QUARENTA E TRÊS

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Duas semanas depois

Wade


Irrompi no escritório de Clayton e o encontrei sentado na poltrona atrás da mesa, as mãos por baixo da saia da secretária. A camisa dele estava com os punhos dobrados até perto dos cotovelos, o cabelo grisalho desalinhado, e a gravata e as abotoaduras se encontravam em cima da mesa de modo displicente.

A mulher, uma ruiva magra e com o rosto de ninfa, tratou de se afastar dele com o susto da minha entrada repentina. Olhando para mim com certa impaciência, ela ajeitou as próprias roupas e a postura.

Indiferente à interrupção, Clayton se levantou da cadeira e seguiu até a vista panorâmica proporcionada pelo vidro espelhado. Ele abrangia a parede inteira dos fundos do escritório e só por tal cenário já valia a pena trabalhar na cobertura.

Friamente, meu cunhado ordenou que a mulher servisse uma bebida para nós e se retirasse.

Dispensei a bebida com um gesto de cabeça, e a mulher serviu apenas um copo e o deixou na mesinha em frente ao sofá que havia na antessala do escritório. Sem mais instruções, ela saiu com discrição.

Concentrado na cidade que se estendia diante dele, e no sol de final de tarde, vi o homem enfiar as mãos nos bolsos da calça do terno sob medida e ignorar as formalidades reservadas aos empregados.

Eu não dava a mínima para a porra das formalidades, além de que já fazia muito tempo que Dana não precisava dos meus avisos e da minha proteção. O marido vivia trepando com alguma ruiva falsificada em qualquer lugar e a minha irmã sabia muito bem disso, então não perdi tempo me desculpando ou quebrando a cara do homem. Apenas informei:

– Estou me desligando da empresa.

Finalmente eu ganhei a atenção de Clayton.

– Você precisa tomar a frente dos negócios quando eu me candidatar.

– A Dana fará isso por mim.

– Reconsidere.

– Não há mais nada que reconsiderar.

Clayton me olhou com a expressão furiosa, parecendo que em verdade queria me convencer aos socos. Ele nunca aceitou bem não ter as coisas do seu modo. Sempre mandou e desmandou dentro e fora de casa.

– Então tire mais uns dias, um mês. Resolva essa porra que é óbvio que está te incomodando. Depois falamos em desligamento.

A porta se abriu naquele instante, e uma voz se intrometeu:

– Desligamento? – Era Dana, olhando de mim para o marido e de volta para mim. – O que está acontecendo aqui?

– O seu irmão está com a cabeça fodida. – Clayton respondeu, num tom forte o suficiente para que minha irmã estremecesse. – Estou lhe dando uns dias para repensar.

Dana se aproximou de mim.

– Não pode se afastar. Esta empresa é da nossa família. Não pode simplesmente largar tudo.

– Você sempre quis isso aqui, Dana. E vocês dois dão conta sem mim.

– Não me interessa se damos conta ou não. – Ela segurou meu rosto com as mãos e me fez baixar a cabeça. Olhou atentamente, procurando qual o problema. Por fim, murmurou: – Somos uma família. Você é nosso braço direito.

Impedi-me de falar o que estava travado na minha garganta. Impedi-me de falar que eu era o braço direito deles porque precisavam de mim para limpar as merdas que eles faziam por aí. Na verdade, as merdas que Clayton fazia e que Dana queria que eu escondesse em covas rasas.

Mas a minha irmã pareceu entender o que se passava na minha cabeça, porque se voltou para o marido e perguntou:

– Quanto tempo você deu a ele?

– Um mês.

Ela assentiu e olhou para mim novamente.

– Então nós vamos antecipar as suas férias mais que merecidas amanhã. E hoje você vai tomar um café comigo.

Eu afastei as mãos dela do meu rosto e saí do escritório, decidido a mandar para o inferno tudo aquilo.

Não queria um café, muito menos tempo para pensar. Cometi um erro. Um erro que jamais voltaria a cometer.



Consegui cumprir a promessa! Se estiverem gostando, já sabem: comentários, estrelinhas e adicionamentos nas listas de leitura são muito bem-vindos. ;D

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