Capítulo 02: Jogo de Cartas

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Palos de la Frontera, Terra

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O som da arma sendo engatilhada fez com que Jared Blackwood abrisse os olhos, mas congelasse ao mesmo tempo. Ao seu lado, deitada na cama, havia uma mulher lindíssima, de pele queimada do sol, cabelos castanhos muito escuros e curvas perfeitas; sabia que era uma cigana. Ela dormia, não tinha ouvido o som da pistola. Tentou se lembrar de como havia parado naquela cama com aquela mulher; não se lembrava, e sorriu com isso, significava que a noite na taverna valera a pena.

Decidiu virar-se. Um homem branco, forte, vestindo o uniforme vermelho e dourado característico da marinha espanhola apontava a pistola para ele; o chapéu e a quantidade de medalhas em seu peito indicavam que ele era um oficial de patente alta, como capitão. Em sua mão, a pistola de cano longo para um único projétil; a quantidade necessária para Jared, já que o treinamento militar não o permitiria errar aquele tiro, ainda mais naquela curta distância.

Jared cutucou a mulher e mexeu-a para que acordasse. Ela resmungou algo completamente incompreensível, mas sentou na cama ao perceber o desespero de Jared. Seus seios grandes e firmes a mostra; Jared precisou conter-se para não agarrá-los, afinal, não era um cara armado que o impediria de satisfazer-se. O olhar de fúria do marinheiro, porém, acabou com sua vontade.

A mulher deu um grito ao perceber que os dois não estavam sozinhos; agarrou as cobertas com tudo e se cobriu. Nenhuma palavra foi dita; estava mais do que óbvio para Jared: aquela era uma mulher casada, e o homem devia ser seu marido. Talvez se lembrasse de que a mulher tenha dito algo sobre ele na taverna na noite anterior, mas não tinha certeza. O taverneiro tinha descoberto essa nova bebida que simplesmente deixava uma pessoa bêbada nos primeiros goles.

Considerou as possibilidades, enquanto a mulher tentava convencer o homem a não matá-los. Olhou pela janela por um segundo; imaginou que, pelo fato de não ver a rua, ele estava no segundo andar. Portanto, a queda não seria feia. Apertou o cérebro para lembrar se havia ou não um jardim na casa, mas a ressaca que começava a se instalar em seu cérebro não permitiu.

Delicada e cautelosamente, pegou o travesseiro. Decidiu que não iria pular. Se fosse rápido o bastante, poderia desviar do tiro e impedir que ele sacasse a espada presa em seu cinto. Foi o que fez. Jogou o travesseiro, no susto, o homem disparou; a bala atingiu em qualquer lugar que Jared não viu. Avançou contra o marido completamente nu. O marinheiro jogou a arma no chão, não teria tempo de carregá-la. Sua mão direita foi para a espada, mas Jared agarrou seu pulso e o impediu de desembainhar.

Jared não era um lutador, mas sim um amante. Um pouco desengonçado e com o coração acelerado, ele empurrou o homem, que chocou-se contra a parede do outro lado do corredor. Jared passou a correr para a direita; felizmente, acertou a escada. Desceu.

Ao passar pela sala, encontrou seu casaco marrom ali. Sorriu e o pegou; amarrou em volta da cintura de modo a esconder suas intimidades das pessoas na rua. Assim que passou pelo portão, olhou para ambos os lados, tentando reconhecer o local em que estava; infelizmente, não tinha ideia. As casas de madeira, as ruas de paralelepípedo, até mesmo as tavernas eram iguais. Decidiu correr pela esquerda.

Jared chegou a uma rua mais larga e, portanto, mais movimentada depois de passar por várias outras menores, incluindo becos. Estava na rua de sua taverna favorita, onde também morava no andar superior. Parou de correr, pois o marido não estava atrás dele.

Entrou no Ouriço Azul sem hesitar. Não se importava dos clientes verem-no seminu, afinal, não só morava ali, como todos eles estavam bêbados demais para lembrar-se disso, mesmo que ainda fosse o começo da manhã. De fato, para todos eles, a noite não havia terminado. Foi direto para detrás do balcão, onde seu amigo, Ouriço, como era conhecido o taverneiro, limpava alguns copos com um pano húmido sujo.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora