Capítulo 08: Señora

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Terra

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O frio da água, suas roupas molhadas subitamente e o conforto de Jared em seu sonho de belas mulheres, fez seu despertar completamente súbito e terrível. Ele tentou abrir os olhos, mas o sal da água o impediu. Respirou fundo, mas o ar não entrou em seus pulmões de uma vez; desesperado tentou outra vez, o ar entrou devagar, desesperando-o. Assim que ele foi capaz de respirar normalmente, ele viu três homens.

Aquele que estava no meio, lançou um balde de madeira para o lado, enquanto outros dois, que fediam a peixe, mas fortes como touros espanhóis, pegaram Jared pelos braços e o arrastaram convés acima; suas pernas, sem vida, praticamente limpando o chão enquanto ele passava.

Subiram alguns lances de escadas, até que o sol tocou em seu rosto. Ele franziu os olhos com a nova luz que feriu seus olhos. Vozes vinham de todas as direções; ele viu borrões de silhuetas em todo o seu redor, e, assim que se deram conta dele, o barulho parou. Jared percebeu que ele agora era o centro das atenções. Ele foi jogado contra o chão, mas felizmente, conseguiu virar-se de lado e impedir que sua cabeça não batesse na madeira maciça.

Aos poucos, sua visão foi se acostumando a claridade. Tentou olhar em volta, mas não conseguiu distinguir qualquer um dos rostos; sombras escondiam-nos. O barulho pesado de botas veio na sua direção; ele olhou para cima e para frente, de onde elas vinham. Um homem de olhos escuros, barba farta e castanha, e uma espada na cintura encarava-o de cima.

– Capitão, nós encontramos um clandestino. – Uma voz aguda e rouca, ao mesmo tempo, reportou. – Ele estava dormindo entre os suplementos.

– Levantem-no.

– O capitão ordenou; os dois brutamontes fedorentos levantaram-no; Jared teve certa dificuldade, a princípio, de ficar ereto, mas logo suas pernas firmaram-se.

– Qual é o teu nome, rapaz? – Estranhou tanta gentileza daquele homem; marinheiros costumam jogar clandestinos para fora do barco imediatamente.

– Blackwood, senhor. Jared Blackwood.

– Um inglês, não? – Ele informou. – Diz-me, o que estás a fazer no meu navio?

– Eu tive um problema na cidade, então meu amigo, Ouriço... Digo, Jensen, conseguiu-me uma passagem segura para Veneza nesse navio. – Contou a verdade, não tinha motivos para mentir.

– Veneza? – O capitão disse, em voz alta para os marinheiros ouvirem, em tom zombeteiro; todos começaram a rir em volta dele. – Desculpa te informar, rapaz, mas este navio não vai para Veneza.

– Não? – O coração de Jared acelerou de repente. – E para onde estão a ir?

Ele abraçou os ombros do clandestino com força, e o empurrou aos poucos em direção beirada do navio, em uma das partes mais altas. Assim que estavam no topo, o capitão indicou o oceano à frente deles e, ainda mais, outras três caravelas. Eram grandes, para comportar mais de trinta ou quarenta pessoas – Jared não era exatamente grande conhecedor das artes da navegação.

– Aquela, a que está mais a frente das outras e que tem a maior vela, é a Santa Maria. A da esquerda é a Pinta e a outra, com a vela detalhada em vermelho e dourado, é a Niña. Nós somos parte da frota pertencente ao Almirante Cristóvão Colombo. – Ele tinha um sorriso tão grande, que era impossível para Jared não perceber que ele tinha orgulho de ser parte daquela frota. – E tu está a bordo da Señora. Nós estamos a ir para as Índias.

– Merda. – Foi a única palavra que saiu de sua boca durante alguns minutos. – E faz quanto tempo que estamos a navegar? Dependendo, eu posso pegar um dos botes e voltar para a Europa.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora