Capítulo 14: Nativos da Ilha

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Quando Nakṣatra, Nak para encurtar, voltou no dia seguinte, ela trazia outra fruta que Jared nunca tinha visto antes. Essa, porém, ela comeu com casca e tudo. O nome dessa era completamente impronunciável, por isso ele nem tentou, apenas sinalizou negativamente com a cabeça – aparentemente, não importa o lugar do mundo ou qual cultura, balançar a cabeça horizontalmente era um sinal de negação.

Nak tentou ensinar mais palavras. Apontou para o sol e o chamou de Kanaí; então, para o mar, e o chamou de Ican. As palavras pareciam pouco a pouco fazer sentido na cabeça de Jared, mesmo que ele precisasse de concentração extra, pois mal conseguia desviar o olhar do corpo da garota.

O dia passou rápido. Ela foi indicando mais e mais frutas para comer; já à noite, ela partiu, deixando Jared praticamente de coração partido. A noite foi longa, pois não conseguiu pregar os olhos nem por um segundo. Queria a companhia da garota, apenas não sabia se era por ter sentimentos por ela ou por causa da solidão.

Na manhã seguinte, Nak voltou ainda mais radiante. Ela usava um top grosso, de algum tipo de material rústico que ele não saberia nomear; algo que parecia seda cobria sua barriga, mas era semitransparente. As calças, ele tinha certeza, eram de algodão. Nak tinha com ela uma caneca de madeira com vários desenhos de símbolos que ele não conhecia. Preso por uma corda de couro e pendurado ao lado de sua cintura, ela tinha um cantil do mesmo material do top.

Ela indicou para que ele ficasse parado, com o copo na mão. Então, sem movimentos bruscos, ela pegou uma das flechas da aljava que estava pendurada às costas dele. Por aquele momento, seus rostos ficaram extremamente próximos; ele sentiu o calor dela e lutou contra o instinto de agarrá-la ali mesmo, rasgar suas roupas e a possuir. Um mês tinha se passado desde que ele sentira o calor de uma mulher; provavelmente as quatro semanas mais longas de sua vida.

Nak desenhou uma circunferência na areia de quase um metro e meio de diâmetro. Em seguida, desenhou outro bem em volta dos pés dele. Por fim, desenhou símbolos parecidos com os que haviam no copo, apesar de não serem os mesmos. Ainda sinalizando para que ele não se movesse, ela abriu a tampa do cantil e serviu seu corpo com um líquido limpo como água, porém azul brilhante, muito parecido com as luzes estranhas que cercavam a ilha. Por um momento, ele resmungou de medo, sem entender. Ela, então, imediatamente bebeu do cantil, sinalizando que estava tudo bem; poderia beber.

Jared levou o copo até a boca e bebeu. O líquido tinha um gosto açucarado, mas, ao mesmo tempo, havia certa acidez que fez sua garganta reclamar um pouco. Então, ela começou a fazer uma dança em volta dele, enquanto recitava palavras e palavras desconhecidas, mas que, sonoramente, rimavam. Os símbolos e círculos desenhados na areia começaram a brilhar, também em azul. Ele tentou fugir, mas estava preso.

Pouco a pouco, as palavras, antes estranhas, começaram a fazer sentido em sua cabeça. Ele pegou um significado ali e outro aqui, até que finalmente, quando parecia que ela tinha atingido o final do ritmo, ele entendeu uma frase inteira:

Tu irás entender as palavras ancestrais do povo atlântico.

– Nakṣatra – ele finalmente conseguiu encontrar a voz para dizer – o que está a acontecer?

– Eu usei um pouco da água do Poço do Entendimento e alguns feitiços para que pudéssemos conversar sem precisar de gestos ridículos. – Ela respondeu; ele quase caiu para trás ao perceber que ela estava falando inglês, assim como ele.

– Tu... Estás a falar o meu idioma materno!

– Não, Jarak. Você está falando o meu. – Ela sorria, mostrando dentes impossivelmente brancos.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora