Minha mãe me ensinou a engolir tudo, assim como a mãe dela ensinou a ela. Nascemos para sermos fortes, para não sentirmos nada porque animais não sentem, não é? Eu fui criada para esconder minha dor, a sexualização do meu corpo que me deixou feridas eternas e ser agressiva para conseguir esconder os sentimentos de fraqueza. Minha mãe é brava e só consegue chorar quando bebe, quando não aguenta engolir mais. Minha avó é da mesma forma, escondeu todas as lágrimas, até quando meu avô morreu. Eu não vi ela chorar. Eu fui tratada como um bicho agressivo por alguns, como insensível por outros. Eu vi pessoas tratarem minhas barreiras como coisas fáceis de serem quebradas, porque afinal, é só falar, é só demonstrar. Eu vi todos a minha volta banalizarem minha dificuldade de falar, de mostrar o que eu sinto e quando gritei, eu assustei e todo mundo fugiu.
Mulheres como eu são animais, nem mulheres são. Mulheres como eu são como pedras e ninguém se importa em machucar, ninguém se importa com as barreiras que essa estrutura causou em nós. No cabelo, na carne, nas relações solitárias, vazias e dolorosas. Não existe sensibilidade disponível para nós e eu senti todos os dias isso me quebrando por dentro. Mulheres como eu são barraqueiras, gritam tanto, nervosas, agressivas. Animais e ninguém se importa com eles.
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Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)
PoetryColetânea de textos, poesias sobre estar em meio as palavras, flutuar entre elas, sobre as sentir dentro de você. Sobre ver a graça dos livros, das poesias, ver o poder de ir para o mundo que quiser, o poder de conhecer sua alma verdadeiramente. Ver...