Capítulo sem título 16

572 60 3
                                    



                           Daniel

Já faz meia hora que estou sentado em uma poltrona na recepção do conceituado estúdio fotográfico Black&White. A moça da recepção tem um tique nervoso e fica batendo o pé o tempo inteiro e como ela está de salto o barulho fica muito mais irritante. Minhas mãos estão suadas e eu só consigo pensar no que fui me meter. Eu nem mesmo consigo acreditar ainda no que aceitei fazer. Vir até o estúdio e tentar roubar as fotos do dia da festa. Essa foi a brilhante idéia da patricinha. Ela só se esqueceu que eu não sou um fantasma e posso ser preso por causa disso.

-Bom dia, Lily!

Um cara de estatura média aparentando ter uns 40 anos e vestindo uma camisa social preta por dentro da calça jeans escura e usando um óculos de armação colorida entra no estúdio e vai direto a recepcionista. Ela aponta para mim e ele se vira para me olhar, abaixa o óculos até metade do nariz e me olha de cima a baixo. Depois ele me faz um sinal para que eu entre com ele em sua sala.

A sala dele é um enorme estúdio fotográfico e nas paredes posso ver alguns de seus trabalhos. Muito impressionante. Ele caminha até uma grande mesa e se apóia nela ficando de frente para mim.

-Então...

-Vitor!

Minto meu nome, não posso me arriscar.

-Vitor, você deve estar querendo trabalhar como modelo. Certo!?

-Ah, sim! Isso mesmo.

Digo engolindo em seco.

-Eu acredito que você tem boas chances de se dar bem! E com as minhas fotos então, eu tenho certeza!

Sorrio concordando.

-Então, podemos começar?

Ele pergunta e eu só aceno com a cabeça.

-Vá até aquele canto e tire a camisa!

Ele diz apontando para os fundos do estúdio.

-Tirar a camisa!?

Pergunto nervoso.

-É sério isso? Você quer ser um modelo e está cheio de pudores?

Ele me pergunta e cruza os braços. Eu tento sorrir, mas acabo fazendo uma careta. Envergonhado retiro minha camisa e caminho até o canto.

-Um bom físico abre muitas portas no mundo da moda. Lembre-se disso!

Ele me diz dando uma piscadela e caminhando na minha direção com a câmera nas mãos. Nossa essa situação é muito constrangedora.

-Sente-se naquele banco.

Ele me pede apontando para um banco branco e alto. Sento e tento parecer calmo. Ele retira duas fotos e a recepcionista entra no estúdio o chamando.

-Arnold, me desculpe! Sei que você não gosta de ser incomodado enquanto está tirando fotos, mas tem um cliente muito importante no telefone querendo falar com você.

-Certo Lily, já estou indo!

Ele diz olhando para ela. Ele se vira para mim e fala:

-E você tente relaxar! Estou sentindo sua tensão daqui. Ok?

-Beleza.

Respondo e ele larga a câmera na mesa e sai. Eu preciso agir rápido. Corro até o notebook na mesa. Eu rezo para que não tenha senha, porque senão estarei ferrado. Que sorte. O notebook já está ligado e desbloqueado, só preciso encontrar a pasta com as fotos. O que no momento está me parecendo impossível já que tem milhares de pastas com fotos aqui. Clico em algumas pastas sem sucesso e já estou quase perdendo as esperanças quando entro em uma pasta chamada "Festas exclusivas" e encontro outra pasta nela com o nome "Festa de aniversario Melinda Barcellos". Suspiro aliviado e pego rápido o pen drive no meu bolso e copio a pasta para ele. Largo o notebook exatamente como estava e corro até a câmera apagar minhas fotos. Depois vou até a porta e olho lá fora. O fotografo continua no telefone e sua recepcionista está ocupada pelo jeito mostrando alguns trabalhos para clientes. Caminho rápido até a saída e só fico mais aliviado quando já estou em cima da minha moto.

De noite vou até o local combinado para nos encontrarmos, achei que um píer era uma boa idéia. Não quero que meus pais pensem que estou ficando louco falando sozinho. Não tem ninguém no píer e de longe vejo apenas uma garota ruiva sentada olhando para o céu estrelado. Eu vou até ela e me sento ao seu lado, olho para o céu estrelado também. Ficamos em silêncio, apenas admirando o céu. Então de repente Melinda diz:

-Meu pai costumava dizer quando eu era criança que estrelas eram anjos de luz e que cada uma delas cuidava de uma pessoa. Nós ficávamos olhando o céu por horas e quando uma estrela cadente passava ele dizia que era um anjo descendo na terra para ajudar alguém.

Olho para Melinda e ela continua olhando para as estrelas. Eu olho fixamente para ela, ela parece diferente hoje. Seus olhos e cabelos brilham sob o luar e ela está... Bonita. Não que eu já não soubesse isso. Todos na Monte Carlo sabem como ela é bonita. Mas hoje é diferente, é como se eu a estivesse vendo pela primeira vez. Enquanto a observo ela continua a falar:

-Eu gostaria de voltar a ser criança... Era tudo mais fácil e simples.

Ela sorri e então fica séria:

-Eu nem sempre fui assim! E agora eu percebo que não gosto muito de quem me tornei.

Olho para ela e minhas sobrancelhas se juntam em descrença. Será que ela está falando sério?

-Quando eu vim morar aqui as outras crianças já eram amigas e como eu era novo fui ignorado. Eu lembro que eu ficava furioso com os meus pais porque achava que a culpa era deles, por me fazerem vir para esta cidade. Ninguém é perfeito Melinda, às vezes machucamos as pessoas. Mas se temos consciência de que o que fizemos é errado já estamos no caminho certo, porque geralmente quem é uma má pessoa não sente remorso. E a única opção que nos resta é nos desculparmos.

Ela me olha fixamente nos olhos e meu coração parece estar batendo mais rápido. O que será essa sensação? Parece que tem um turbilhão no meu estômago. Eu nunca senti isso antes. E então ela levanta-se e diz:

-Eu não vou mais precisar da sua ajuda Daniel!

-Como!?

Pergunto confuso.

-Isso tudo não vai me levar a nada.

Ela fala desanimada dando de ombros.

-Talvez eu nem mesmo sobreviva.

E enquanto eu continuo olhando para ela balançando a cabeça e não concordando com o que está falando. Ela some.

Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora