QUARENTA E QUATRO

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Wade


– Espera, Wade! – gritou Dana quando eu já tinha passado pela recepção e seguido até o elevador.

Olhei para trás e a vi cortar a frente da secretária sem se importar com o desagrado da mulher. As poucas pessoas do RH e financeiro que transitavam por ali àquela hora também olharam para minha irmã e, sensatamente, deram-lhe passagem.

Dana nem lhes deu atenção. Seu foco era me alcançar.

Eu já havia chamado o elevador, e quando suas portas deslizaram abertas, ela não perdeu tempo em passar por mim e se enfiar no cubículo espelhado.

A minha vontade era de deixá-la ali e descer pelas escadas. Foda-se! Eu não era mais criança para ela dar uma de irmã mais velha.

Porém, quando Dana depositou seus olhos ansiosos e aflitos sobre mim, respirei fundo e desisti de me livrar dela. Não importava que merdas estivessem na minha cabeça, ela não merecia se angustiar por elas.

Entrei ao seu lado e pressionei o botão do térreo, ao que a ouvi murmurar um "obrigada" na minha direção.

Foi um percurso silencioso até a cafeteria que havia no lado leste do edifício. A minha cabeça parecia a ponto de explodir e Dana sabia disso. Foi ela quem nos pediu o café do jeito que gostávamos e colocou uma cartela de analgésico na minha mão quando nos acomodamos numa mesa mais afastada.

– Tome dois. Pela sua cara, um não vai adiantar.

Enfiei dois comprimidos na boca e os engoli com a água extra que ela pediu com os cafés.

– Não vou ficar por muito tempo.

– Não estou te pedindo muito tempo, Wade. Só o suficiente para me contar o que está acontecendo com você. – Ela tocou a minha mão, nervosa. – Não quero perdê-lo, meu irmão. Você é tudo o que eu tenho.

Com a minha outra mão livre, agarrei a xícara de café e tomei um gole. Tinha gosto de nada, e desejei que fosse uísque.

– Você tem o seu marido.

– Sim. Tenho o meu marido, mas é impossível não me importar com quem eu amo.

Vi a tristeza em seus olhos escuros. Na verdade, já fazia algum tempo que eu não a via com qualquer outro sentimento que não estivesse permeado com um toque de tristeza também.

– Deveria se preocupar com você mesma. Não é feliz desde que resolveu se casar.

– O assunto aqui não sou eu, Wade. Quero vê-lo bem. Quero vê-lo como sempre foi.

– Não precisa se preocupar comigo.

– Ah, não? – Dana arqueou uma sobrancelha e deu um sorriso triste. – E se eu disser que me preocupo quando é óbvio que o meu irmão está se afundando por quem não presta?

– O que você me respondeu quando eu lhe disse essas mesmas palavras?

– Que a vida era minha.

– Então já tem a sua resposta.

Enquanto Dana franzia a testa para mim, terminei o café e fiz menção de me levantar. Antes que eu desse um passo, porém, ela me segurou pelo braço.

– Wade...

– O quê?

– Você se apaixonou, não é? Dá para ver isso. Só que ela não merece você. Se merecesse, teria ficado.

Eu baixei as duas mãos sobre a mesa e me inclinei até que nossos olhares ficassem no mesmo nível.

– Pouco me importa quem merece o quê, Dana. – Furioso com todos os sentimentos urgentes e confusos que me consumiam, continuei: – Assim como pouco me importa o que ela pensa que quer ou o que a tenha feito ir embora. Eu vou atrás dela, vou encontrá-la.

Dana assentiu devagar, mas eu sabia que não iria desistir.

– Paixões naufragam em pouco tempo, Wade. E do jeito que aquela desgraçada nos perseguiu de todas as formas, me dói saber que você está desse jeito por causa dela. Mesmo assim – ela acrescentou quando abri a minha boca –, acima de tudo está a sua felicidade, então quero que saiba que posso contratar um pessoal que Clayton conhece para ajudar na sua busca. Eles não são muito simpáticos, mas são discretos.

– Prefiro não envolver ninguém.

– Só quero o seu bem, meu irmão. Só quero que um dia você me diga que está bem, que está feliz.

Eu também queria. E queria poder ouvir o mesmo de Dana.

– Eu também quero que um dia você me diga que está feliz, minha irmã.

Nós nos olhamos por sobre a mesa por longos segundos, em uma compreensão que somente irmãos poderiam compartilhar, e só então a beijei na testa e fui embora.



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