Capítulo 15: Invasor

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Cleveland

Paraíso

A viagem de Nova York até Cleveland, onde tínhamos chegado naquela manhã, levou três dias, incluindo o tempo que ficamos em Grove. Durante todo o caminho, encontramos Filhos do Abismo que tentaram nos capturar, fosse quem fosse o chefe deles. Nós chegamos à cidade em noite cheia, cansados demais para qualquer coisa. Graças a feitiços continuados de Týr durante boa parte do trajeto, meu braço partido estava quase inteiro outra vez, não estava mais enfaixado, mas eu não podia colocar peso nele.

Uma pequena casa, depois de uma avaliação mágica feita por Týr, serviria de abrigo para nós durante a noite. Enquanto Týr, Thais e Lana tomavam banho – havia o suficiente para as três naquela casa –, eu fiz um jantar para nós. Coloquei a mesa e servi a macarronada – o único prato que eu sabia fazer sem erro – e esperei alguns minutos, mas as três não apareceram. O barulho de chuveiro havia cessado, indicando que elas tinham saído.

Chamei por seus nomes, mas ninguém respondeu. Peguei minha espada que tinha deixado sobre a pia e desembainhei-a. Outra vez, chamei por seus nomes, mas nenhuma delas respondeu. Cautelosamente, procurando ouvir qualquer movimento lá em cima, mas nada ouvi.

Quando subi o segundo lance, parei à parede, sem entrar pelo corredor anterior aos quartos. Olhei devagar, a espada pronta para atacar, se necessário. No fim do corredor havia uma janela e, por causa da luz que entrava por ela, não consegui ver o rosto de quem estava ali no fundo, mas sua sombra era muito bem visível. Pelo tamanho do tronco, eu sabia que era um homem.

Posicionei-me diante dele e apontei a espada antes de falar:

– Onde estão elas?

Ele não disse nada, eu apenas vi a sua cabeça levantando devagar. Dois brilhos surgiram na sombra que eu sabia ser sua cabeça, mas não um brilho alaranjado como imaginei, e sim um brilho prateado. Ao mesmo tempo, não era um prateado bonito, como se viesse dos anjos, e sim um prateado sombrio e sinistro. Eu sabia que algo estava errado; aquele não era um Filho do Abismo.

A sombra correu na minha direção, causando um espanto em mim; senti arrepios nos braços e nas pernas, mas passaram rápido – quase tão rápido quanto meu coração batia – o bastante para eu desviar, com um giro para o lado. Ele parou apenas quando estava no beiral que isolava a escada. Quando ele voltou-se para mim, por um segundo, seus olhos brilharam alaranjados; logo em seguida, voltaram ao tom prateado sombrio.

O estranho sacou uma espada do nada; eu já tinha visto isso acontecer antes, durante a Batalha de Roma. As armas dos anjos eram assim: invocadas do nada quando o anjo faz menção de puxá-la do cinto; contudo, as dos seres celestiais acendiam com o Fogo Celestial, enquanto a dele era simplesmente feita de metal.

O primeiro ataque veio de cima e foi pesado em meu ombro, que por pouco não foi deslocado. A sorte também estava do meu lado, pois o osso que estivera partido não se quebrou outra vez, mas não tinha como saber quantos golpes aguentaria. Eu sabia, então, que precisava desviar o máximo possível e evitar bloqueio. Nós começamos a dança; eu desviei, passei por baixo do braço ele, fazendo com que a espada fosse direto contra o chão. Eu estava atrás dele, e notei que a camiseta, que um dia fora branca, estava vermelha devido a grande quantidade de sangue; aproveitei a oportunidade para atacar, mas ele virou-se tão rápido que mal pude acompanhar com os olhos e me bloqueou.

Seu rosto estava contorcido em uma careta de dor, mas eu apenas não sabia se era por causa de suas costas ou tinha algo a ver com o ataque. Meu ombro sentiu a força dele, que aos poucos foi se virando contra mim; desvencilhei-me dele e recuei para o corredor. Evitei seus ataques por longos minutos, mas logo comecei a ficar cansado; o adversário era extremamente rápido.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora