Capítulo XII: Eu imaginei o amanhã após às 23:59.

16 1 3
                                    

Às 23:59, minha mente rodava onde o mundo me levaria amanhã de manhã. Onde eu iria ver o amanhecer do sol, quem seria a primeira pessoa a me perguntar se eu dormi bem, o quão quente estaria o meu leite com café. Será que queimaria a língua ou teria que esquentar mais um pouco por estar muito gelado? Eu conseguiria encontrar o açúcar de primeira ou esqueceria onde ele fica sempre? Será que tu estaria ali, rindo do meu esquecimento ou ainda estaria dormindo porque estava linda demais em meio aos lençóis, com tanta paz no rosto para eu conseguir ter coragem de te acordar?

Será que você estaria ali?

O amanhã é algo inconstante. Nós nunca saberemos quem estará lá mesmo depois de dois, dez, vinte anos de convivência. Nós nunca poderemos saber que notícia mudará nosso humor, nosso rumo, nossas vontades, nossos olhares diante o universo, as pessoas. Nós nunca saberemos como alguém pode bagunçar nossas vontades, olhares, humores e nossas percepções como humanos. Nós nunca vamos saber como nossa família, uma viagem, como café da manhã diante ao amanhecer vai mudar o restante dos nossos dias. Nós nunca vamos saber como um crença, uma opinião, a falta de alguém pode fazer um terremoto, alvoroço em nossa alma nunca imaginado porque, claro, nós nunca poderíamos imaginar. Nós nunca vamos saber.

Talvez, amanhã você não esteja mais aqui. eu vou acordar, pisar de pés descalços, tomar meu café queimando a ponta da língua, sorrir ao abrir a janela e ver o sol brilhando ou talvez, desanimar ao ver as gotas batendo no vidro. Eu vou colocar a roupa para mais um dia da minha rotina monótona e ir em direção a cama para arruma-lá, ver a bagunça e sentir falta da bagunça de alguém do lado direito do colchão, do cheiro no travesseiro, sem conseguir imaginar pernas entrelaçadas no edredom branco. Eu vou sair de casa, e sentir falta do beijo de despedida que talvez nunca tenha sentido mas que imaginei na minha adolescência. O beijo com sorriso, com saudade de perceber que só no final do dia poderia sentir de novo. O beijo com "se cuida", com "eu te amo tanto", o beijo com "independente do amanhã, eu vou estar apaixonada até às 23:59".

Eu sei que todo mundo precisa de segurança e a única que eu posso te dar, não é um status de relação, é que o que eu sinto, vai estar depois das 23:59, depois de amanhã, semana que vem, mês que vem porque amor, a gente sente pra sempre, com alma e espírito mas se tua paixão acabar ou a minha, tá tudo bem. Nós sabemos que valeu a pena viver tendo certeza até às 23:59. Nós sabemos que ontem, estávamos felizes porque vivemos sendo um só até as 23:59. Nós sabemos que independente do manhã, eu vou sempre estar pra você além das 23:59. Independente do amanhã, eu vou sempre estar transbordando gratidão pela bagunça do lado direito da cama, a forma que se entregou, a forma que dançamos juntamente até às 23:59.

Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora