SETENTA E DOIS

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Wade


Durante as semanas seguintes nós conseguimos colocar o imóvel de Rhea à venda e também marcar uma visita à pousada. Através do site, descobrimos que se tratava de um casarão antigo, e que precisava urgentemente de uma reforma. Já o restaurante ficava perto, numa estrutura separada, era aberto ao público em geral e estava em melhores condições.

Pelas fotos, o lugar era bonito, próximo à praia, e eu vi os olhos de Rhea ganharem um brilho diferente enquanto ela analisava cada paisagem e detalhe da propriedade e da pequena cidade.

Ela estava entusiasmada, o que me deixou em tal expectativa que passei a pesquisar sobre o local por mim mesmo e estudar a ideia com mais atenção. Se a reunião com a proprietária resultasse em Rhea optando por se mudar e trabalhar lá, era melhor que estivéssemos informados, até porque eu não a impediria. Teria de me adaptar.

Foram cerca de cinco horas de viagem de carro. A Sra. Esme, dona da pousada e do restaurante, era uma viúva cuja família conhecia os Brown a gerações. Ela nos recebeu de braços abertos, perguntando a respeito de Roger e pedindo que nós o trouxéssemos ali nem que fosse amarrado. O desnaturado não aparecia há anos para uma visita.

Rhea não estava preparada para uma recepção tão calorosa, como se todos fôssemos conhecidos de anos. Tomamos um café da manhã juntos na pousada, porque Esme tinha de estar no restaurante a partir das dez horas, e Rhea explicou um pouco sobre como havia sido sua vida profissional, não entrando em detalhes a respeito do motivo de ter deixado tudo para trás e decidido só agora estudar a possibilidade de abrir um restaurante para si.

Esme nos explicou sua própria situação. Já não estava mais procurando alguém para ajudá-la na cozinha. Pretendia vender tudo, pois era uma viúva sem herdeiros e já estava cansada de lidar com os negócios sozinha.

Eu vi Rhea silenciar ao ouvir a história daquela senhora. Sabia que em seu íntimo ela refletia sobre o fato de as duas quererem uma vida nova, embora Rhea pretendesse ir aos poucos, reaprendendo a seguir em frente.

Quanto a mim, havia me interessado pelo lugar desde quando pesquisei mais a respeito. A cidade era pequena, tranquila, com baixa criminalidade e vivia do turismo. Depois de chegarmos, também notei que o movimento era interessante e que o que faltava na pousada era investimento. Reformar o casarão, oferecer entretenimento e trazer outras opções de atividades para os hóspedes além da praia ali perto atrairia mais pessoas.

Havia público, Esme só não tinha mais a energia de continuar se dedicando ao lugar.

– Faz seis anos que o meu marido faleceu – ela comentou conosco. – Éramos só eu e ele, já que meus irmãos moram longe e não tivemos filhos. Tentei convencer a minha irmã a vir para cá, mas ela não vai se afastar dos netos. Se eu quiser companhia no que resta da minha velhice, terei de ir para lá.

Eu via a pena nos olhos de Rhea pela velha senhora mesmo enquanto nos dirigíamos para o centro da cidade. Passamos pelos pontos turísticos, observamos os turistas entusiasmados que falavam outra língua, olhamos restaurantes e pousadas que haviam ali perto. Não eram muitas, mas nenhuma tinha o espaço que Esme dispunha.

O restante do tempo que ficamos ali serviu para que conhecêssemos o lugar, mas pouco falamos sobre nossas impressões. Rhea conversou mais com Esme, e eu saí sozinho por mais vezes para conhecer melhor todo o resto.

Na manhã do quarto dia explorando a cidade e seu ritmo, Rhea demonstrava tanto entusiasmo que já estava pensando em aprender espanhol.

Encerramos nossa estadia passeando pela orla da praia depois do café da manhã. A ideia era pegar a estrada e almoçar no caminho. À tarde eu iria me encontrar com Dana na cafeteria perto do escritório. Precisava conversar com ela o quanto antes.

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