CINQUENTA

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Na casa de Sarah, há 4 anos e alguns meses


Despi o sobretudo e o pendurei no suporte para roupas perto do aparador. Mantive o casaco, as luvas e o cachecol, com foco em extrair a caixinha com os brincos de dentro da sacola da relojoaria, meu presente para ela.

Retirei as abotoaduras e as coloquei sobre o aparador junto às chaves do carro. Um colecionador fanático não admitiria que uma mulher as perdesse por descuido.

Sarah estava no meio da sala, perto do sofá. Os pés descalços com as unhas pintadas de rosa. O vestido que usava era branco, e seus cabelos loiros iam até pouco acima dos ombros.

Eu não gostava das loiras, mas ela era tão bela e meiga... Um peixinho dourado num mundo de tubarões.

Mas fazia três meses que esse peixinho dourado se achava com poder suficiente para me dar um ultimato: ou eu me divorciava, ou ela me abandonava.

Ainda sentia o meu estômago revirar, de raiva e de muitas outras emoções estranhas à mim. Incomodava-me as exigências daquela fedelha. Ela sabia o que representava para mim e explorava minhas fraquezas. Era muito poder sobre alguém, e eu jamais iria conseguir admitir tal prepotência.

Mesmo que desgraçadamente eu a quisesse com todo o meu ser.

– Boa noite, princesa – cumprimentei-a sem sorrir. Às vezes eu tinha de usar da frieza e firmeza. Eram as minhas aliadas quando lidava com crianças.

Sarah não me devolveu o cumprimento. Apenas caminhou em minha direção com uma folha que eu não havia notado em suas mãos.

Erguendo-a na frente dos meus olhos, ela falou:

– É por causa disso que nós sempre acabamos rompendo. É por causa dessa sua insensibilidade e covardia. Mas eu avisei a você, desta vez é sério.

Olhei para a folha impressa com a matéria e a foto e estreitei os olhos. A mulher só sabia me fazer exigências. Ela sabia que podia. E eu lhe dei corda para que ela continuasse agindo assim.

Agarrei a folha e a coloquei sobre o aparador, junto ao presente que ela não estava merecendo receber.

– Você deveria confiar em mim – devolvi num tom enganosamente calmo. Irritava-me aquela mesma conversa de sempre.

– Não. Não, eu não deveria – rebateu Sarah, encarando-me com o rosto vermelho. Os olhos eram pura decepção. – Você nunca vai se divorciar, sempre virá até mim com falsas promessas.

– Nunca prometi que iria me divorciar. O que eu disse foi que teria sentimentos só por você. Amor. Paixão. Proteção financeira. – Arqueei a sobrancelha em deboche. – E que faria amor só com você.

– E aí está outra mentira! – gritou ela.

Eu queria mandá-la ao inferno. A fedelha outrora tão doce deu para me enlouquecer e me acusar, mas não estava na minha pele para saber como aquela merda funcionava.

– Dê-me tempo. Tudo é questão de tempo. O casamento foi um acordo desde o início, você bem sabe. A empresa precisa de mim. Não posso abandonar tudo de uma hora para outra.

– Eu sei que não pode. – Sarah deu mais um passo até mim, com os olhos cheios de lágrimas. – Mas o problema é que eu não tenho mais tempo para lhe dar.

– Claro que tem, você me ama.

Ela balançou a cabeça.

– Amei. Amei sim. Por mais de um ano inteiro, o suficiente para largar a minha vida por você. Mas não existe sentimento que seja tão forte que aguente para sempre num relacionamento assim.

– Que porra é essa que você está dizendo? Não seja ridícula. Chantagem emocional não rola comigo.

– Não estou sendo ridícula. – Sarah voltou a balançar a cabeça. – Não amo mais você. Sinto essa merda, essa confusão de sentimentos doentios que me faz mal, mas encontrei outra pessoa. Alguém que se preocupa com o que eu sinto. Que quer um futuro comigo. E iremos nos casar.

– Está blefando! – eu rugi, agarrando-a pelos ombros e a sacudindo. – Filha da puta, você está blefando para me fazer ceder!

– Não, eu não estou. – Sarah chorava. – Estou seguindo com a minha vida, só isso. Eu preciso. Me sabotei em todas as vezes que decidi me afastar de você, mas agora não há mais retorno. Não há mais retorno porque estou grávida. E o pai do meu filho é aceito pela minha família, além de que quer ter esse filho.

Aquilo me atingiu como um murro no estômago, deixando-me completamente sem ar.

Não. Não, não podia ser. Ela não podia fazer isso comigo. Não. Não podia. Não. Não.



Então, queridos, aqui está um pouquinho do passado. Espero que vocês estejam gostando. ;D Não se esqueçam de seguir o meu perfil ou de ficarem atentos às artes do Wattpad. Se FUROR ou SOMBRAS desaparecerem, não fui eu!

Obs.: leitura para maiores de 18 anos, gente. Não se esqueçam disso.

Beijos da Ary.

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