Brooking, Oregon
Paraíso
Quando deixamos Luna Pier, no Michigan, imaginei que encontraríamos dezenas de Filhos do Abismo, ou outros anjos cujas asas haviam sido arrancadas; no entanto, não encontramos qualquer problema – de fato, nem mesmo um grupo de Filhos desgarrados como aqueles que Thais e eu ouvimos quando buscamos suprimentos. Atravessamos oito estados norte americanos, e todos eles estavam desabitados, ou pelo menos, nas cidades por onde passamos. Levamos quase uma semana para chegar até ali, pois parávamos de tempos em tempos para comer, esticar as pernas e descansar – e, no meu caso, ficar um pouco longe de Jared, que simplesmente me dava nos nervos.
Jared até que era um cara legal, exceto quando ele costumava falar das mulheres com quem dormira quando era vivo. Parecia estar contando vantagem. A pior parte, porém, era que ele ficava o tempo todo dando em cima de Lana, tentando conquistá-la, e nisso, ele tentava mantê-la longe de mim. Isso me irritava. Também, ele costumava fazer piadas sobre tudo, no começo, até que eram engraçadas, mas quando você está há três dias na estrada, cansado e com fome, tudo que você quer é sossego, e Jared não percebia isso.
Escolhemos Brooking, em Oregon, por ser uma região costeira, além de ter portos com navios capazes de atravessar o oceano. Já era noite cheia, passara da meia noite, e por isso nós decidimos ficar em uma casa grande, com quartos o bastante para cada um de nós individualmente. Ficaríamos ali durante todo o dia seguinte, afinal, a partir dali, a viagem seria por barco – e só de pensar, senti meu estômago embrulhar. Thais teria muito trabalho durante a jornada até o Japão, onde estava Minato Tanizawa.
Desde meu segundo encontro com a Morte, eu já havia encontrado dois dos sete que ele tinha escolhido – Thais ser uma dessas pessoas foi pura coincidência – e por nenhum desses, eu tive uma ansiedade verdadeira de encontrar. Até agora.
Eu era fascinado por mangás quando era vivo, até mesmo, colecionava vários e vários títulos diferentes. Consequentemente, eu adorava a coisas que vinham do Japão, como ninjas e samurais, mas confesso que nunca tinha pesquisado qualquer coisa mais profundamente a respeito desses personagens tão famosos da cultura oriental. Independente disso, fiquei ansioso quando me dei conta de que conheceria um samurai de verdade, tudo bem que ele era um dos últimos que existiram, mas não importava.
Outra coisa que me fez ficar assim foi o sobrenome dele. Tanizawa. Esse nome me era familiar, apesar de não ter certeza de quem. Era bem provável que o nome pertencia a algum de seus colegas do Colégio Andersen, mas ninguém com quem conversava muito. Indiferente, fico imaginando se Minato não era o ancestral dessa pessoa; se fosse, o encontro seria muito mais interessante do que previamente imaginei.
Após fazermos uma refeição rápida, cada um tomou seu banho e deitaram para dormir. Deitei na confortável cama de solteiro e cobri-me com uma coberta macia. De um lado para o outro, virei-me, sem conseguir encontrar o sono, apesar do cansaço. Apenas quando vi a luz vermelha do sol entrando pela janela foi que consegui pregar os olhos. E minha mente foi tomada por sonhos.
Eu vi três Filhos do Abismo sentados em volta de uma fogueira. Todos eles estavam em silêncio e uma aura de tensão pairava sobre suas cabeças, como se eles tivesse perdido alguém importante. Meu ponto de visão começou a girar por cima deles, posicionando-se diante da única mulher entre eles. Assim que ela levantou os olhos a reconheci imediatamente.
Hayley.
Seu rosto, porém, estava sujo e manchado, como se ela tivesse se esgueirado na terra e chorado muito durante o processo. Lembrando-me da conversa que tive com ela em Londres, eu deduzi que os que estavam presentes com ela ali eram seus irmãos, Filhos do Abismo que tinham jurado lealdade a ela e que não queriam lutar. Ela me dissera que tinha dois irmãos raptados por Kane, então aqueles dois, só poderiam ser os outros que estavam livres.
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Afterlife: Heartless
Fantasy"A Morte tem seus planos, e sei que em nosso segundo encontro, nem tudo foi revelado. Algumas peças ainda estão faltando, e eu sou aquele que está próximo o bastante para descobrir. Mas... Por quê? Ela... Ela se foi. Presa em sua própria falta de co...