Capítulo 30: A Dama da Máscara

273 29 5
                                    

Nobuyori, Japão

Terra, 903 d.C.

Nobuyori é um feudo governado por um dos nobres mais honestos do país. Seus moradores trabalham apenas dois dias do ano para pagar impostos. Por isso, é uma das cidades mais requisitadas para se morar; todos os dias uma nova pessoa se muda para cidade.

No entanto, nada disso foi o motivo para Minato levar Aihara até a cidade. Suas razões giram em torno da quantidade de soldados que encontraram no caminho: pelo menos cinquenta, em várias patrulhas com números aleatórios de soldados. Minato fazia o possível para sempre matá-los, para que a notícia de sua nova localização não se espalhasse rapidamente.

Suas táticas falharam miseravelmente. Algo sempre entregava suas posições. Não importava onde se escondesse – fosse numa cidade ou no meio de uma floresta qualquer. No entanto, tinha um plano; se a raiva da Dama não o matasse, poderia manter Aihara escondida até descobrir o que realmente estava acontecendo.

Entraram pelos portões da cidade, ele em seu garanhão e ela, com as mãos amarradas pelos pulsos e sendo puxada por ele, em um cavalo que tinham conseguido no meio do caminho. Nenhum dos moradores levantou os olhos para a dupla. Era comum que alguns homens trouxessem servas daquela maneira, principalmente quando as tencionava vender para casas de prostituição.

Minato não parou, nem mesmo quando pedintes imploraram por uma moeda. Foi até a parte mais afastada da cidade, onde as casas deixavam de amontoar-se para dar espaço a fazendas medianas. Nelas, plantações e gado proviam a alimentação do povo de Nobuyori. Continuaram cavalgando, até que as fazendas ficaram para trás e a floresta natural começou.

Árvores altas e de troncos finos ladeavam a estrada de terra, que agora era um pouco maior do que uma trilha. A casa da Dama ficava entre essas árvores, camuflada, imperceptível aos olhos que não sabiam que a casa estava ali.

Prendeu os cavalos em uma árvore, sob a qual uma porção de grama alta serviria para alimentar os bichos; em seguida, ajudou sua prisioneira a desmontar. Puxando-a pela corda em suas mãos, caminharam até a porta; hesitou por um segundo, e então bateu.

Quando se deu conta, estava na sala da mulher. Centenas de pares de olhos de cabeças de animais empalhadas o encaravam, como se ele fosse à caça. A Dama da Máscara o encarava, apesar de seus olhos estarem escondidos atrás de dois riscos diagonais; um grande círculo vermelho enfeitava a testa. Não tinha buracos para boca ou nariz, apenas o branco.

– Minato Tanizawa. – A voz disse; pela rouquidão, deveria ser uma velha de, pelo menos, cento e cinquenta anos. – Você tem que ter bolas de ferro para ousar pisar em minha casa outra vez. – O samurai tentou responder, mas não encontrava a voz; a Dama devia ter feito algo. – Aihara Tai, sinto muito que tenha que aturar esse homem. – Num estalo de dedo, a voz voltou a garganta dele. – Diga, Samurai, o motivo de sua visita.

– Preciso saber por que os soldados imperiais nos encontram com tanta facilidade. – Minato conseguiu dizer, depois de tossir algumas vezes.

A Dama virou-se para Aihara, analisando-a da cabeça aos pés. Ambas suas mãos enrugadas, cheias de calos e dedos duros, quase paralisados, apontando para a menina, que nada dizia ou se mexia. Esperava. Minato, impaciente, começou a bater um dos pés no chão.

– O som atrapalha a ressonância. – Ela retrucou, irritadiça, exatamente como a filha fazia durante as brigas. – Pare. – Minato obedeceu; mais longos minutos se passaram até que ela finalmente voltou-se para o samurai. – Sinto uma magia poderosa vinda da garota, algo que entrega sua localização.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora