CINQUENTA E SEIS

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Rhea


Eu não concordei nem discordei. Wade tinha uma expressão estranha de descrença e algo mais. Fúria. Medo. Confusão.

– Depois daquela noite eu resolvi ir à polícia – corrigi-o. – Levei um dia inteiro para assimilar o que aconteceu. Não tinha ideia de o quanto isso poderia ser prejudicial para mim, eu não tinha dinheiro para conseguir um advogado. Mas antes eu fui atrás dos tios da Sarah, porque os desgraçados teriam de se explicar para a polícia também.

– E o que eles disseram?

– Nada. Mais tarde descobri que eles tinham passado aquele sábado se desfazendo das coisas da Sarah e deixando a casa vazia, porque o aluguel estava no nome da sobrinha apesar de não ser ela quem pagava. Mas naquela noite eu havia ido atrás deles para confrontá-los. – Engoli em seco, lembrando-me dos detalhes. – Quando eu bati na porta deles, eles não me atenderam. Dei a volta na casa, usei as chaves que eles escondiam dentro de um vaso de flor e entrei pela cozinha. E os encontrei mortos à mesa de jantar, os rostos sobre os pratos com os restos de comida. Encontrei um bilhete em que a velha dizia que não poderia viver sem a sobrinha, e que levaria consigo o marido.

– Arrependimento tardio?

– Nunca. Aqueles dois não fariam isso. Além do mais, não havia nada na cozinha que indicasse que ela preparou algo para eles comerem. Mas eu não chamei a polícia daquela vez tampouco. Saí de lá, tranquei a porta e desapareci com as chaves da casa. A partir de então eu pensei no que deveria fazer a seguir. Já tinha entendido que a polícia não procuraria por culpados se o cenário estivesse pronto e quando os familiares não insistissem, ela só fechava os casos e seguia adiante. Então eu só tinha de velar o corpo de Sarah e enterrar os dois velhos também. Não insisti na história junto à polícia porque estava com medo de ser acusada, Wade. Estava em luto pela minha amiga e me sentindo vingada pela morte dos tios cretinos, mas mais que tudo eu tinha medo de ir para a prisão por crimes que eu não cometi enquanto o assassino de Sarah ficasse por aí.

A mão de Wade era um punho tenso sobre sua perna. Ele não me ofereceu nenhuma palavra de conforto desta vez, somente mais questionamentos:

– Volto a perguntar: quais os negócios que você quer acertar com Clayton? Como chegou à conclusão de que foi ele?

– Só tenho um negócio com ele: eu vou matá-lo – respondi, séria. – Porque por esse crime eu aceito responder.

Afastei-me da janela e fui até a minha bolsa no sofá. Tirei dela o meu smartphone. Mostrei a Wade a foto que eu tirei das abotoaduras e da folha com a fotografia do casal junto ao artigo que estavam no aparador da sala naquela noite. – Encontrei isso no saco de lixo que os tios de Sarah me entregaram, com mais algumas roupas que eles consideravam indecentes e um punhado de papéis que havia numa gaveta. Tinha até um cartão que ela escreveu para contar ao novo namorado que eles seriam pais. – Engoli a dor. – Foi isso o que me fez pesquisar e seguir Clayton.

Wade olhou para as fotos, analisando-as bem.

– Não há como saber se são as mesmas abotoaduras. A reportagem poderia estar lá por outro motivo. Não significa que seja o Clayton.

– Eu sei. As abotoaduras podem ser do novo amante, o pai da criança. Mas para quê a foto do casal impressa? Será que o amante dela era casado e por isso era um segredo? Será que era alguém próximo desse casal? Eu passei esses últimos quatro anos em busca de respostas, Wade. De respostas ou provas. Imaginei muito mais situações do que tive certeza. E tudo o que eu consegui desde então foram dois suspeitos e um livro.

– Sei que não foi só ele quem você considerou como assassino durante todo esse tempo.

– Eu sei que você sabe.

Olhamo-nos por um longo tempo.

– Vai tentar me matar antes ou depois de uma confissão, Rhea?



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