Capítulo 01: Segredos

1.3K 66 37
                                    

Nova Jerusalém, Paraíso

– O que está fazendo? – A voz doce de Rouen vinha de trás; ele desviou sua atenção do guarda-sol que tentava colocar de pé na areia para poder olhá-la.

Rouen estava maravilhosa naquele biquíni preto; seus cabelos castanhos refletiam o sol como se eles fossem parte do grande astro-rei. Ele parou o que fazia, olhou para o sol. Estranhou; não sabia o que era o sol, lera sobre ele em alguns livros de histórias, como o Silmarillion. Sentiu um peso na mão e, quando olhou, estava com o referido livro em sua palma. Sorriu, pois gostara da história e, ainda, fora o livro que Rouen "tomou" dele quando se conheceram próximo ao rio que corta a cidade de Rouen, na França.

– Você tem o mesmo nome de uma cidade. – Ele comentou. – Onde nos conhecemos.

– Não se cansa dessa piada, não? Estamos casados faz algum tempo já, né... – Ela falou um nome que soou estranho e familiar ao mesmo tempo.

Ela sentou-se na cadeira que estava ao lado do guarda-sol que ele tinha fixado no chão. Todavia, ele não havia terminado de colocá-lo naquela posição. Foi então que percebeu que era um sonho. Só podia ser; um sonho criado pela alma de Caleb que estava ganhando força dentro de si e agora estava afetando seu controle.

Vizard abriu os olhos. As paredes de pedra eram as mesmas dos últimos meses, apesar de ele não ter certeza absoluta do tempo, já que a luz que ilumina o Paraíso nunca cessa ali, mesmo dentro da sala, sem fazer sombra, nem mesmo a sua. Tinha certeza que estava no centro do Paraíso, na Cidade de Prata, ou Nova Jerusalém como é chamada agora. Fora ali que mais de cinco mil anos antes ele combatera e fora selado de volta ao Abismo na Primeira Guerra Celestial.

Por que não fala comigo?, ele perguntou com a mente, sabendo que Caleb estava escutando, mas se recusava a responder. A alma estava no fundo de sua mente, podia senti-lo, mas ele se recusava. Ao mesmo tempo, porém, o resto parecia completamente em silêncio; ele não sentia os outros Filhos do Abismo pela memória coletiva. Era mais ou menos quando estava no outro mundo, Duat, apesar de que lá, ele podia sentir os dois que haviam ido com ele, mas morreram no processo. Agora, desde que voltou, estava completamente isolado.

Cobriu os olhos com o antebraço; era a única maneira de esconder-se da luz e manter-se no escuro, apesar de que assim tudo parecia ainda mais solitário. Resolveu levantar-se. Respirou fundo; olhou em volta. Nada de diferente nas paredes de pedra, nem na cama de pedra, que era apenas uma placa de pedra saindo da parede. Então, pela centésima septuagésima terceira vez, ele assumiu sua forma verdadeira e, com isso, trouxe a armadura que ganhara dos deuses.

A armadura de ouro, de fato, era duas ombreiras com várias camadas uma sobre a outra, além de outras duas proteções laterais nas coxas. Alguns panos verde-água enfeitavam aqui e ali, principalmente para evitar o contato direto do metal com o pelo. Sua espada e seu machado, cuja lâmina era com a parte afiada para cima, estavam presos às costas. Ele gostou da ideia daqueles objetos desaparecerem e reaparecerem toda vez que ele assumia sua forma verdadeira.

Levantou ambas as mãos apontando para um único tijolo de pedra e se concentrou. Usou toda sua força e poder para tentar mover aquela pedra; ele podia sentir a pedra em seus dedos, como se estivesse tocando-a diretamente. Contudo, ela não se movia; ficava parada, firme, naquela posição.

A ira cresceu dentro de si, e com isso, seu poder. Nenhuma pedra se moveu; no entanto, pôde sentir os grãos de areia no chão. Conseguiu manipulá-los a amontoar-se diante de si; era uma pilha de apenas um centímetro de altura era muito pouco para fazer qualquer coisa.

Os anjos que vinham interrogá-lo sempre perguntavam sobre Jeremy, a alma humana que havia sobrepujado o controle de um dos Filhos e agora estava dentro da memória coletiva. Isso havia acontecido após a queda de Roma, quando os Filhos, liderados por Kifo, dominaram a cidade; mas, em seguida, juraram lealdade a Vizard. Jeremy controlou sua alma de volta, pois um dos Ryaks falhou ao tentar voltar a sua forma original e manter o poder da alma. Vizard fizera o possível para não revelar seus segredos, todavia, a Magia Celestial era muito difícil de resistir, chegando a ser impossível. Durante a Primeira Guerra Celestial os anjos não tinham esse poder.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora