Capítulo XLIV: Cuidado, capitão

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Estou engolindo, a saliva desce e forma um oceano dentro mim. Você sempre é o comandante das navegações e eu sou o ponto parado no meio do convés do navio. Eu não sou tão boa para ler os mapas e nem para entender a profundidade do mar. Eu não sou tão boa porque meu conhecimento é raso como uma lagoa. Não sou tão boa com a interpretação falha, poucos livros lidos e com ouvidos entupidos. O navio se move no seu tempo, na sua direção e eu continuo parada no convés, engolindo até a boca secar.

Estou engolindo enquanto sua paciência dura e o barco não afunda. Engolindo até sua mente ter tempo para conseguir juntar minhas falas tortas em uma frase. Engolindo até você parar de gritar e soltar o mastro. Engolindo, engolindo e engolindo até seu pé de madeira parar de arrastar no chão. Eu permaneço engolindo porque a enchente não tem relevância quando somente me afoga. Ninguém sabe nada pois estou engolindo em silêncio sem te incomodar e as correntes marítimas são intensas, machucam o peito. Continuo engolindo e esperando seus ouvidos bons terem dois segundos para formular minha súplica invertida, meu enjôo com o balanço da água e as cicatrizes de mordidas de animais aquáticos exóticos.

Estou engolindo enquanto for a única forma de fugir do transbordar. Continuo engolindo até que o navio não mais afunde de um lado só. Continuo engolindo até a tempestade chegar e me afogar em todo o acumulo de mordidas, enjôos e súplicas.

Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora