Wade
Rhea estava transtornada. Ao ponto de Lucas, Roger e Simas precisarem me ajudar a contê-la.
Ela gritava sem parar. Sobre não acreditar na morte do canalha, sobre a injustiça de ele não ter sofrido, sobre estarem mentindo e escondendo-o dela, sobre não ser verdade que ele tinha se livrado assim tão fácil do que fez. Era incoerente algumas vezes, mas em outras eu a entendia, e já não aguentava mais vê-la sofrer daquele jeito.
– Porra, lhe dê um sedativo! Um calmante! – exigi a Lucas, alto o suficiente para que ele me ouvisse apesar dos gritos.
– Não posso – negou ele, quase levando uma cabeçada dela. – Trouxe um calmante prescrito para a Dana, mas não vou arriscar se não souber o que ela pode tomar.
Foda-se! Tudo bem que Rhea nos chutasse, arranhasse e socasse até toda a fúria e revolta se esvaírem. O problema era que, ao mesmo tempo, ela se debatia e feria a si mesma, e isso me partia o coração.
Odiando-me por ter de usar da força, consegui prendê-la por trás, juntando seus braços ao corpo na altura dos cotovelos. A sua cabeça e pernas se debatiam, e eu tentava me desviar dos golpes. Acabaria com a porra do nariz partido ao final daquilo, mas que assim fosse, desde que a mente dela voltasse de onde quer que tenha se perdido.
Merda. Não queria segurá-la daquele jeito quando seu corpo ainda estava se recuperando dos ferimentos anteriores, mas não havia escolha. Ela sentiria cada parte de si dolorida quando a fúria a deixasse.
Restou-me esperar ali, amortecendo seus golpes enquanto Roger a prendia pelos joelhos para que parasse de chutar. Sem saber no que poderiam ajudar, Lucas e Simas trataram de arrastar os móveis para longe de nós, antes que acabássemos feridos com eles.
Por fim, depois do que pareceram os segundos mais longos da minha vida, o que a venceu foi o cansaço, e quando isso aconteceu, Rhea perdeu as forças e caiu num choro desesperado.
O pior havia finalmente passado. Ou pelo menos era isso o que eu esperava.
Os três homens se afastaram e eu a peguei nos braços. Dana e a secretária, além dos demais empregados que vieram em nosso auxílio devido aos gritos, só nos assistiam, aturdidos com a cena.
– Leve-a para um dos quartos de hóspedes – disse Lucas. – Vou examiná-la e conversar com ela antes de lhe dar um calmante.
Ao ouvir a ordem, Roberts foi na frente enquanto eu a levava nos braços. Ele abriu a porta do primeiro dos quartos do segundo andar e voltou a fechá-la discretamente quando nós passamos e eu o dispensei.
Sentei-me na cama com ela no colo, ouvindo-a soluçar com o rosto em meu pescoço. Rhea já tinha chorado tanto desde a noite passada que eu pensei que nunca veria o seu sofrimento ter um fim.
Merda, eu sabia o que a morte de Clayton poderia significar para ela, mas foquei tanto em Dana que não pensei que Rhea acabaria descobrindo tudo antes de eu pensar em como lhe contar.
– Clayton... Clayton... – Ela estava rouca de tanto ter gritado e não conseguia formular uma frase.
– Shhh... – Fiz-lhe um carinho no cabelo com os dedos. – Não pense em nada agora. Já acabou.
– Mas...
– Por favor, Rhea. Tudo acabou.
Ficamos ali até ela parar de chorar. Então a depositei na cama delicadamente e tirei seus sapatos. Deitei-a contra os travesseiros, cobri-a com uma manta leve e fui até a porta. Como imaginei, Lucas nos esperava no corredor.
Com um assentimento meu, ele entrou e conversou com Rhea. Mediu sua pressão e a medicou depois de ela responder uma série de perguntas. Queria lhe pedir que examinasse os outros ferimentos, mas aquele ainda não era o momento.
Eu fiquei com ela enquanto tomava os comprimidos. Um era para a dor, a pedido meu, e o outro era para acalmá-la.
Então ela finalmente caiu no sono.
❧
Queridos, eu não sei muito sobre medicina, mas pelo que pesquisei:
1. os sedativos via intravenosa só podem ser ministrados em hospitais.
2. é necessário conversar com o paciente e examiná-lo antes de saber o que lhe receitar.
Se alguém aí for da área ou conhece alguém que seja e quiser confirmar isso, serei realmente grata. Acredito que os escritores não podem de maneira alguma passar informação errada adiante, mesmo numa ficção. ;)
Beijos da Ary.
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FUROR
Literatura FemininaAs sombras a espreitam onde quer que ela esteja. A culpa, o arrependimento e a fúria pelo que deveria ter impedido a todo o custo. Durante o dia, ela esquiva tais sentimentos com seus planos de vingança, mas quando a exaustão a domina e ela se rende...