Capítulo XLV: O medo te come por dentro

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Por trás do toque, vem a sensação de propriedade, controle e dominação. Por trás, a sensação de superioridade transborda e passa por todo meu corpo. As curvaturas, as cores escuras e os cheiros não estão em exposição. Nossa história quer estar nos melhores museus mas não no seus, não na sua salvação clara, nos seus contos pacíficos inventados. Por trás do toque, vem a visão do diferente, a estranheza, o medo e o nojo preso na sua garganta. Por trás, eu sinto seu nariz torcer. Por trás do toque, eu vejo seu olho queimar de ódio do meu resistir. Nas curvas, nas cores escuras estão minha riqueza e minhas raízes, das mulheres e homens embaixo do solo, presos por cordas, dor e por histórias quase nunca contadas. Por trás do seu toque, o sentimento embolado na soberania e autoridade sobre o meu corpo, sujo e pouco lavado. A sujeira não saiu para você o suficiente? Seria eu um brinquedo que você diz admirar nas suas principais exposições? Seria meu cabelo livre como fogo sua maior ameaça de morrer queimado? Por trás do seu toque, eu vejo que eu sou um objeto, para brincar, para desvendar, para fazer ciência, para sucumbir ao seus desejos. Eu não sou o sujeito da pesquisa, eu sou o experimento.

Por trás do seu toque, eu sou aquela como milhares foram no passado. Por trás do seu toque, eu consigo ver que o crespo fere seu poder e isso te amedronta. Não toque, não me pergunte o que eu usei, não me questione como consegui deixar tão belo quanto o seu. O medo te come por dentro, medo da minha fúria, da minha inferioridade crescendo sobre a sua ascensão. É com o toque, com o nariz retorcido e com as risadas que eu sinto que a sua ancestralidade tem medo do brilho da minha e assim, você corre com a água para abaixar a lava do vulcão.

Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora