Sidney era a cidade favorita de Jeremy. Adorava a Ópera, o grande centro financeiro e as praias de areia fina e águas cristalinas. A melhor parte, porém, era que seus filhos também amavam o lugar. A mais velha, Graziana, com dez anos, gostava de andar pela praia e mergulhar no mar; ela sempre ficava frustrada que não podia mergulhar com tanque de oxigênio para ver as maravilhas do fundo do oceano. Enquanto o mais novo, Carl, de oito, vivia pela sua coleção de carros; adorava montar e desmontar um modelo que tinha um pequeno motor e andava de verdade, apesar de não passar de 10 km/h.
Ambas as crianças eram a única coisa boa que tinha saído de seu casamento frustrado de cinco anos com a cantora de ópera italiana Gianna Paoli, que havia feito sucesso durante os anos 40. Mas que nos últimos anos, com apenas trinta e poucos anos, havia dado uma pausa em sua carreira para criar os filhos. Todavia, agora ela planejava um retorno aos palcos, ali, em Sidney.
Jeremy estava ali para assistir esse retorno. E para ter um tempo de qualidade com seus filhos.
Cada um deles estava segurando uma de suas mãos, caminhando pela praia. O coração de Jeremy se aquecia apenas de sentir os dedinhos pequenos dentro de suas palmas calejadas devido aos anos virando os volantes de carros, que pesam toneladas. Gostava da sensação de saber que eles dependiam dele; que o viam como um protetor. Sempre que estava com eles, não parava de sorrir.
– Você vai conseguir. – Sua filha disse de repente, contudo, havia algo de sombrio em sua voz, ou poderia ser apenas cansaço.
– Do que está falando querida?
– Você sabe. – Seu filho retrucou; sua voz também parecia cansada.
– A corrida do mês que vem no Egito? – Jeremy deduziu, mas algo dentro de si dizia que não tinha nada a ver com seu carro ou o deserto que percorreria.
No passo seguinte eles estavam na rua, caminhando paralelo à praia, mesmo que no passo anterior estavam quase com os pés molhados de água salgada. Seus filhos fizeram-no parar; quando se voltou para ver o que acontecia, Jeremy quase caiu para trás. Os olhos de ambas as crianças estavam pretos onde deviam ser brancos, e laranja no lugar da pupila e da íris. Jeremy recuou um passo para trás.
– Não, não a corrida. – Eles disseram ao mesmo tempo, na mesma voz rouca e sombria. – Você consegue mantê-los fora.
Quase como se tivessem combinado, milhares de pessoas vieram correndo na direção deles. Eles corriam juntos, quase em sincronia, parecendo uma única onda de pessoas. Foram parados de repente, como se se tivessem chocado contra uma parede invisível. Ao mesmo tempo, ele sentiu o impacto em sua mente, a enxaqueca começou imediatamente.
– Concentre-se. Mantenha-os longe. – Suas crianças diziam.
Levou a mão ao nariz, pois sentira um líquido correndo dele. Imaginou ser sangue, mas era estranhamente laranja, quase como um molho de pimenta caseiro. A dor era tão grande, que, aos poucos, ele ajoelhou-se; as duas mãos na cabeça. Sentia todas as pessoas batendo desesperadamente contra a parede invisível. Sentia como se batessem direto em seu cérebro.
– Não os deixe entrar!
Contudo, a parede invisível partiu-se e as pessoas retomaram a corrida. Jeremy esticou ambas as mãos para os lados e sentiu-as formigar, quase como se correntes de eletricidade passavam por de baixo de sua pele. Gritou; não de dor ou de medo, mas de determinação.
Um semicírculo de eletricidade amarela surgiu a dois metros dele, e esse poder manteve as pessoas fora. Os rostos de seus dois filhos assumiram um tom de surpresa, como se não esperassem por aquilo. Jeremy, mesmo com a cabeça explodindo e sentindo os braços esquentarem tal qual um forno a lenha, sorriu por causa de seu pequeno momento de vitória.
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Afterlife: Heartless
Fantasy"A Morte tem seus planos, e sei que em nosso segundo encontro, nem tudo foi revelado. Algumas peças ainda estão faltando, e eu sou aquele que está próximo o bastante para descobrir. Mas... Por quê? Ela... Ela se foi. Presa em sua própria falta de co...