SESSENTA

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Wade


Aconchegados um no outro na cama, observei o rosto de Rhea, seus olhos fechados e as faces úmidas. Quando afastei uma mecha de cabelo vermelho para trás da sua orelha, ela se mexeu, demonstrando que na verdade não conseguira dormir ainda.

Estávamos inquietos, num silêncio quebrado apenas pelas nossas respirações.

– Qual a cor natural do seu cabelo? – perguntei, acariciando os fios pintados e macios. Estava hipnotizado com seu brilho na penumbra do quarto.

Vi suas sobrancelhas franzirem, e logo as pálpebras pesadas se abriram e ela respondeu:

– Castanho. Castanho comum.

Eu deixei que meus olhos lhe mostrassem o que eu achava daquela resposta.

– O que foi? – ela quis saber, sem entender a minha expressão.

– Você disse comum. Só que não há nada de comum em você, Rhea.

Ao ouvir aquilo, vi os seus lábios se curvarem num sorriso. Tímido, inseguro, singelo. Seus olhos brilharam e logo ela estava chorando novamente. Eu nunca a vi sorrir assim, e tal visão somada às lágrimas fez o meu coração apertar-se e a raiva voltar.

Ela estava tão frágil e cansada. Tão infeliz. E ainda assim continuava a ser um formoso anjo, o meu anjo.

Entramos a madrugada conversando e nos tocando. Não era um contato sexual, eram apenas duas pessoas que precisavam estar juntas, conhecerem-se e saberem que não ficariam mais sozinhas.

Eu não soube quando dormi, só que foi depois de Rhea suspirar e voltar a aninhar o rosto no meu peito. Já não havia mais nenhuma lágrima caindo silenciosamente pelos cantos dos seus olhos fechados e sua respiração estava compassada.

Pela primeira vez nós dormimos um nos braços do outro sem transformar o ato em algo carnal. Era mais tranquilo, mas ao mesmo tempo havia uma força e intensidade que nenhum dos dois conhecia até então.

Entendíamos que estávamos nos encaminhando para algo duradouro, tanto que eu sentia a necessidade de abrir a minha pele e guardá-la dentro de mim, protegê-la, mantê-la longe de tudo.

Ainda assim, parte da minha mente estava longe. Preocupava-me com a segurança de Dana nas mãos de Clayton. Ela sabia que o marido era um filho da puta, mas não que havia matado alguém.

Ela estaria sozinha àquela hora, ou dormindo ao lado de um assassino, totalmente indefesa?

Pensei em ligar para ela, mas isso poderia ser bem mais arriscado. Dana andava diferente em alguns aspectos desde que se casou, mas não costumava guardar as coisas para si, então era capaz de querer encarar o covarde antes que eu fizesse isso. Era a sua preocupação de irmã.

Foi por isso que prometi a Rhea que resolveria tudo pela manhã. Conhecendo Dana como eu conhecia, era melhor não arriscar que ela soubesse do que aconteceu e agisse por conta própria. Ela enfrentaria Clayton, fosse pela jovem que ele matou, fosse para me manter longe de cometer uma besteira.

Tudo bem, eu aguardaria e iria até a casa deles no dia seguinte. Explicaria a situação e depois de levá-la comigo e com Rhea - mesmo que ela protestasse -, faria o que era necessário. As duas precisavam estar seguras antes que Clayton e eu acertássemos as contas.

Quando o amanhã por fim chegou, a luz do sol já se infiltrava pelas janelas que permaneceram abertas durante toda a noite. Rhea continuava com a cabeça do meu peito, e eu tinha a leve impressão de termos nos mantido colados um no outro mesmo durante o sono.

Observei seus olhos inchados pelo choro, seus traços de exaustão acentuados após a nossa conversa. Envolvi sua nuca com a mão e puxei-a para uma carícia com meus lábios.

– Bom dia – murmurei quando seus olhos se abriram e fitaram os meus.

– Bom dia – respondeu ela.

Beijei a linha do maxilar delicado, então subi por sua bochecha até a têmpora e sobrancelhas antes de explicar:

– Vamos tomar um café e então ir até a Dana.

– Ela me odeia.

– Preciso que a minha irmã fique segura.

– Eu sei. É por isso que você vai até ela e eu me viro com o Clayton.

Segurei-a quando a senti tentar sair de cima de mim e se erguer da cama.

– Não. Não quero mais você envolvida em nada disso.

Rhea deu um suspiro cansado e a careta que fez me alertou.

– Está com dor. Vou buscar um analgésico.

– Não preciso de analgésico, Wade, só de justiça. E para isso não é necessário que você se envolva mais.

– Foda-se, eu já estou envolvido. Ou você não percebe que é da segurança da minha irmã e da minha mulher que estamos falando?

O silêncio se estendeu conosco nos encarando, e agora Rhea tinha uma expressão de incredulidade, até mesmo de espanto.

Ela nem conseguia proferir qualquer palavra, então eu envolvi seu rosto com as mãos.

– Pois é, é isso mesmo que você ouviu. Portanto, vocês duas irão se entender uma com a outra e me deixar resolver isso – sentenciei, e não falaria duas vezes.



Espero que estejam gostando. :D

FUROROnde histórias criam vida. Descubra agora