Capítulo XXXIV: Seleção natural.

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É tão doido como parece que tudo está sumindo aos pouquinhos. Há dez minutos atrás, acreditava que cultivava muitas coisas através do tempo, em constante evolução, me adaptei ao meio. A seleção natural me escolhe, mas toda vez que eu olho, bilhões de anos se passaram, permaneço vazia. Eu não tenho quem contar as lágrimas de medo frente a porta do urologista, porque todo o resto do ecossistema entrou em extinção e eu fiquei sozinha, lembrando do quão quente foi ficar nessa terra e agora, só sobra um mar para me afogar sozinha.

Eu não sei mais se vou orgulhar qualquer um que quero, não sei se estou dançando certo o que as outras pessoas esperam ou se estou realmente mostrando a forma eu quero dançar. Eu não sei se vivo pela alegria do outro enquanto eu choro quando alguém me magoa porque não consigo acreditar que qualquer um que quero aqui faria por mal. Nunca é por mal enquanto eu sou o mal todo.

Não sei mais se minha mãe vai me ver naquela faculdade em primeiro lugar, não sei mais se vou conseguir ler todos os livros ou guardar cada pequeno componente dentro de uma célula ou todas as informações da independência brasileira. Eu não sei mais se vou conseguir fazer você me amar por mais dois segundos. Parece que eu sou o nada mesmo que o nada nem seja algo fácil de ser explicado, sou tão sem graça quanto uma célula procarionte. Um borrão, que sente falta de ar, que fica toda vermelha pela dermatite atópica, que tem medo de tudo, do que vão pensar, mesmo que tente ser o mais forte possível. Eu sou um borrão, todos que percebem, vão correndo e me deixam no mar. Me afogando.

Eu quis tanto ser o melhor, para todo mundo. Eu ainda quero e isso trouxe solidão porque mesmo minha irmã me abraçando e as risadas de colegas dentro da sala de aula, eu ainda me sinto sozinha, no oceano, depois de uma terra cheia de lava, com uma dor no peito guardada a sete chaves que me traz falta de ar e insônia. Me faz ter medo do escuro e de qualquer menor palavra. Eu me sinto um branco, mesmo que nesse branco, dentro da pigmentação, tenha milhares de coisas não ditas que acho que ninguém liga o bastante enquanto passa andando e indo embora na minha frente.

Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora