Duas semanas depois
Wade
Irrompi no escritório de Clayton e o encontrei sentado na poltrona atrás da mesa, as mãos por baixo da saia da secretária. A camisa dele estava com os punhos dobrados até perto dos cotovelos, o cabelo grisalho desalinhado, e a gravata e as abotoaduras se encontravam em cima da mesa de modo displicente.
A mulher, uma ruiva magra e com o rosto de ninfa, tratou de se afastar dele com o susto da minha entrada repentina. Olhando para mim com certa impaciência, ela ajeitou as próprias roupas e a postura.
Indiferente à interrupção, Clayton se levantou da cadeira e seguiu até a vista panorâmica proporcionada pelo vidro espelhado. Ele abrangia a parede inteira dos fundos do escritório e só por tal cenário já valia a pena trabalhar na cobertura.
Friamente, meu cunhado ordenou que a mulher servisse uma bebida para nós e se retirasse.
Dispensei a bebida com um gesto de cabeça, e a mulher serviu apenas um copo e o deixou na mesinha em frente ao sofá que havia na antessala do escritório. Sem mais instruções, ela saiu com discrição.
Concentrado na cidade que se estendia diante dele, e no sol de final de tarde, vi o homem enfiar as mãos nos bolsos da calça do terno sob medida e ignorar as formalidades reservadas aos empregados.
Eu não dava a mínima para a porra das formalidades, além de que já fazia muito tempo que Dana não precisava dos meus avisos e da minha proteção. O marido vivia trepando com alguma ruiva falsificada em qualquer lugar e a minha irmã sabia muito bem disso, então não perdi tempo me desculpando ou quebrando a cara do homem. Apenas informei:
– Estou me desligando da empresa.
Finalmente eu ganhei a atenção de Clayton.
– Você precisa tomar a frente dos negócios quando eu me candidatar.
– A Dana fará isso por mim.
– Reconsidere.
– Não há mais nada que reconsiderar.
Clayton me olhou com a expressão furiosa, parecendo que em verdade queria me convencer aos socos. Ele nunca aceitou bem não ter as coisas do seu modo. Sempre mandou e desmandou dentro e fora de casa.
– Então tire mais uns dias, um mês. Resolva essa porra que é óbvio que está te incomodando. Depois falamos em desligamento.
A porta se abriu naquele instante, e uma voz se intrometeu:
– Desligamento? – Era Dana, olhando de mim para o marido e de volta para mim. – O que está acontecendo aqui?
– O seu irmão está com a cabeça fodida. – Clayton respondeu, num tom forte o suficiente para que minha irmã estremecesse. – Estou lhe dando uns dias para repensar.
Dana se aproximou de mim.
– Não pode se afastar. Esta empresa é da nossa família. Não pode simplesmente largar tudo.
– Você sempre quis isso aqui, Dana. E vocês dois dão conta sem mim.
– Não me interessa se damos conta ou não. – Ela segurou meu rosto com as mãos e me fez baixar a cabeça. Olhou atentamente, procurando qual o problema. Por fim, murmurou: – Somos uma família. Você é nosso braço direito.
Impedi-me de falar o que estava travado na minha garganta. Impedi-me de falar que eu era o braço direito deles porque precisavam de mim para limpar as merdas que eles faziam por aí. Na verdade, as merdas que Clayton fazia e que Dana queria que eu escondesse em covas rasas.
Mas a minha irmã pareceu entender o que se passava na minha cabeça, porque se voltou para o marido e perguntou:
– Quanto tempo você deu a ele?
– Um mês.
Ela assentiu e olhou para mim novamente.
– Então nós vamos antecipar as suas férias mais que merecidas amanhã. E hoje você vai tomar um café comigo.
Eu afastei as mãos dela do meu rosto e saí do escritório, decidido a mandar para o inferno tudo aquilo.
Não queria um café, muito menos tempo para pensar. Cometi um erro. Um erro que jamais voltaria a cometer.
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Consegui cumprir a promessa! Se estiverem gostando, já sabem: comentários, estrelinhas e adicionamentos nas listas de leitura são muito bem-vindos. ;D
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FUROR
Literatura FemininaAs sombras a espreitam onde quer que ela esteja. A culpa, o arrependimento e a fúria pelo que deveria ter impedido a todo o custo. Durante o dia, ela esquiva tais sentimentos com seus planos de vingança, mas quando a exaustão a domina e ela se rende...