Nova York, Paraíso
O dia seguinte foi gasto apenas com treinamento. Lana e eu trocamos golpes, e eu tomei menos choque. Talvez o alívio de ter colocado para fora tudo o que tinha acontecido com Elena me deixou mais concentrado; eu era capaz de ver com mais clareza onde ela atacaria, quando usaria seu poder ou quando o soco era convencional. Contudo, eu ainda estava longe de vencê-la.
Em um desses momentos em que eu bati a cara na lona do ringue, eu vi meu avô parado em uma das esquinas, observando tudo. Assim que ele percebeu que eu o olhava, ele sorriu como se achasse graça de minhas derrotas vergonhosas.
Eu ainda não tinha acostumado ver meu avô com quarenta anos, considerando que as poucas lembranças que tenho dele, ele era um velho de cabelo branco e costas encurvadas. No entanto, ali estava ele, com uma pequena linha de expressão na testa e uma ruga quase invisível ao lado dos olhos. Ele também estava em boa forma, com os músculos bem definidos e maiores do que seriam em seu estado natural.
– Lana, Taavi quer falar com você. – Ele falou para minha ex-namorada.
Lana deixou o ringue, pegou uma toalha para secar o suor e uma garrafa de água. Foi estranho vê-la tendo reações de um corpo físico já que ela era uma alma. Entretanto, quando eu cheguei ao Paraíso, os Heartless não apenas recuperaram suas memórias, como, aos poucos, recuperaram reações de um corpo mortal. Batimentos cardíacos, suor e cansaço.
Isso aconteceu por causa de minha conexão com eles. Mesmo eu não tendo os poderes de um, eu ainda estava conectados a eles pelo sangue.
– Você está ficando bom em enfrentar um Heartless de Eletricidade. – Ele, para minha surpresa, entrou no ringue. – Mas como se sai contra um de Água? – Vô Ben tinha um sorriso esperto no rosto.
Antes que eu pudesse me dar conta de que iria lutar com ele, um jorro de água veio pela minha lateral e me atingiu no ombro, me jogando de lado no chão. Levantei, um pouco irritado e com dor. Avencei contra ele antes que pudesse me atacar outra vez, no entanto, eu não consegui alcançá-lo. Um cinturão de água me envolveu e me jogou do outro lado.
Durante as horas seguintes, eu descobri que era muito difícil chegar perto de um Heartless de Água. Ele tinha um estilo rápido e imprevisível, mas ao mesmo tempo fluído, como um verdadeiro rio. Centenas de vezes me senti frustrado por se quer acetar um soco nele, mas seu estilo era um de longa distância.
Eu parei, ofegando. Aquela não era uma luta que eu venceria pela força bruta, mas sim com inteligência. Claro que tendo um estilo de longa distância, sua fraqueza era combate a curta distância, mas a questão era atingi-lo. A fluidez de seus movimentos era sincronizada com a água que ele manipulava. Se eu pudesse avaliar os padrões e descobrir onde atacaria em seguida, eu seria capaz de chegar até ele. Infelizmente, como uma pessoa que não tinha muita experiência própria em combatente eu não sabia detectar esses padrões – exceto se eu estivesse com minha espada encantada, o que não era caso.
O segredo também estaria em movimentar-me imprevisivelmente, usar os arredores, usar a elasticidade das cordas do ringue, como faziam aqueles lutadores de luta livre. Obviamente, eu falhei miseravelmente. Meu avô morreu velho, em outras palavras, ele tinha anos e anos de experiência lutando contra anjos Caídos. Minhas chances eram menores ainda considerando que eu nunca tinha lutado contra alguém usando água como arma.
Por fim, joguei a toalha. Estava cansado de apanhar.
Meu avô me levou para os andares superiores – o que significava que estávamos mais perto do solo, já que a base dos Heartless ficava no subsolo –, até um salão imenso onde eles faziam as refeições. Depois de pegarmos nossas comidas, sentamos um pouco isolados dos outros.
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Afterlife: Heartless
Fantasy"A Morte tem seus planos, e sei que em nosso segundo encontro, nem tudo foi revelado. Algumas peças ainda estão faltando, e eu sou aquele que está próximo o bastante para descobrir. Mas... Por quê? Ela... Ela se foi. Presa em sua própria falta de co...