Capítulo 43: O Chamado Heartless

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Salão de Prata

Kifo andara para todos os lados daquele imenso e escuro salão. Tirando as cadeiras que ele tinha convertido em uma cama para si, nada mais existia ali. Vizard estava caído alguns metros atrás; seu corpo cheio de marcas de tortura e outros hematomas. O Filho da Morte o tinha torturado, socado e cortado; ameaçou selá-lo milhares de vezes, mas nada adiantou. Ele sabia que Kifo não podia fazer muita coisa contra ele, pois, se Vizard fosse selado, seu exército nunca poderia jurar lealdade ao outro; precisava dele vivo, e o Senhor de Guerra sabia.

O Filho da Morte tinha um plano. Para fazer com que os jurados de Vizard obedecessem a suas ordens, teria que fazer o Senhor de Guerra jurar lealdade a ele. Assim, ele teria o maior dos Senhores como seu principal servo; depois, faria o mesmo com Abigail e Kane. Contudo, as coisas não saiam como planejado; de fato, o único do seus planos que dera certo fora o de ir ao Duat. Todos os outros haviam falhado, até mesmo seu ataque em Nova Jerusalém.

Apenas um milagre poderia reverter à situação. E esse tipo de coisa vinha apenas de seu inimigo.

Kifo tinha a habilidade de entrar e sair da memória coletiva dos Filhos do Abismo sempre que desejasse e que fosse conveniente aos seus planos. Todavia, o silêncio daquele lugar era avassalador; nem mesmo conseguia conectar-se a Vizard. Era um pouco frustrante.

Outra vez irritado, ele andou em círculos algumas vezes pelo Salão. Ele queria algo para socar, queria destruir os tronos – ele já tinha tentado; eram inquebráveis. Poderia bater em Vizard até quebrá-lo totalmente, mas não ganharia nada com isso. Parou de repente e deitou no chão; frustrado.

– De todas as maneiras que eu achei que te encontraria, deitado feito um mortal não era uma delas. – Uma voz disse; olhou em volta.

Um homem loiro e mais belo do que qualquer alma viva ou morta em qualquer um dos mundos pareceu surgir junto a eles. Seus olhos azuis eram como o céu após um furacão de verão. Eram bondosos e cheios de esperança, mas a qualquer momento uma nova tempestade poderia atacar. Kifo nunca o tinha visto antes, mas ainda saberia dizer quem ele era; o Paraíso era repleto de histórias sobre ele.

– Quem é você? – Ele falou em voz alta; Vizard estava sentado, de pernas cruzadas, como um Buda; ele não pareceu se incomodar com a inesperada visita.

– Meu nome não é de qualquer importância para você. – Ele retrucou. – Pode chamar-me como todos os outros me conhecem: Lúcifer. – Ele sorriu maliciosamente; e aquele sorriso combinava perfeitamente com seus olhos.

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O silêncio era desastrosamente horrível. A escuridão em sua mente parecia que engoliria todo o seu ser. Vizard estava adorando. Podia pensar em si mesmo; pensar em seus planos e o que faria depois que saísse daquela derradeira prisão. Sabia que sairia. Kifo não desistiria de conquistar o Paraíso e, com certeza, o levaria junto, afinal, ter o exército do Senhor da Guerra era seu principal objetivo.

Queria ver Rouen outra vez. Queria abraçá-la e beijá-la. Precisava desesperadamente ver seu rosto outra vez, mesmo que isso significasse sua própria condenação.

O único problema era que esse sentimento pertencia a Caleb.

Graças à ausência dos outros Filhos, a alma que ele possuía estava aos poucos retomando sua força, despertando do sono que há bastante tempo usufruía. Cada vez estava mais forte; logo, seria capaz de controlar-se novamente. E o Filho do Abismo não sabia se isso era bom ou extremamente terrível.

Quando seu companheiro de cela falou sozinho – algo que era mais comum do que Kifo admitiria – Vizard simplesmente o ignorava. Havia perdido o interesse de torturá-lo dias atrás. O Senhor de Guerra não tinha o que perder ali; Kifo não tinha o que tomar. Não havia por que dar o que ele queria.

Afterlife: HeartlessOnde histórias criam vida. Descubra agora