Untitled Part 23

537 56 0
                                    

Melinda

Ao abrir meus olhos, já no meu quarto, sorrio pensando em Daniel. Ele deve pensar que não notei as olhadas de canto de olho dele em mim. Mas eu notei. Notei muito. E gostei muito também, devo admitir. Eu nunca imaginei que nossa proximidade levaria a isso. A este sentimento. É tão bom sentir isso novamente. Depois de me decepcionar com o André. Eu só espero poder acordar logo e viver este sentimento ao todo. Podendo sentir seu toque e seu beijo. Sorrio. Estou parecendo uma boba apaixonada. Nem mesmo com André eu era assim. Mas eu sinto que com o Daniel é diferente mesmo. Sei lá, parecem sensações melhores e eu ainda nem o beijei. Com André foi tudo muito intenso já de início e perdemos um pouco essa parte gostosa do começo do relacionamento. Eu me sinto sendo cortejada. Mas e a pé grande? O que será que ele sente por ela? Eu não quero pensar muito nela, prefiro esperar para saber até onde eles vão. Penso nas fotos que vi também e minha raiva retorna. Daniel acha que devemos estudar todas as possibilidades, mas eu acho que está na cara que foi a Laura. Porém, pensando bem, a mãe da Beatriz e ela estarem na minha festa sem serem convidadas é muito estranho. Infelizmente pela foto não conseguimos identificar bem a sandália, apenas que era de mulher. Noto que está tarde. Eu preciso ficar um pouco perto do meu corpo. Ao abrir os olhos no hospital vejo o meu pai sentado ao lado da minha cama. Ele segura minha mão.

-Me desculpa filha! Eu falhei com você por te proteger demais, falhei com seu irmão por não o dar atenção e com sua mãe também eu falhei.

-Não pai! O senhor não falhou em nada! Nós que falhamos com você.

Eu digo ao meu pai, mas ele não me ouve.

-Eu gostaria de ter sido um pai melhor para vocês! Mas se você voltar, te prometo que farei de tudo para ser.

Uma lágrima escorre do meu rosto. Me dói ver meu pai assim e não poder confortá-lo. Eu nunca fui uma boa filha. Sempre me preocupando apenas com o que meu pai me dava e com o status e nunca realmente me importando com ele. Quando eu era criança nós éramos tão próximos. Me via como a sua menininha e queria me proteger de tudo. Nós fazíamos muitas coisas juntos e eu sinto saudades dessa época. Mas logo que eu conheci a Laura ela me disse que era muito careta ficar o tempo todo com meu pai, e então fomos nos afastando, até o ponto que eu só o procurava para pedir o seu cartão do banco. Agora percebo que Laura sentia inveja também da minha relação com ele, pois sempre percebia como ela ficava frustrada com o seu próprio pai. Ele não gostava de passar tempo com ela e quando o fazia estava sempre irritado. Eu sinto tanto por ter deixado ela me influenciar dessa forma.

Passo a noite no hospital, no outro dia resolvo ficar na minha casa e só procurar o Daniel de noite. Não é bom eu ficar incomodando ele na escola e no trabalho. Assim terei tempo também para pensar em alguma estratégia. Ouço passos no corredor e vou verificar, minha mãe está praticamente se arrastando até seu quarto. Ela está irreconhecível. Sempre andou bem arrumada e vestida. Sua elegância sempre fez todos a admirarem. Mas hoje ela parece mais uma morta viva se arrastando pela casa. Seus olhos tem olheiras enormes, até parece que levou um soco em cada um. Está vestindo roupas de ginástica. Seu cabelo está todo cheio de nós e bagunçado. Não está usando maquiagem nenhuma. Sinto pena dela por um instante, mas somente até me lembrar o porquê ela está assim, e então volto a sentir raiva. Passo o dia sentada na beira da piscina. De certa forma é até bom ter esse tempo para pensar. Eu sempre estive tão ocupada tentando ser perfeita em tudo que nunca tive momentos como este. Ouço o interfone tocando e decido espiar para ver quem é. Ao atravessar o portão me surpreendo ao ver Daniel. Ele se assusta, mas ao perceber que sou só eu, respira aliviado.

-Oi Melinda!

-Oi! O que você está fazendo aqui?

Pergunto curiosa.

-Eu só estava passando aqui perto... e resolvi ver como seu irmão está.

Ele diz sem jeito.

-Ah, claro! Meu irmão.

Sorrio nervosa.

O portão pequeno se abre e Mama aparece.

-Boa tarde rapaz! Você é o entregador da loja de tapetes?

Daniel sorri.

-Não, eu não sou. Sou um amigo do Igor. Ele está?

Mama olha desconfiada para Daniel.

-Eu não conheço você! Igor não tem muitos amigos. Posso saber de onde você o conhece?

-Sim, claro! Eu o conheço do colégio Monte Carlo. Estudo lá também. E eu o ajudei esses dias com uns garotos. Eu gostaria de saber como ele está.

Ao ouvir isso Mama muda seu semblante e convida Daniel para entrar. Ele caminha ao seu lado para dentro da casa enquanto conversam e eu os acompanho.

-Aqueles garotos deram uma bela surra no pobre coitado!

Mama fala com pesar.

-Sim, eles deram!

Responde Daniel.

-Mas fico feliz que você estava lá para ajudá-lo.

Mama sorri agradecida para Daniel.

-Obrigado!

Ele diz retribuindo o sorriso.

Mama o leva até o quarto de Igor. Ela está deitado em repouso. Seu rosto está cheio de hematomas. Fico triste pelo meu irmão.

-Oi cara!

Daniel cumprimenta Igor assim que entra no quarto.

-Oi cara! Que bom que você veio.

Meu irmão parece animado em vê-lo.

-Como você está?

Daniel o pergunta.

-Estou bem.

Mas a cara de dor ao tentar se sentar o denuncia. Porém Daniel não fala nada.

Daniel olha em volta do quarto e ele presta bastante atenção nos desenhos de Igor.

-Você é bom nisso!

Daniel diz apontando os desenhos e Igor sorri.

-É, acho que sou um pouco.

Daniel sorri. Ele então olha para o porta retrato de Igor com meus pais e me olha disfarçadamente. Sei que ele está pensando no que falei da minha relação com Igor.

-Ei, você joga X-box?

Igor pergunta para Daniel.

-Eu jogo! E te digo mais sou um dos melhores jogadores.

Daniel diz sorrindo.

-Sério!? E se eu te desafiasse?

Igor diz levantando uma sobrancelha.

-Só se for agora!

Daniel se levanta arrumar o X-box. Os dois jogam super bem e se desafiam o tempo todo. Já se passou uma hora desde que Daniel chegou. Eu os observo jogar quieta no meu canto. De vez em quando Daniel olha pra mim quando meu irmão está distraído. Eu resolvo dar uma olhada na minha mãe. Falo para Daniel que já volto e ele só assente disfarçadamente com a cabeça. Chego no quarto de mamãe e a luz está apagada. O quarto só não está escuro por causa da TV ligada, que aliás, está num volume bem alto. Noto que ela está dormindo. É só o que ela faz agora. Chego mais perto da cama e noto algo estranho. Vários comprimidos estão caídos em volta da cama. Subo na cama e vejo que ela esta parecendo desmaiada e segura mais frascos de comprimidos vazios. Eu entro em desespero. O que vou fazer? Porque você fez isso mãe? Grito aos prantos. Daniel. Só ele pode me ajudar. Corro desesperada para o quarto do Igor.


Uma Patricinha em minha vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora