Capítulo XXVIII: Quatorze, outubro

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O medo de que o sabonete para tirar lembranças seja criado logo e eu compre sem querer no mercado. Tu sabe, a tecnologia voa que nem uma andorinha. o ser humano é louco, tanto que inventaria algo para apagar o que não quero apagar de mim.

Digitais tuas me pertencem. Nem um corretivo no planeta é meu amigo. O cheiro do teu cabelo com aquela cor que fazem o ar faltar pertencem ao meu olfato. a tinta preta que tu passou por cima não me simpatiza nem em migalhice.

Tanto faz que tu tenha ficado linda com ela, ainda de faltar o ar. A cor do teu cabelo fazem parte daquele final de semana, do cheiro de chuva, da sua vergonha, e do aroma perto da tua boca. qualquer tinta por cima dele pode apagar.

Eu não quero esquecer uma migalha e mixaria do que foi te ver ofegante no meu pescoço, te ver me amando quando se permitia me olhar. Eu fazia de tudo pra tu olhar pra mim e ver a beleza que enxergava em ti toda vez que deitava no teu peito, que te abraçava e me afastava depois com medo dos teus tapas na costas que seus amigos me contaram. Manias tuas.

O ar falta ao passar por essas memórias toda madrugada, sem tirar nenhuma desde que fui embora e chorei até o ar faltar novamente, mas talvez por questões biológicas ou por saudade mesmo que não queira admitir.

Não quero esquecer de tu com aquela jaqueta. o ar falta mais uma vez ao passar a mente por lá. Não quero esquecer do teu beijo e daquela lentidão que tu falava por telefone, do gosto de cada canto de pele tua. Não quero esquecer teu quente, tua voz de calor, o fervor das tuas palavras ao desencaixe do teu lábio ao meu. Eu não quero esquecer de tu conversando com outras pessoas e teu jeitinho de falar aguçado, exposto pra mim. eu não quero esquecer de macio da tua cama, de virar para o lado e ver teu olho no meu, teu cabelo bagunçado com aquela cor nos meus dedos. Só nos meus.

Eu não quero esquecer do teu riso. nem de quando tu esperava aquele homem insuportável virar para me beijar dentro do ônibus. Não quero esquecer da sua mão em partes que ainda tenho vergonha de falar em voz alta. Você no meu ombro, tua mão na minha e em toda parte quando eu sentava no teu colo. Eu não quero esquecer dos teus eu te amo aleatórios e nem de tu deixando eu comer tudo quando era pra tu.

Se esse sabonete existir mesmo e não foi algo do meu cérebro que acredita em mundos paralelos, por favor, esteja lá para me impedir de comprar sem nem notar.

Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora