Capítulo XIX: Roupas no varal, cheiro de café e nós.

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Vira e mexe, eu penso o quão patético é imaginar o dia de amanhã com você. Eu consigo ver tudo completamente, o cheiro de café, farelo na gola da camisa, sol fazendo espetáculo na janela do lar que nós chamamos de nosso.

Penso sobre o ar do teu lado e o lençol amarrotado em cima do colchão. Consigo imaginar a cor das paredes, o cheiro de detergente de coco. Eu consigo imaginar uma imensa prateleira de livros com todos os que mais ama e até com aqueles que comprou só por impulso porque pensou que um dia sentiria vontade de ler. Panelas em tons de vermelho dentro do armário, dois gatos passeando pelo chão. o pão velho que ninguém quer comer do café da manhã em cima da mesa, o copo com o final do suco que ninguém quis de tão doce que nem uma formiga aceitaria. Eu imagino os sapatos deixados no chão, imagino os sorrisos teus quando te abraçar, os suspiros quando eu te beijar, as sílabas desengonçadas quando eu te tocar. Imagino os filmes na televisão em um sábado a noite que somente queremos ficar juntas, o domingo com almoço sem graça porque a preguiça de fazer qualquer é maior. Imagino as mãos dadas ao sair de casa, os olhares apaixonados e as frases iguais que faria qualquer um se perguntar: pessoas apaixonadas são telepáticas?

Nós seríamos nós todos os dias.

Todo mundo nega se permitir pensar no cheiro de café, no sábado a noite, no suco açucarado. talvez, eu seja louca ou talvez extremamente apaixonada porque a cada segundo eu imagino mais até o grão de sujeira no chão. Me permiti imaginar cada gota caindo da torneira em cima do prato sujo e barulho de chuva com você porque a cada segundo, eu quero mais ser parte do nós naquele lar que chamamos de nosso.

Eu quero brigas sobre minha teimosia e meu estresse, brigas sobre o seu "tá bom" insuportável. Eu quero teu carinho, o teu cheiro todos os dias, tua sinceridade em cima do meu medo de magoar até uma mosca, tua risada fingida quando falo uma coisa sem graça que penso ser muito engraçada, tua voz quando diz meu nome, tua negação as minhas vontades, tua maturidade em cima da minha infantilidade, as coisas que tu ama em cima das coisas que odeio e as coisas que tu odeia em cima das coisas que eu amo. Eu quero cheiro do mar da sua cidade de pessoas chatas contigo, quero teu "s" meio "x" puxado, teu corpo, tuas palavras inteligentes, teu coração, teu gosto pelo pior tipo de chocolate que existe, tuas frases bêbadas, teu pensamento político, teu ar de pessoa indesvendável.

Eu quero ter você dentro do cheiro de café da manhã, dentro do lugar onde tem mesa com pão velho, com sol dizendo "oi" na janela, com detergente de coco que minha mãe me ensinou a amar. Quero ter você no lar que quero chamar um dia de nosso mas se você não quiser, tudo bem, valeu a pena imaginar até a cor da geladeira, das roupas em varal. valeu a pena imaginar esse nós.



Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora