Sinto-me inclinado a abraçá-la e confortá-la, ela parece muito gente boa. Mas não tenho essa intimidade e por isso apenas concordo com pesar.

Subo e vou até o quarto de Igor. A porta está aberta e Igor está sentado na mesa desenhando. Ele parece muito concentrando. Dou uma batidinha na porta para alertá-lo e entro.

-Oi, cara!

Digo.

-Oi, cara!

Ele diz parecendo surpreso de eu estar aqui.

-Eu queria mesmo falar com você! Tenho que te agradecer!

-Agradecer?

Indago me sentando ao seu lado.

-Sim! Meus desenhos têm melhorado bastante e isso graças a você.

-O seu talento é excepcional, garoto! E eu não tenho nada a ver com isso.

Digo o elogiando.

-É serio! Obrigado!

Sorrio e concordo.

Me aproximo para ver seu desenho. É um retrato de Melinda.

-Uau! Está incrível!

Digo impressionado.

-Sabe... Eu nunca achei que eu fosse sentir falta da Melinda.

Olho para ele com pesar.

-Sinto falta até da sua chatice.

Rimos.

-E você teve alguma notícia dela?

Pergunto.

-Os meus pais tentam não me envolver muito. Mas eu ouvi eles conversando esses dias e parece que os médicos estão com medo de Melinda demorar a acordar e ficar com seqüelas.

Ele diz triste e eu arregalo os olhos.

Nunca pensei muito sobre, mas agora fico com medo por Melinda.

-Vai dar tudo certo, cara!

Digo para confortá-lo e também a mim mesmo.

Ele apenas concorda e da um pequeno sorriso sem emoção.

-Eu preciso ir agora!

Falo levantando-me.

-Ah, sério?!

-Sim. Mas depois nos falamos. Eu te mando uma mensagem, beleza!

-Beleza!

Igor diz e volta à atenção para seu desenho.

Quando estou saindo pela porta lembro-me de algo e dou meia volta.

-Igor! Por acaso você viu algum rosto conhecido no seu grupo do museu?

Indago.

-Não que eu tenha visto. Por quê?

Me olha curioso.

-Nada, não!

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