Capítulo XXXVI: Me embolei em teus segredos e te revelei meus medos

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Com o passar dos dias, dos minutos intermináveis, dos segundos que parecem séculos e séculos, eu comecei a acalmar todo o barulho que existia dentro de mim. Eu entrei no ônibus, diariamente, segunda até sábado, conseguindo calar todas as vozes enquanto escutei bilhões de outras em minha volta, conversas sobre o que seria o jantar, sobre faculdade, sobre o chefe insuportável, eu ouvi todas elas sem deixar que um som escapasse e fizesse todos os outros se calarem de tão alto que os gritos guardados poderiam ser.

Entretanto, acredite, isso demorou tanto que não consigo mais contar os minutos intermináveis nos dedos. Se passaram três meses desde que nós começamos a afundar de verdade, mesmo que me diga que final de dezembro foi o estopim para que cada corte em mim ardesse mais e mais, sem conseguir achar qualquer antídoto para que eles se fechassem e cicatrizes permanecessem lá, para serem lembradas por uma eternidade ou duas.

No primeiro mês, a dor era controlável, eu pensava na textura do teu cabelo e não me sentia tão mal por ver tudo se perdendo tanto. No segundo mês, se tornou detestável. Eu a odiava mais que odiava qualquer outra coisa, eu odiava sentir aquilo porque parecia que a paz nunca viria, eu iria sentir aquilo até a última gota e não poderia fazer nada para você não ir embora porque estava tudo se perdendo, mais e mais. Eu sentia dor toda vez que lembrava de você e chorei todos os dias, sem tirar nenhum, por não ter certeza do que iria acontecer todas as noites que pisava meu pé na porta de casa. Era incerto demais e comecei a acreditar que não teria saída que faria nós duas continuarmos sendo apenas nós, sentimento que só eu e você sabemos. No sussurro, eu te entreguei tudo de valioso de mim, eu te entreguei o amor que eu sinto pela tua risada, pelo seu jeito atrapalhado. São as únicas coisas que valem aqui dentro e todas elas são direcionadas apenas a você.

Eu senti muito medo de te falar o que eu senti, de todo choro, de todo vazio de ver a distância aumentando e aumentando, sem controle nenhum. Eu nunca me vi tão vazia. Eu sei que senti muitas dores por ver pessoas se afastando de mim, me vendo como uma completa estranha, nada é comparável mas tenho certezas poucas e uma delas é que o buraco que tu deixou e está deixando, é uma marca que nunca vou conseguir tapar.

Ninguém conseguirá nunca ser como você, em nenhum pontinho.

Perdi minha vontade de escrever, não consigo nem lembrar do último texto que escrevi. Não tenho mais inspiração nenhuma porque não vejo mais graça nisso se não for para falar sobre nós, sobre tua forma de falar e do cacho na ponta do seu cabelo. Eu escuto teus sons em minha volta no meio da rua, sinto teu cheiro em meio a multidão, sinto teu toque quando é apenas uma pessoa me pedindo licença, você está em toda parte mesmo que fuja para muito longe, sem que consiga te alcançar.

Eu sei que não foram e não são os melhores momentos na sua vida, mas prometo que eu me importo com cada detalhe e atitude que te machuca, não quero que sejamos mais uma coisa para você pensar agora. Eu posso não ser a mesma pessoa que você conheceu há um ano atrás. Eu não sou e nunca vou conseguir ser novamente, a única coisa que eu posso te dar certeza é que eu ainda pretendo te olhar como a primeira vez e te amar como no primeiro segundo que te amei, deixando apenas ele aumentar e me levar para onde o sentimento quiser me levar. Eu me apaixonei por você, pela sua força e sua repetição da palavra “sério”, pelos seus pensamentos inteligentes e por você levantando a sobrancelha.

Eu me apaixonei por coisas que acredito que você nunca iria conseguir ter noção e por coisas que ainda tenho vergonha para falar em voz alta. Me apaixonei e construí um amor muito extraordinário que pertence apenas à nós. Como diria a música, só o tempo vai dizer se vai permanecer ou não. Se for a segunda opção e não der pra continuar, vou fazer o tempo parar para que eu aproveite os poucos minutos, os únicos que desejo que sejam intermináveis.

Eu tô aqui, sempre. Mesmo que seja o amor da sua vida ou não, se me ama ainda ou não. Você fez uma rosa nascer no meu jardim e em mim. Você deixou tudo tão verde, fez o sol raiar todos os dias e não permitiu que nenhuma planta dentro de mim murchasse. Houveram tempestades, mas você sempre esteve aqui para deixar o verde ensolarado. Seus sentimentos podem não ser os mesmos, nada aqui pode não dar certo e realmente nós não iremos conseguir deixar tudo da forma que uma vez foi porque aconteceu tanta coisa e isso me mudou como mudou você também. Se não for pra ser, saiba que tenho o melhor do universo pra te desejar e irei querer que ame tanto alguém, do tamanho de Saturno, assim como eu te amo e vou guardar esse amor a sete chaves, uma das coisas mais preciosas que tenho aqui dentro. Se for, prometo te lembrar sempre o tamanho da sua imensidão e dar um jeito para que construamos mais uma vez tudo que se quebrou.

Um dia, você vai lembrar dos meus poemas sobre nós. (2018)Onde histórias criam vida. Descubra agora