SESSENTA E NOVE

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Dana


No fundo eu sempre soube que a morte de Clayton não era acidental.

E era por isso que os dias que se seguiram ao seu enterro foram de absoluto pânico. Já não havia nada que eu pudesse fazer para impedir que meus nervos se sobrepusessem à lógica, pois eu sabia que o desastre estava próximo, pairando sobre a cabeça da única pessoa que restou para eu me importar nesta vida.

Wade.

E, por consequência, também havia a mulher com quem meu irmão se importava. Se acontecesse algo a ela, Wade se perderia na mesma dor profunda que me acometia, e eu não queria isso para ele.

Perder quem se ama não é fácil, e era exatamente por isso que eu não estava disposta a perder mais ninguém.

Um artigo, um livro e abotoaduras. Era isso o que Wade me disse que Rhea guardava. E um crime sem punição.

Meu Deus, eu me sentia ficando louca de tanto pensar, de tanto esperar que a qualquer momento alguém viria e anunciaria a morte do meu amado irmão. E as noites eram as piores. Eu já não conseguia dormir, fitando o teto sobre a cama e me perdendo em conjecturas. Ficava às voltas com meus pensamentos angustiantes, com os meus medos e paranoias.

Imaginava que uma hora ou outra Wade e sua mulher andariam pela rua e seriam assaltados. Via-os mortos e encharcados no próprio sangue, caídos numa calçada qualquer exatamente como aconteceu com Clayton.

E eu não teria como fazer nada para impedir tal desgraça.

Não. Eu tinha sim. Entendia agora que não era a dor e o arrependimento que me davam coragem e força, mas sim o medo. E eu tinha muito medo pelo meu irmão.

Por sorte, tudo era negociável. E a negociação caiu no meu colo no mesmo dia em que Clayton foi enterrado. Uma proposta inteligente, um plano bem elaborado que encerraria de uma vez o passado.

Desde que eu tivesse a certeza de que conseguiria afastar Wade, tal negociação acabaria com o meu tormento e o manteria seguro. Caso contrário, o meu futuro era certo, mas o do meu irmão e o da mulher não seriam.

Sim, eu estava pronta, havia tomado a minha decisão.

Naquele momento, ouvi a batida na porta do escritório.

– Entre – ordenei, trazendo meus pensamentos para a conversa que teria a seguir.

– Sra. Bryant – disse meu mais antigo e inesperado aliado.

Observei Roger dar um passo adiante e fechar a porta atrás de si. Eram três da manhã, seu turno estava na metade e como eu não conseguia dormir, preferia ficar no escritório, dando início às tarefas necessárias para que tudo ficasse pronto para a minha partida.

– Queria falar comigo? – perguntou ele.

– É sobre aquele assunto.

Roger assentiu e aguardou. Eu respirei fundo e continuei:

– Farei Wade aceitar ir para longe com a mulher.

– Entreguei o cartão de uma pousada para Rhea – disse Roger. – Quando ela entrar em contato para saber sobre a vaga, irá descobrir que a propriedade está à venda. Faça com que seu irmão feche negócio. Precisamos que eles partam o quanto antes.

Foi a minha vez de assentir.

– Eles estarão longe. Vivendo as vidas deles e nos deixando em paz.

– É assim que tem que ser.

– E eu me ocuparei da Linda só no caso de ser necessário.

– Será necessário – Roger me corrigiu, sério como sempre. – Não correremos riscos de essa merda respingar.

Eu respirei fundo. Ele tinha razão. Linda não nos deixaria seguir em frente. Ela era o principal motivo de ainda estarmos ali.

Com um assentimento, estendi uma pasta com tudo o que ele precisaria.

– Foi bom fazer negócios com você, Sr. Brown.

Roger pegou o envelope, olhou para mim uma última vez e saiu, fechando a porta atrás de si suavemente.



Olá, queridos. Escrevi e reescrevi este capítulo, mas tive de lembrar a mim mesma que Furor é um experimento, caso contrário não conseguiria postá-lo rsrsrsr

Roger e Dana... Eu me pergunto por que causa, motivo, razão ou circunstância... ^^

Obrigada pelos comentários, vou respondê-los aos poucos. :D

Bom feriado de Carnaval a todos!

FUROROnde histórias criam vida. Descubra agora