Capítulo 29: Profundezas

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Japão, Paraíso

O iate que Hayley havia conseguido para viagem era de porte mediano. Do lado de fora, a ele era branco com detalhes em prata aqui e ali. Dois jet-skis estavam presos ao chão por cordas de fibra e arcos de aço. Parei a moto, que levara dois dias para consertar, logo atrás dele, no píer. Uma palavra à fez voltar para o feitiço em meu braço. Sob a luz da lua, nós entramos.

Por dentro, o iate era detalhado em madeira e metais prateados. Ele tinha dois andares; no de baixo, um corredor com cinco portas, cujas janelas eram redondas; dois pares ficavam nas laterais, e a quinta estava no fim do corredor. Eram quatro cabines suítes e, no fim, uma cozinha pequena. No andar de cima estava a cabine de comando, onde Hayley estudava os controles.

Assim que nos viu, ela abriu um sorriso aliviado. Nos esperava a alguns dias, por isso achava que tínhamos desistido de ajudá-la. Todo o suprimento que precisaríamos para navegarmos até a China estava a bordo. Assim que o motor foi ligado e a embarcação passou a ganhar o mar, meu estômago protestou. Desejei que Thais estivesse ali para fazer o feitiço contra enjoo.

Hayley disse que pilotaria o barco durante a noite, já que ela não precisa dormir tanto quanto nós, almas. Depois de um longo banho, vesti as roupas confortáveis que tínhamos adquirido no caminho até ali e deitei-me sob os edredons confortáveis. Týr deitou-se em um dos travesseiros que estavam sobre a cama; deitada como estava, a fada me lembrava de um gato dormindo; suas pequenas asinhas de libélula estavam dobradas juntas ao corpo, servindo quase como um cobertor transparente e brilhoso. Em poucos minutos, eu estava sonhando.

Diferente de muitas das outras noites nos últimos meses, eu não sonhei com Elena. Contudo, o sonho era de quando eu ainda estava vivo – tanto tempo atrás, que parecia uma verdadeira eternidade. Estava no Colégio Andersen, onde eu tinha estudado durante muito tempo. Eu não estava sozinho – afinal, era um adolescente e, como tal, andava em bando.

Vi Lana sentada em um banco, onde costumávamos fazer as refeições – todas elas, já que se tratava de um internato –, à céu aberto. Pela grande movimentação de alunos na escola, estávamos na última semana de janeiro, quando a maioria dos alunos era deixado por seus pais. A julgar pela ausência de malas em minhas mãos, eu já devia estar hospedado há, pelo menos, um dia; assim como Lana.

Aproximei-me e sentei diante dela. Ela levou um susto e quase caiu do banco. Eu sempre era capaz de pegá-la de surpresa, e ela sempre dava pulinhos como o daquele momento. Na época, eu não sabia o motivo, mas hoje eu era capaz de imaginar que ela agia assim para que ninguém desconfiasse, afinal, uma garota que toma susto com qualquer coisa jamais teria superpoderes elétricos.

– E aí, moça? – Disse, com um sorriso no rosto; se eu estava correto, naquele momento eu já estava apaixonado por Lana fazia algum tempo, afinal, longos cabelos escuros sempre foram minha fraqueza.

– Leo! Finalmente chegou. – Ela respondeu; seu sorriso era de aquecer o coração de um rei gelado. – Faz três dias que eu estou morrendo de tédio!

Com uma piada, eu a fiz rir. E sua risada era a mais bela que eu já tinha ouvido em toda minha vida. Ficamos ali horas e horas conversando, e cada vez que ela sorria, meu coração batia mais forte.

A luz do sol entrando por uma das janelas despertou-me de meu sono de lembrança. Tomei um banho rápido e vesti-me. Até o momento meu estômago estava sob controle – talvez não tenha percebido que estávamos no meio do mar. Isso mudou quando assumi o timão e a imensidão azul tomou minha visão. Consegui ter certo autocontrole nos primeiros minutos, o que foi o bastante para Týr voar até meu ombro e fazer um feitiço.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora