QUARENTA E SEIS

7.3K 598 50
                                    

Wade


Eu estava perdido.

Frustrado.

Fodido.

Não ia desistir dela, mas o raio da mulher que sempre dava um sinal que fosse de vida se manteve silenciosa até agora, parecendo puni-lo de alguma forma.

Ou será que já tinha conseguido o que queria e nunca mais voltaria? Poderia ter vindo atrás de Clayton enquanto eu bancava o idiota pensando em como encontrá-la e esperando por ela. Ou então ela poderia ter sumido do mapa agora que tinha em mãos o que quer que estivesse procurando na cabana...

Que porra de pensamentos animadores.

Logo que voltei para a cidade, até pensei em pressionar Clayton a respeito dela. Ele poderia me dizer se Rhea viera atrás dele uma vez que a odiava e a queria longe. Seria bem fácil tirar-lhe informações sobre a vida dela, também.

Improvável que ele soubesse muita coisa, claro, porque dificilmente ela seria especial em sua coleção de amantes ao ponto de Clayton lembrar algo dela.

Dana, por outro lado, teria me dito lá na cafeteria se soubesse de alguma informação útil em minha busca. Como ela mesma falou, queria me ver feliz apesar do que pensava de uma das antigas amantes do marido.

É, eu estava mesmo com a porra das mãos atadas.

E com a porra da mente fodida também.

Sem mais conseguir controlar a frustração e a fúria, segui para o minibar no canto da sala e me servi de dois dedos de uísque. Sabia que precisava da minha lucidez, que devia pensar com clareza, mas o álcool não ia piorar o que se tornara um constante caos.

Tomei um longo gole da bebida que me acompanhava pelas noites desde que abandonei a cabana, quando desisti de esperar por Rhea ou de encontrar qualquer coisa que me explicasse os motivos dela. Agora, tinha de me concentrar no que eu sabia. E para isto, voltei ao princípio daquela merda toda: por que ela foi embora furtivamente? Que tipo de negócios ela e Clayton tinham? O que havia de tão importante entre eles que a fizesse persegui-lo por tanto tempo?

Será que ela encontrou o que foi buscar na cabana? E por que levou consigo as imagens das câmeras? E por que deixou um livro caído no cascalho, perto da porta de entrada?

Deixando o copo de uísque no bar, segui até a mesinha de centro da sala e agarrei o livro em questão para me ajudar a entender.

Abri na página onde havia uma letra caprichada e feminina e li pela milésima vez:


Com todo o meu amor, Sarah.


Perguntei-me se Sarah era o verdadeiro nome de Rhea. Eu não sabia nada sobre a mulher.

Só que usa o sexo como válvula de escape, que quer Clayton de todas as formas e que têm terríveis pesadelos...

– Sarah... – provei o nome na língua, mas não parecia combinar, tal qual o uísque para alguém que tem sede de uma única mulher. Era um nome bonito, mas... Não. Não encaixava com o pouco que eu conhecia dela.

Passei uma mão pelos cabelos e analisei cada uma das páginas antigas outra vez. Não havia deixado coisa alguma passar, não havia nada escrito à caneta além daquela frase simples.

– Maldição...

Indo contra meu próprio conselho de não exagerar no álcool, que eu segui desde a partida dela, busquei o copo e a garrafa de uísque e coloquei-os na mesinha de centro. Então, sentei-me no sofá com o livro.

Estava cansado daquele tumulto interno.

Estava enredado naquela mulher, mesmo quando pouco sabia dela.

Estava enlouquecido. Derrotado. Fodido.

Não ia desistir, mas qual a maldita chance que eu tinha de encontrá-la a partir do nada?

Bebi e continuei olhando o livro. Então bebi mais e mais, como o louco que eu me tornara por causa dela. Dava as boas-vindas ao ardor do uísque amadeirado que queimava minha garganta enquanto a letra feminina embaçava diante de mim.

Com o olhar cativo, eu a estudei, procurando respostas que, até esse momento, ainda não conseguira encontrar. Aquela mulher era, verdadeiramente, um fodido quebra-cabeça. Digna de uma longa e prolongada análise.

Sorvi mais um ardente gole do meu copo, absorto, e não tardei a esquecer do copo na mão, a tempestade de emoções conflitantes eclipsando o prazer do uísque, o olhar vítreo perdendo-se nas lembranças inacreditáveis do último encontro na cabana.

Havia sido inesquecível. Indescritível. O primeiro encontro em que pude entender um pouco mais a respeito dela. Um quase nada, mas ainda assim significativo.

Maldita covarde. Fugiu porque entendeu que foi importante?

Desviei o olhar do livro e fitei a garrafa de uísque. Já havia bebido mais do que pretendia.

Que diabos.

Que merda.

Será que ela viria atrás de mim? Ela disse que aquele não era um adeus, então ela viria. Foi uma promessa.

De repente, acordei quando a campainha do apartamento tocou. Eu havia cochilado no sofá, e era quase nove da noite.

Merda, se fosse Dana, teria ligado ao invés de aparecer sem avisar, mesmo estando preocupada. Eu iria deixar o diabo atender.

E se for Rhea?, perguntei-me, levado mais pelo álcool que pela razão.

Largando o copo vazio que permanecia em minha mão sobre a mesinha, atravessei a sala e olhei pelo olho mágico... e me deparei com a porra de uma alucinação muito bem-vinda.

Abri a porta e, enganadoramente casual, recostei-me nela, esperando que a minha alucinação falasse enquanto eu a fitava e me perguntava como diabos ela conseguiu passar pelo porteiro.

Quando ela só sorriu para mim sem dizer absolutamente nada, cerrei o maxilar, controlando-me, e então lhe perguntei em tom suave:

– Que porra a fez fugir de mim, ruiva?



O Wade é mais duro no início de Furor, mas ele consegue interpretar e absorver o que a Rhea sente no decorrer do encontro deles e deve ser por isso que o pobrezinho anda meio louco nesses últimos capítulos. A Rhea tirou o chão dele. :/

Espero que estejam gostando. Votinhos, comentários e adicionamento nas listas de leitura são muito apreciados. :D Lembrando que Furor é um experimento e vocês são bem-vindos a comentar e colaborar com as melhorias da história. ;D

FUROROnde histórias criam vida. Descubra agora