Uma semana já havia se passado desde que Anahí e Ian haviam se conhecido. Ela agora se encontrava no pequeno sofá que havia em sua quitinete, tirando o sobretudo e os sapatos que usava. Ao ir para a cama, parou um pouco em frente ao espelho, passando a mão nos longos cabelos castanhos e ondulados, estes quase chegando a cintura, e ficou ali, apenas observando seu reflexo, e não vendo nada além de sujeira e tristeza. Uma lagrima caiu por seu rosto, sem expressão, choro ou lamento, apenas uma lagrima. Nunca havia chorado amargamente, nem se condenado em lagrimas e lamentos por sua condição, chorar, para ela, era desconhecido. Algumas lagrimas já haviam passado por seu rosto, mas apenas isso, sem expressão, elas apenas haviam escapado, e Anahí as deixava correr.
Recém havia chego em casa, estivera conversando até um pouco mais tarde com Ian, e em seguida ele a havia deixado no prédio em Broockline, subúrbio de Boston, onde vivia. Aquele homem mal sabia que a fazia imensamente feliz apenas por querer passar as noites conversando com ela, e a tirando da rotina. Bem, nem tanto, porque apesar dele lhe pagar todas as noites, ainda faltava uma parte do dinheiro que precisava, e tinha que "trabalhar". Porém, aquele desconhecido que já não era tão desconhecido havia lhe dado um descanso a sua amarga existência, e ela lhe agradeceria eternamente.
Anahí havia dormido, porém seu sono durou menos de duas horas, pois batidas violentas na porta a acordaram. Seu coração acelerou ao reconhecer a voz do homem que a chamava, porém não havia outra opção, teria que abrir antes que o mesmo fizesse um escândalo ainda maior. Ela abriu a porta, e la estava Manuel. Ele era filho do marido de sua tia. Mal e sem coração igual ao pai, era o tipo de homem manipulador, e pior, manipulava a ela. Lamentavelmente sua tia e o marido, sumido pelo mundo após a morte da mesma, haviam deixado dividas a pagar, logo, isso deixava Manuel encarregado de paga-las. Porém, como ele dizia diversas vezes, aquelas dividas também eram de Anahí , que deveria arcar com a metade delas. E por isso ele estava ali, a fim de cobrar sua parte do dinheiro para paga-las.
- Eu não tenho o dinheiro todo Manuel. Posso te dar uma parte agora, mas vou precisar de mais tempo. - Falou receosa, e viu a expressão de fúria se formar no rosto dele. Ele entrou no quarto fechando a porta com força, e ainda mais furioso tornou a perguntar.
- Onde. Está. O. Meu. Dinheiro. Anahí.?
- Já disse que não o tenho. - Respondeu, dando inconscientemente um passo para trás. Então viu ele lhe lançar um sorriso maldoso.
- Mas você vai pagar, se não tudo com dinheiro, mas irá pagar do mesmo jeito que o ganha.
Foi muito rápido, ele a puxou pelo braço e a jogou na cama. Ela lutou, Deus sabe como ela lutou, até conseguiu empurra-lo uma vez, porem não havia jeito, ele era mais forte. No fim ela cansou de lutar, e apenas se deixou ser tomada por lagrimas, lagrimas que pela primeira vez caiam sem parar, caiam por causa da triste realidade ali vivida, Manuel a possuía como o que ela era, uma prostituta.
Vamos combinar que ser forçada a transar contra a sua vontade, e sem a preparação necessária, é algo marcante e extremamente doloroso, inclusive para uma prostituta. Não interessa se ela lida com sexo diariamente, quando é contra a sua vontade, o cenário muda completamente. Principalmente para Anahí, que vivia dia após dia se agarrando as ultimas forças que tinha para seguir com esse trabalho.
- Semana que vem eu volto, e é bom você ter o dinheiro, se não, pagará com seu trabalho novamente. - Respondeu malicioso, se levantando, se vestindo e saindo em seguida.
Anahí respirou fundo diante daquelas palavras, não permitiria que ele a tocasse novamente. Alguns minutos depois voltaram a bater na porta, porém ela suspirou aliviada ao ver que era Maite. Esta, por sua vez, ao ver o estado da amiga correu para abraça-la, e ali ficaram um bom tempo. Nenhuma palavra foi dita, era apenas uma consolando a outra. Maite tratou de alimenta-la e em seguida a mandou para o banho, durante isso, também não houveram palavras sobre o acontecido. Maite sabia que Anahí não iria falar nada sobre isso, nunca. Conhecia a amiga bem o suficiente para saber que ela guardaria o que quer que tivesse acontecido para si, superaria, ou pelo menos tentaria, e seguiria sua vida, porém sozinha. São muitas as maneiras que as pessoas tem de superar, ou, de tentar superar uma situação como essas... A de Anahí, diante das condições que tinha, era calada. Ela, e apenas ela mesma, sabiam que apesar do trauma, aquilo passaria, na marra, ou, com sorte, de forma natural. Ela saiu do banho e as duas começaram a conversar.
- Ok, agora você vai me contar quem é aquele bonitão que você sai todas as noites? - Perguntou realmente interessada, porém também tentando descontrair, pois Anahí ainda se via abalada.
-Ian? - Perguntou, e viu Maite dar de ombros com uma expressão de "como eu vou saber?" - Ok, ele é jornalista, e está fazendo uma matéria sobre prostitutas, e... - Ela passou a hora seguinte lhe contando o objetivo da matéria do amigo, e sobre o que os dois tem conversado todas as noites.
-Você está me dizendo que nada aconteceu? Sequer um beijo entre vocês dois? - Anahí negou rindo da surpresa da amiga. - Mas... Você sente algo por ele? - E viu a expressão de Anahí mudar, graças a Deus mudou, era uma expressão divertida agora.
-Ele é atrativo e isso não se pode negar, porém é um ótimo amigo, e só Deus sabe como tem me ajudado a me distrair um pouco, porém não como você esta pensando. O adoro, porém como um bom amigo.
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Todo Cambio
FanfictionSua vida não era algo da qual ela gostasse, nem seu trabalho algo do qual se orgulhasse. Ser pisada e humilhada por uma sociedade que em sua grande maioria é preconceituosa, não deve ser algo que se enquadre nos planos de alguém com apenas vinte e c...