Capítulo 37: Reymocell

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Xangai, China

Paraíso

Chutar a grade da cela não serviu para abri-la, pelo menos, fui capaz de liberar toda a raiva que eu sentia sobre o demônio Reymocell e sobre Lana, que havia destruído minha segunda chance de ter uma nova vida com Elena – uma falsa, mas eu sentia cada segundo como se fosse real. Hayley, que parecia estar tão abalada quanto eu, aproximou-se de mim. Senti sua mão em meu ombro; estava tão morna e reconfortante quanto o abraço de uma mãe.

– Estamos prontos para isso? – Ela disse. – Digo, podemos enfrentar aquele ser?

Eu apenas confirmei com a cabeça. Lana não disse nada. De nós, com certeza era a que estava mais preparada para lutar; eu apenas queria lutar. Eu precisava socar alguém, e eu queria que fosse o maldito demônio.

– Então vamos. – Ela disse; ela me afastou gentilmente da grade e abraçou-a com as mãos.

A temperatura de suas mãos aumentou drasticamente, fazendo com que o metal brilhasse. Senti o calor roçando minha pele; ele foi aumentando, até tornar-se quase insuportável. Fui para o fim da cela e Lana me acompanhou. Quando o metal estava fraco o bastante, Hayley chutou-o; ele se rompeu, abrindo passagem para nossa fuga.

Estávamos diante de um corredor feito de pedras cinza, mas ali, não havia qualquer outra cela, como se toda a prisão havia sido construída apenas para nós três. Ao fim dele, havia uma curva brusca para esquerda. Continuamos por ela; mais alguns segundos de corrida, estávamos em uma encruzilhada de quatro caminhos. Estranhei. Algo estava errado.

Seguimos em linha reta, apenas para chegar à outra encruzilhada, mas essa era em "Y". Seguimos pela esquerda e, no fim desse corredor, só poderíamos dobrar a esquerda. Para nossa surpresa, estávamos diante da cela que tínhamos acabado de fugir.

Um labirinto. Estávamos em um maldito labirinto.

Decidimos que, antes sair correndo pelo lugar desesperadamente, tínhamos que pensar em um plano. Eu tinha ouvido falar que o segredo para atravessar um desses era sempre virar para direita ou não tirar a mão de uma parede. Ambas pareciam que dariam muito errado.

Hayley, então, usou suas sombras para subir toda a altura da parede. Sem problemas, ela alcançou o topo e ficou ali parada por alguns momentos. Eu não conseguia ver ser rosto, mas pelo tempo que ela ficara lá em cima, parecia que ela estava tentando memorizar nosso caminho de saída. Quando ela desceu, o espanto era óbvio em seu olhar. Parecia que ela tinha visto um fantasma.

– Quilômetros. – Foi a única palavra que ela conseguiu dizer, mas foi o suficiente para nós entendermos.

O labirinto estendia-se por vários e vários quilômetros. Havia algo de errado, contudo. Aquele lugar não existia na Terra – ou eu saberia; ninguém tem um labirinto gigantesco sem que vire notícia. Ou seja, havia sido construído no Paraíso. Eu não conseguia imaginar como seria possível que um lugar daqueles fosse criado em tão pouco tempo – alguns meses apenas. A não ser que magia tivesse tudo a ver com isso.

– Conseguiu ver uma saída? – Lana perguntou.

– Eu não consegui ver o fim desse lugar. – Hayley retrucou. – E nós estamos no extremo oposto ao lado da saída.

– É possível que Reymocell tenha algum Ganaruryak sob controle? – Perguntei, imaginando as possibilidades. – Digo, ele tem um Manáryak, não?

– Se fosse algo usando sombras, eu saberia. – Ela retrucou. – Mas concordo que um lugar desses não pode ter sido construído, não desde a chegada de nós, os Filhos.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora