Capítulo sem título 6

704 63 5
                                    


                                    Daniel

Resolvi não ir à aula hoje, tenho dormido pouco, pois venho tendo pesadelos toda noite desde o acidente de Melinda. Eu até tentei visitá-la no hospital esses dias, mas a recepcionista não me deixou entrar. Disse que a família restringiu o acesso ao quarto dela apenas a nomes em uma lista, já que se suspeita que o acidente na verdade foi premeditado. Eu até fui chamado à delegacia para ser interrogado, muitas manchetes saíram nos jornais e revistas. Tenho tido esses pesadelos toda noite, nele Melinda está caindo em um precipício e eu preciso decidir se a salvo ou não, mas não tenho tempo suficiente para tomar essa decisão e ela sempre acaba caindo. E eu sempre acordo todo suado e demoro a pegar no sono novamente. No colégio tem sido um saco, todos pensaram que tinham se livrado de Melinda, porém sua substituta Laura é dez vezes pior. Ela está infernizando a vida de todo mundo e se alguém ousar olhar na sua direção indiferente ou passar na sua frente já está automaticamente na sua lista negra. E se a Melinda já era uma cretina, Laura é uma cretina com C maiúsculo. Meu celular toca e vou ver, é uma mensagem no grupo do colégio. Nossa cara. É uma foto da Beatriz e tá na cara que foi editada. Porém isso não vai diminuir o estrago que essa foto pode causar. Coitada. Foi só mais uma vitima do capricho dessa mimada. Não vejo a hora de me formar e poder ir para faculdade, pelo menos lá espero que tenham pessoas que usam a cabeça para coisas boas, não só para levá-la ao salão e pensar em maneiras de ferrar a vida dos outros. Meu telefone toca e eu atendo, do outro lado uma voz feminina bonita pergunta:

-Oi, é o Daniel?

-Sim.

Respondo tentando identificar a voz.

-É a Diana!

Arregalo os olhos e imediatamente fico nervoso.

-Ah Diana! Oi, Tudo bem?

-Sim está!

Ela diz rindo. E continua:

-Eu consegui seu número com o DJ... e estava pensando se você não gostaria de ir ao cinema comigo hoje?

Isso está acontecendo mesmo? Aquela gata da Diana está mesmo me convidando pra sair, penso, enquanto meu sorriso vai de orelha a orelha.

-Alô?Oi?

Eu fiquei tão perdido que até me esqueci de responder e falo rápido:

-Sim! Claro!

Penso no que estou fazendo, estou parecendo um desesperado.

-Quer dizer eu aceito sair com você. Eu não tenho nada para fazer hoje mesmo!

Cara o que estou fazendo? Bato com a mão na cabeça. É melhor eu ficar quieto só estou piorando a situação.

-Tudo bem então! Você me encontra as sete em frente ao cinema?

-Sem problemas! As sete então!

Ela desliga e eu fico batendo na minha cabeça e repetindo idiota várias vezes. Eu esperei tanto por isso e agora quase estraguei tudo. Envio uma mensagem para o DJ, mandando o idiota ir se ferrar. Ele sabia que ela ia me ligar e nem pra me avisar antes. Ele deve é estar rindo de mim a uma hora dessas. Volto para minha cama. Acordo perto da hora do almoço e tomo um banho, como rápido e vou para o trabalho. Eu estou trabalhando na recepção de um estúdio de tatuagens, o dono Mike é um cara todo tatuado e fortão, mas no fundo é um coração mole. Foi ele quem fez a minha tatuagem. É uma águia sombreada no meu braço direito. Eu fiz ela no meu aniversário de 18 anos, que foi há alguns meses atrás. Minha mãe ficou uma fera e meu pai aceitou de boa, mas agora eles até que gostam dela, perto da minha moto ela ficou bem inofensiva. Saio às cinco e meia para ir para casa me arrumar. Quando estou indo pegar minha moto vejo André passando no outro lado da rua, ele fala ao telefone e logo atrás dele vem uma menina ruiva. Caralho. É a Melinda. Será que ela se recuperou? Tento atravessar a rua, mas como é o horário de todo mundo ir para casa o fluxo de carros me impede. Eles dobram na esquina e eu consigo atravessar a rua, corro até a rua que eles entraram paro na esquina e vejo que é um beco sem saída, então André passa com o carro bem ao meu lado e ele está sozinho. Eu fico olhando para o beco e não tem para onde Melinda ter ido. Será que estou ficando louco? Eu poderia jurar que ela estava com ele. Vou para casa pensando no que pode ter acontecido. Hoje está um pouco frio então coloco meu jeans, meu All Star, a camisa da minha banda preferida, uma Jaqueta preta e vou para o cinema. Chego lá já são quase sete horas e Diana já está me esperando. Ela esta de jeans e uma jaqueta preta e eu dou risada da coincidência. Quando me vê ela acena pra mim e eu caminho até ela.

-Oi.

Digo e ela me responde:

-Oi.

Ela parece envergonhada e eu acho isso uma graça. Eu resolvo quebrar o gelo perguntando do filme.

-Então já resolveu o que vamos ver?

-Então eu estava pensando em um filme de suspense o que você acha!?

Ela pergunta e me olha esperando minha confirmação.

-Claro! Eu adorei a idéia. Suspense é um dos meus gêneros preferidos de filmes.

-Sério!? É um dos meus também.

Ela diz sorrindo. Nós compramos os ingressos e então vamos comprar pipocas e coca. No meio do filme eu tomo coragem e seguro a mão dela e então rola o primeiro beijo, seus lábios são macios e ela tem hálito de bala de hortelã. Ficamos nos beijando quase que o resto do filme inteiro. Nem consigo entender o final do filme já que perdi as partes mais importantes. Mas valeu a pena, valeu muito a pena. Diana me diz que a sua irmã a trouxe e eu me ofereço para levá-la para casa, eu já trouxe outro capacete caso precisasse. Pergunto se ela tem medo de andar de moto e ela diz que não. No caminho até sua casa eu acelero um pouco mais a moto e percebo que isso a diverti, então acelero mais e ela se segura em mim com um braço e outro ela joga para o lado sentindo o vento e nós rimos. Paro em frente a sua casa e ela pergunta se quero entrar e eu digo que é melhor não, ela toma a iniciativa e nos beijamos novamente. Ela abre minha jaqueta e vê a camisa da banda Red Hot Chilli Peppers e então afirma:

-Eu adoro eles! Californication é uma das minhas músicas preferidas.

Eu sorrio animado pra ela e digo:

-Californication é meu álbum preferido deles!

Eu a beijo novamente e ela se afasta e diz que precisa entrar. Eu subo na moto e ela fica na calçada acenando pra mim até eu desaparecer de sua vista. Diana é perfeita, eu adorei nosso encontro e não vejo a hora de a encontrar novamente. Não imaginava que tivéssemos tanto em comum. 

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora