Capítulo 58

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Mal haviam se passado duas semanas, e um encontro com Alfonso que Anahí vinha evitando, mais bem, fazendo de tudo para que não acontecesse, foi inevitável, era dia de reunião de pais na escola de Logan. Alfonso chegou cansado, havia estado a manhã e boa parte da tarde no tribunal, saíra a pouco menos de uma hora de lá, e se dirigiu direto para a escola do filho, que havia ficado com Ian e Nina enquanto os dois estavam lá. Chegou distraído, olhava algo no celular, ainda não havia parado para procurar Anahí, e sabia que deveria seguir tomando sua distancia com ela, porém quando o fez, quando tirou o foco do celular e o direcionou para ela, o que viu não foi exatamente... Bom. Ela conversava, melhor dizendo, ria de algo que um homem, bastante próximo a ela por sinal, dizia, e sim, aquilo doeu, só que não, não era ciumes. O que Alfonso viu ali, foi um spoiler de um futuro que por culpa dele, provavelmente seria assim. Não era ciumes do homem com quem ela conversava, era ciumes de todos os homens que estariam no lugar daquele mesmo, fazendo-a rir, e saber que não seria ele... Doeu.

Os pais foram chamados, ele deixou que ela entrasse para então entrar, uma troca de olhares foi cruzada, porém no mesmo segundo ela virou o rosto. Ele se sentou algumas carteiras a frente, e os dois focaram no que a professora de Logan dizia, na verdade, ela prestava atenção na mulher a frente que não parava de falar. Ele estava distraído, estava com a cabeça dando voltas e mais voltas num mesmo assunto, numa mesma imagem, a dela, rindo com aquele desconhecido. Ele não se aguentou nem mais dois segundos lá assim que a reunião acabou, simplesmente se levantou e saiu, se sentia mal, precisava de um drink.

- Alfonso? - Anahí o chamava da porta, porém ele continuou andando, queria olhar para trás mas não o fez. - Alfonso. - Chamou mais alto. - Ainda precisamos... Alfonso. - Ultima tentativa, e ele não virou, então, ela desistiu.

Os dias se passaram, e um Alfonso bastante abalado simplesmente sumiu do mapa. Não ia trabalhar, não atendia nem dava telefonemas, e pior, quando fora o dia de buscar seu filho, ele não foi. Anahí precisou sair as pressas de onde estava para busca-lo, e ao tentar ligar para ele, recebeu o mesmo que todos que o tentaram... Nada. Quando isso já estava entrando na segunda semana, e preocupada que o episódio da semana passada com Logan se repetisse, Anahí resolveu tomar uma atitude por si própria, sem mais telefonemas, ela resolveu ir até o apartamento dele.

- Alfonso? - Chamou assim que o elevador abriu, ele não havia mudado a senha. - Alfonso? - Chamou mais uma vez, e escutou um "Hmm" vindo de cima. Ela subiu e o encontrou dormindo no quarto de hospedes, uma garrafa de whisky vazia do lado, e um copo virado. As cobertas ainda estavam na cama, o que fez ela pensar que talvez ele nem soubesse onde estava se deitando. - Alfonso. - Sussurrou, e ele abriu os olhos.

- O que faz aqui? - Perguntou tentando levantar a cabeça, porém baixando-a assim que a luz que vinha da janela bateu em seu rosto.

- Onde você estava todos esses dias? Estão todos loucos procurando por você, e ninguém conseguia entrar aqui. - Perguntou.

- É porque eu travei o elevador. - Contou ainda na cama.

- Esqueceu de travar hoje. - Respondeu obvia. - Porque não buscou o Logan na escola?

- Porque... Eu não estava me sentindo bem, precisava ficar sozinho. - Dessa vez ele se sentou, e se levantou. Alfonso apontou para a escada, e os dois desceram.

- Eu acho que o seu filho não merece isso, e não deve pagar pelos seus dias ruins. - Disse dura assim que os dois chegaram na sala.

- Eu já disse que ele é seu se quiser. - Disse cabisbaixo.

- Se você não quer ter responsabilidades com ele me diga Alfonso, mas não arranje desculpas. Ele é seu também, e se você quiser, a guarda dele continua compartilhada.

- Não são desculpas é só que... Eu quis tira-lo de você Anhaí. E eu usei ele pra te atingir. - Falou. - Ele pode não saber mas eu me lembro toda vez que o vejo. - Se explicou. - Dizer aqui, que eu abro mão dele, que ele é seu se quiser, é a coisa mais difícil que eu já disse em toda a minha vida, porque ele é tudo pra mim, mas eu sinto que é o certo. - Anahí, escutando aquilo, vendo-o daquele jeito, deu um suspiro cansado, e tornou a falar.

- Alfonso... Vá se arrumar. - Pediu. - Nós vamos dar uma volta. - Era um aviso.

- O que?

- Vá se arrumar, eu espero aqui. - Disse, e ele não perguntou mais nada, simplesmente passou por ela, um pouco inseguro, em direção as escadas, e sumiu. Anahí se sentou no sofá, que já não era mais o mesmo de quando a mesma morava ali. Ela já havia estado naquele apartamento uma única vez após ser expulsa, no aniversário do filho, porém agora era diferente, ela estava sozinha na sala, com as lembranças do que um dia viveu ali, passando pela sua cabeça com num filme, se sentiu triste, nostálgica, era impossível não se lembrar de que um dia sonhou ser feliz ali.

- Estou pronto. - Desceu algum tempo depois, já de banho tomado, e definitivamente com uma cara bem melhor.

- Vamos. - Avisou, e saiu em direção ao elevador.

- Precisa do carro? - Perguntou quando os dois estavam perto de chegar no térreo.

- Não. - Disse direta, e o silencio voltou. Assim que saíram do prédio, ele apenas a seguiu, não perguntou nada, não falou nada. Foram parar a uma cafeteria um tanto reservada, ela escolheu a mesa e os dois sentaram. - O que você tem Alfonso? Porque assim?

- Eu não sei se você quer escutar. - Comentou.

- Por...

- Porque é por causa de você, é por causa de você que eu estou assim. - Foi direto, e quando viu que ela continuou com a mesma expressão e não fez nenhuma perguntou, ele soube que poderia continuar. - Você sabe que eu não sou um cara ciumento Anahí, que não sou possessivo nem nada, mas... Eu te vi aquele dia na reunião conversando e rindo com aquele cara, e... Não foi ciumes dele, foi ciumes de todos os outros, ou do outro que podem passar pela sua vida, ciumes de um futuro que eu não vou passar com você, e eu já aceitei isso, mas porque eu mesmo causei isso. - Explicou.

- Ele não era ninguém Alfonso. - Esclareceu.

- Eu sei, eu sei, ele não... Mas você merece um amor único Anahí, você merece um cara que te ame incondicionalmente, e ele vai aparecer um dia, é disso que eu tenho ciumes. - Terminou, e ela ficou quieta, não sabia como responder, não sabia como agir, apenas se voltou para a mesa, e ficou encarando-a.

- Porque você não... - Ela suspirou, realmente não sabia o que falar.

- Ta tudo bem. - Tranquilizou sorrindo. - Mas eu preciso saber uma outra coisa, porque... Eu me culpo de mais pra não perguntar isso Anahí. - Confessou. - Algum dia você seria capaz de me perdoar?

- Não se culpe desse jeito Alfonso, culpa signfíca atraso, você não vai conseguir seguir a sua vida. - Disse.

- Você seria capaz Anahí? Isso basta, nós nunca mais vamos ficar juntos, eu perdi você, e eu entendi isso no primeiro segundo que coloquei meus pés em Boston de novo, mas ter o seu perdão, isso é o que eu preciso pra seguir, e isso me basta, o seu perdão me basta. - Ela parou encarando-o, sabia a resposta, já a tinha a algum tempo, mas dize-la em voz alta era outra coisa.

- Já te perdoei. - Disse, e em seguida, pegou suas coisas, se levantou, e foi embora.

Alfonso ficou ali, um sorriso bobo, um quentinho no coração, a observou sair do local, e continuou, quieto, apenas repetindo as palavras ditas por ela em sua cabeça.

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